quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Ideologias e seus Impactos no Brasil de 2015 a 2018

 

 Este texto é uma adaptação de meus "comentários" nas redes sociais entre os anos de 2015 e 2018

Etimologia na Economia e na Política 

Vamos considerar que o povo está interessado em entender e esclarecer sobre política e ninguém está simplesmente querendo provar que está certo sem dar o braço a torcer... Não é preciso especialização, só linguagem clara, ou seja o uso da etimologia das palavras, para explicar de modo resumido: 

Liberal-Ismo: Doutrina (centrada) na liberdade, principalmente a liberdade de comércio. 

Esta doutrina ganhou força ao se contrapor às monarquias no final do século XVIII (18), prometendo maior liberdade ao “povo”, mas favorecendo os comerciantes mais enriquecidos, é claro. O liberalismo não definiu onde acaba a liberdade dos comerciantes e empresários bem sucedidos, mas supondo que não foi um movimento extremista, o liberalismo deveria prezar pela concorrência de mercado clara e justa, sem oligopólios, respeitando leis comerciais, ambientais etc. Porém não foi o que aconteceu: a colonização escravagista seguida pela industrialização apoiada em mão de obra barata gerou uma desigualdade social onde os poucos mais ricos juntaram quantidades de riquezas suficientes para sustentar milhares de famílias por várias décadas, talvez por um ou dois séculos. Já os mais pobres neste sistema, além de não terem renda para viver com dignidade, cresceram muito em número. Resumidamente, seus maiores apoiadores foram a Inglaterra, os EUA e países "aliados", desde o fim do século XVIII até o fim da guerra fria no século XX (20). 

Social-Ismo: Doutrina (centrada) na sociedade, resumidamente em um estado ou nação. 

Este movimento político/ filosofia foi ganhando força no final do século XIX (19), mas só se consolidou no século XX. Seus apoiadores eram críticos do liberalismo que havia fomentado tanta desigualdade e miséria, beneficiando apenas pequenas parcelas do setor privado. 

O que aconteceu em muitos países que adotaram este sistema (como a URSS), foi que os representantes da nação se comprometeram de "achatar a economia", ao menos em partes através de estatizações, fornecendo uma "infla" estrutura que falhou por uma série de motivos. Houveram casos de incompetência de gestão pública, mas o fator principal foi a concentração de poder nos "representantes do povo" que obviamente corrompeu o estado. Este sistema concorreu com o liberalismo desde 1946 até 1991, quando foi derrotado pela doutrina (neo) liberal com o fim da guerra fria e a dissolução da URSS. 

Comun-Ismo: Doutrina (centrada) no bem comum, ou seja, maior equidade / igualdade de poder além (acima) do conceito de estado/nação. Uma utopia, a qual os países mais próximos disto são alguns dos sociais democratas onde a diferença de renda é mínima. O comunismo nunca foi implementado em país algum. 

Neo Liberalismo: Liberalismo "novo", incentivado entre os anos de 1986 e 1991, pelas instituições financeiras e corporações que não quiseram perder suas fortunas : O neoliberalismo passou a propor que os governos investissem cada vez menos nas estruturas básicas (infraestrutura) de suas nações. Alegando que todo governo é corrupto, que todo setor público é ineficaz, e maliciosamente chamando investimento em infraestrutura de "gastos públicos", o neoliberalismo propôs financiar diversos setores e ações, objetivando lucro ao setor privado composto por corporações/ grandes empresas multinacionais. 

Em prática, neoliberalismo é o "Capital-Ismo" sem regulação, ou seja, selvagem. Mesmo porque, etimologicamente o capitalismo é a doutrina do capital, onde quem tem mais dinheiro ou mais recursos, tem mais poder: "Sugere" leis (lobby), "financia" (compra) políticos e prega para que todos busquem seu próprio acúmulo de capital (meritocracia). 

Porém dinheiro não é produzido infinitamente para alegria de todos, pois há o lastro. E aqueles que realmente se beneficiam deste sistema não querem acabar com o lastro, é óbvio... 

Invenções Repetidas 

No século XII a.C (12 antes de Cristo), após as guerras que causaram a destruição dos registros das relações reais e religiosas e do sistema comercial em torno do Mar Mediterrâneo e do Levante, alguns poetas gregos simplificaram e distorceram a história das civilizações (micênica, hitita, cananéia etc), digamos que, de certo modo, criando a mitologia: Os "deuses" impulsivos traiam, matavam, enganavam, mas gostavam dos mortais. Mortais que passaram a venerar esses "heróis". Já os titãs, os gigantes e feras monstruosas eram responsáveis por tudo de ruim que acontecia no mundo. 

A história se repete e os mais ambiciosos e corruptores continuam evitando mostrar suas faces. Só inventam heróis e vilões. Embora exista a tendência das pessoas praticarem o "culto às personalidades" (idolatrar famosos), na política do Brasil é muito mais comum inventar super-vilões: De tempos em tempos pegar um ou outro indivíduo (geralmente político) e culpá-lo por tudo o que acontece de ruim no país. Isto faz parte do discurso anti-política, que acaba sendo anti democrático também. Tal discurso só favorece quem tem mais poder, geralmente poder econômico (dinheiro, bofunfa, grana...) 

O brasileiro médio (que ganha um salário mínimo) têm que trabalhar, cuidar da família, pagar impostos e cumprir com suas obrigações cívicas, então tempo para fazer política, se instruir e para participar de debates, não têm. 

Os típicos brasileiros acordam cedo, se espremem suados em péssimas conduções públicas, se alimentam mal e chegam a altas horas da noite da labuta diária, para, depois, serem chamados de vagabundos por escravagistas endinheirados, meganhas, bandidos ou governantes que não lhes permitem aposentar. 

O que entrou no governo pós 2015? 

Durante o governo federal mais"esquerdista" (petista) a tomar posse no Brasil, o país ficou com rabo preso ao oligopólio financeiro, (BB, CEF, Bradesco, Itaú/Unibanco, Santander e mais um banco gringo que não me lembro agora) através de uma dívida pública exorbitante. 

Um governo socialista, popularmente chamado de esquerdista e erroneamente chamado de comunista, jamais se sujeitaria a tal situação, então os governos petistas foram no máximo de centro-esquerda, devido a algumas iniciativas sociais (bolsa-família, PROUNI etc). 

Meses antes do show "evangélico" (o impedimento, ou "impeachment", de Dilma Rousseff do PT, o Partido dos Trabalhadores), regado por frases do tipo: "Por Deus, pela família" e blablablá), a líder petista, já discursava a favor do mercado. 

Mas era muito tarde para Dilma se curvar diante "o mercado" e a presidência do Brasil foi assumida por um senhor claramente oportunista do "Partido do Movimento Democrático Brasileiro": Michel Temer guinou o país a direita, chegando a falar abertamente em algumas entrevistas que o PT foi removido do poder através de um golpe porque não aceitou a agenda privatizadora e anti infraestrutura solicitada por certos setores privados, como a Chevron, entre outras grandes empresas. 

O PMDB, um partido que praticamente age como bancada de negócios, fez o previsto: Deixou de arrecadar impostos dos grandes empresários multimilionários, sucateando a infraestrutura do Brasil. Afinal o que esperar desse povo pró oligopólio, pró obscurantismo? 

Retrospectiva "Temerosa"

Uma famosa emissora de televisão pertencente a uma tal família Marinho, fez a seguinte Retrospectiva da virada de 2017 para 2018: 

"12 milhões de desempregados, o governo atual (Temer - PMDB) aumentou os gastos e arrecadou menos impostos deixando os cofres públicos vazios" 

E a pérola contraditória em seguida: "... a gastança dos anos anteriores (Dilma - PT?) foi que deixou o país em crise". Assim seguiu a desinformação em massa: Deu a entender que apesar dos erros grosseiros e da corrupção do presidente Temer, o super vilão inventado pela Globo foi a Dilma e/ou o Lula, que presidiram o Brasil antes do PMDBista. 

MBL: Movimento "Brasil Livre" - Livre de que? 

 Integrantes do MBL saíram em fotografias apoiando políticos como Eduardo Cunha e Bolsonaro (que parece uma terrível mescla de Bozo com Nero). Suspeito de uma série de crimes, Cunha foi preso em 2016, então o MBL "descobriu" que o cara era corrupto até o osso... 

O MBL apoiou a posse do Temer e quando descobriram em 2018 que o ex-vice estava atolado em esquemas fraudulentos, passaram a fingir que eram neutros. 

O MBL fez eventos com Gilmar Mendes, que defendeu o suspeito Aécio Neves (PSDB) até cansar e posicionou-se contra a bombástica delação da Odebretch... 

Como acreditar que o MBL é um movimento pelo BEM do Brasil? Para mim é impossível.

O Movimento Brasil Livre (MBL), deveria mudar seu nome de acordo com seus ideais: É um movimento de indivíduos de classe média alta que abominam as causas sociais, desprezam a infraestrutura do Brasil e seguem interessados em ganhar poder e influência na política. Para isso espalham mentiras sobre seus desafetos políticos, tentando esconder o fato que eles também se envolvem em esquemas de fraude e corrupção. Poderia se chamar Movimento Boataria Livre ou um nome mais feio, representando seu envolvimento em "sujeira" (fraudes, falsidade ideológica, propaganda enganosa, crimes etc). 

Lado na Política 

 Acabei de mostrar que o discurso antipolítica tem um lado - sempre serve a alguém. E este alguém não é a maioria: se refere a uma minoria detentora de um poder não político, ou seja, o poder econômico, o poder religioso e o poder militar. Isto não ocorre só no Brasil, pois também acontece em outros países, como nos EUA, onde o candidato republicano (de direita) Donald Trump venceu as eleições com discursos racistas que jogavam a culpa dos problemas dos EUA em latino americanos e em muçulmanos. 

Portanto quem grita "foda-se a política" elege Trump e quem acredita em conspiração "latina-comunista" também elege Trump sim, caros leitores! Quando as pessoas destroem o centro e a esquerda sobra somente a direita hiper capitalista, ignorante, xenófoba e antipolítica. 

Instituição Anti Infraestrutura 

Durante o governo Temer, propagandas mentirosas de teor anti-político circularam livremente pela internet: "Se você é contra o limite de verba para infraestrutura, você é contra o Brasil." 

Isto é a tradução da estranha petição da Empiricus que espalhou-se da Folha de São Paulo ao Facebook. Como já mencionei, os grandes empresários multimilionários e seus apoiadores e porta-vozes, chamam verbas para infraestrutura de "gastos públicos". Foi assim que o neoliberalismo pregou a austeridade, destruindo transportes públicos. sucateando instituições de saúde e ensino gratuitos e até mesmo desfazendo setores de segurança pública em variados países pelo mundo, desde o início dos anos 90. 

Valentia um tanto Covarde 

Embora o termo valente seja usado para definir uma pessoa corajosa, o mesmo não se aplica ao termo "valentão". Este termo está mais próximo da palavra inglesa "bully". O valentão não é uma pessoa corajosa: É o que gosta de agredir os outros. 

Este tipo de pessoa é comum de se encontrar, e existem inúmeros relatos sobre eles principalmente em escolas. Na verdade o valentão está mais para covardão: é o típico cara fortão que sai procurando brigar com o mais fraco, ou pode ser aquele cara que se junta com outros para agredir alguém que está sozinho. 

Posso dizer que tenho a experiência empírica em ser alvo deste tipo de gente, como por exemplo, lembro-me que quando eu estudava na 5ª ou na 6ª série do ensino fundamental, dois caras se juntaram e foram me socando por um quarteirão todo. Aquilo ficou na minha mente por alguns anos e obviamente é uma situação em que nos sentimos indefesos, impotentes e forçosamente humilhados. 

Além do ambiente escolar, onde este tipo de valentão pode prosperar na sociedade? Viver com oportunidades para provocar, humilhar e agredir os outros exigem um ambiente onde a paz não seja bem vinda, ou exige um ambiente onde o confronto seja comum - Ou o cara entra no "mundo" do crime, ou na polícia, ou no exército. 

Não há espaço para um valentão nas áreas práticas (profissionais) de humanas, sequer nas biológicas ou nas exatas. O valentão não vai se satisfazer construindo, nem estudando, afinal ele precisa mostrar que é melhor que alguém, agredir alguém, ou ambas as coisas. 

Daí o porquê é tão comum vermos casos de violência policial e notícias sobre criminosos violentos. Daí o porquê um cara que odeia estudar, odeia negros, odeia mulheres, odeia o público LGBT e que fala em metralhar os outros, ganha as eleições. Em 2018, muita gente achou que estava votando em um capitão que ia "por o Brasil nos eixos" na base da valentia. Como um grosseiro e bizarro herói - anti-herói. 

Essa "valentia" vem da formação da pessoa. Independente se você acredita em personalidade ou não, o fato é que a criação e a vivência das pessoas essencialmente determinam padrões de comportamentos. O comportamento valentão foi cultivado por décadas, ou talvez, durante séculos, seja no Brasil, ou em outros países. O fato é que no Brasil, este é o comportamento adorado e propagado em certos ambientes e "tribos sociais", como fazendeiros, homens do interior, em cursos superiores elitizados como medicina, engenharia e direito, em quartéis, na polícia, no tráfico etc. 

Pouco ou nada foi feito para combater este "ensino" torpe que se propagou por diversos setores da sociedade... Até que em 2018 colhemos o fruto podre no Brasil. 

Conclusão 

É possível combater o elitismo e o culto à violência... com mais violência? 

Não faz sentido. A direita que sempre serviu o elitismo está no poder brasileiro desde 2015 (fora governos anteriores ao Lula etc). Não houve melhoria alguma desde então. Eles se apoiam em falácias e têm o apoio da mídia e do poder militar. As críticas feitas ao governo Bolsonaro, por mídias como a rede Globo, são meras cortinas de fumaça. Enquanto SBT e Record apoiam abertamente a demolição da infraestrutura e os discursos brucutus de valentia do governo "Bozo-nero", a Globo apenas tenta abraçar as causas identidárias, fingindo uma aliança anti governo. 

É preciso paciência para instruir quem ainda quer entender e melhorar o país... e é preciso militância sim, seja pró infraestrutura, ou a favor dos mais vulneráveis. Mas é preciso união entre estes setores. Pode parecer coisa de uma "esquerda florida", mas não é tempo de generalizações: Não deve-se odiar todos religiosos porque alguns apoiam o governo bozo-nero. Não é útil criticar o movimento anti-racista só porque alguns negros enriqueceram e vivem "entre as elites". É preciso identificar aliados potenciais interessados em humanizar o país e dar condições dignas à sociedade, buscando união, afinal sectarismo e segmentação só servem aos gananciosos e a quem já está em posição de oprimir.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A Mente e a Amplitude das Relações Biopsicossociais


Alguns estudiosos já tentaram entender e até localizar a alma (no corpo e talvez no cosmos) diversas vezes ao longo da história. Aqui serão citadas brevemente apenas quatro tentativas de descrever os conceitos de alma e/ou espírito: 

 

1. A Mente após o Iluminismo 

 Após o desenvolvimento das ciências e da psiquiatria no século 18, parece que a ideia de alma começou a ser rejeitada. Com o surgimento da psicologia e da psicanálise no século 19, isto foi deixado mais de lado ainda. Sigsmund Freud revolucionou a psiquiatria (que parecia bem deficiente até então) e a psicologia que ainda era muito incipiente. Alguns dos principais elementos de sua teoria é a divisão da mente em três níveis: 

Id.: Parte mais inconsciente e instintiva da mente. Onde surgem os desejos primitivos, como de reprodução (libido, pulsão sexual) e a pulsão de morte. Este último está ligado ao desejo de eliminar um rival ou obstáculo de maneira mais rudimentar possível, ou seja, através da violência, matança etc. 

Ego: O “eu”. Constituído das relações, ou de uma média, das pulsões do Id com o Super Ego; 

Super Ego: A parte mais externa da mente seria um tipo de camada empenhada em proteger , ou até mesmo reprimir, a mente? Seria a parte da mente onde surgem a moral, os tabus adquiridos no convívio familiar e/ou social, as normas sociais etc. 

 

                                                                    Fotografia de Freud, criador da Psicanálise

 2. A Alma na Filosofia Socrática

 No século 4 aC, o filósofo Sócrates dividiu a mente (a qual chamava de alma) em mente inferior e mente superior. A inferior é constituída pelo desejo material, carnal. É constituída pela voracidade, paixão sexual, incontinência, fúria etc. A superior é formada pela busca da ciência, da verdade, e pela busca pelo Bem, por algo maior, imutável, como Deus. Sócrates ainda cogita um possível meio campo, entre as mentes. Um estado de repouso da mente, onde alguém tomado pelos sentimentos da mente inferior encontra alívio ao saciar alguma necessidade ou desejo. Porém se este alguém não busca por conhecimento, ou pela verdadeira beleza, que está relacionada ao bem e a Deus, ele tende a cair novamente no sofrimento tipicamente gerado pelos desejos da mente inferior. Por outro lado um cientista ou filósofo que se deixasse cair no estado intermediário de repouso, seja por ter seus estudos rejeitados, ou por ser impedido de estudar ou compartilhar seus estudos, poderia cair no estado intermediário de repouso. Deste estado ele talvez ficasse vulnerável aos desejos ardentes da mente inferior. Também é interessante notar que a busca pelo Bem através das ciências citada por Platão e atribuída à Sócrates, também incluia a busca pela relação entre as ciências (no caso Astronomia ainda vinculada com a astrologia, a Matemática, a Geometria e a Música). 

 

Platão e Aristóteles no centro da pintura "A escola de Atenas" de Rafael

3. A Alma Asteca 

Os astecas (provavelmente sacerdotes, antes da invasão espanhola das Américas) separavam a alma em três partes vinculadas ao corpo: Fígado, coração e cabeça (possivelmente o topo da cabeça de acordo com um texto asteca). As partes inferiores talvez tenham sido concebidas por causa da percepção de efeitos psicossomáticos: O nervosismo intenso pode gerar dores de estômago, uma grande frustração sentimental ou decepção amorosa (correspondência afetiva) causa dores no peito etc. A parte superior era chamada de tonali e parecia estar ligada ao conceito de mediunidade. Era onde se conseguia o verdadeiro livre arbítrio, mas onde se ficava vulnerável aos espíritos maus e bons. 

 

4. A Alma conforme o Espiritismo 

Em meados do século 19, Allan Kardec fez a pergunta a um espírito (para os céticos, as respostas fôram dadas pela adolescente) "É certo dizer que os Espíritos são imateriais?” e obteve a seguinte resposta: 

— Como podemos definir uma coisa, quando não dispomos dos termos de comparação e usamos uma linguagem insuficiente? Um cego de nascença pode definir a luz? Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato; pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada, para a qual não dispondes de analogias, e tão eterizada que não pode ser percebida pelos vossos sentidos." 

 

Retrato de Hippolyte Léon D. Rivail (Allan Kardec)

5. Opiniões sobre a Extensão Mental 

Baseando-se nestas teorias da mente (ou alma, a diferença parece apenas de nomenclatura) e nas descrições sobre alma e espírito anotadas por Allan Kardec, eu tendo a crer numa estrutura superficial mais próxima das três últimas. Porém os estudos de Freud baseados em tudo o que ele conseguiu observar e/ou sentir, também foram fundamentais. 

No texto Mal Estar da Civilização, Freud tenta entender o sentimento oceânico descrito por seu amigo religioso. Porém extremamente racional e cético, Freud apenas consegue se aproximar em parte do que é tal sentimento. Seu amigo descreve que é como se sentir parte de algo muito maior, de um todo. Tal descrição se aproxima um pouco da mente superior de Sócrates, e pelo teor religioso, pode se considerar que também se aproxima (nem que seja sutilmente) do conceito de tonali da religião asteca. Freud aparentemente acerta ao constatar que o sentimento de pertencer a alguém além de si mesmo está presente no bebê recém-nascido. Ele observa que o bebê só vai aprendendo o conceito de indivíduo (Eu) com mais idade, entre os 2 e 3 anos. Freud traça uma relação da Psicose com a falta de ver/ perceber os outros indivíduos, oriunda de uma retenção significante do "ego primitivo" ou do sentimento oceânico... De acordo com o psicanalista, reter estes "sentimentos" resultariam na ausência de limites e da ligação com o todo. Esta retenção incluiria um tipo de cisão onde parte do ego desenvolve-se e outra parte (de impulsos instintivos) permanece sem "limites", vendo outros como parte de si. Porém a seguir, Freud dá exemplos destes conceitos em animais: Considerando os répteis como formas de vida mais primitivas do que os mamíferos, ele afirma que os primeiros seres têm mais a ausência de limites (do eu), enquanto os mamíferos, por fatores claros seriam mais parecidos com os seres humanos ("normais", com ego mais desenvolvido ou "não psicopatas"). A semelhança entre o sentimento oceânico e a religiosidade (que significa religar-se com algo além, ou algo superior, ou com o todo etc) é perceptível como descrito nos textos. Porém há uma contradição no desenvolvimento de Freud: Os répteis de fato parecem ter pouco discernimento de outros seres se comparados com os mamíferos (ser humano incluso, é claro). Os répteis não trocam carícias, não brincam quando filhotes e seus progenitores nem sequer cuidam dos filhotes, como os mamíferos fazem. Esta falta de percepção do próximo é como a falta de empatia: Nem os répteis nem os psicopatas sentem pelos outros. Eles não percebem os outros (ou tudo) como parte de si, mas sim como objetos, ou talvez como seres inferiores, a serem utilizados ou descartados / ignorados. Portanto a ausência de limites é distinta ao sentimento oceânico e ao "religar-se" da religiosidade. No caso dos seres humanos a frustração em excesso ou a falta de correspondência (de um relacionamento) talvez possa gerar uma ausência de limites formada por rancor, desejo reprimido, vingança, mas não é o sentir tudo como parte de si, nem sentir o próximo como parte de si. Portanto minha constatação é que a psicopatia de fato, parece presente nos répteis, mas não nos bebês e crianças até os 2 anos de idade. A psicopatia torna a percepção do “outro” turva, mas não como parte do “Eu”. A percepção do psicopata é que o outro é pouco ou nada significante, talvez até um objeto, enquanto o sentimento oceânico de pertencer ao todo, ou a algo maior, está mais para o sentimento do bebê de ver a mãe como parte de si e para o religioso que vê todos como parte de si e talvez como parte de Deus também. 

Outro ponto digno de nota é que nos textos do psicanalista (Freud), a Cultura surge como regras de relacionamento entre pessoas, portanto delimitando o "eu" (Ego de cada indivíduo). Isto pode ser considerado próximo do estado de repouso da alma, ou o estado intermediário da mente, de acordo com Sócrates. As regras sociais servem para reprimir ou controlar tanto as pulsões de vida como as pulsões de morte. Controla o desejo de sexo/ reprodução e o desejo de eliminar (matar ou ferir de modo incapacitante) um competidor ou inimigo. 

 

 6. A Importância da Boa Relação com o Exterior 

Mesmo na natureza há exemplos de elementos internos de um determinado sistema relacionando-se com os elementos de um outro sistema: isto pode ser visto não apenas nos biomas do planeta Terra, mas até mesmo na “estrutura” que compõe toda “matéria”: Os átomos. 

Os átomos foram considerados a menor partícula da matéria por algum tempo. Sua estrutura é composta por um núcleo formado por prótons e nêutrons (cargas positivas e neutras) e este núcleo é cercado por uma nuvem de elétrons (cargas negativas). Porém há um vasto espaço vazio entre o núcleo e os elétrons, sendo que estes últimos curiosamente não se movem nem ficam parados. Isto indica que, na verdade, toda matéria é formada por relações (entre as cargas e com seu exterior) e estas relações são classificadas em 3 tipos: 

Relações de mudança;

Relações de repetições / padrões; 

Relações de transcendência (ir além de si mesmo, expandir-se). 

Se não há relacionamento ou se os relacionamentos estão frágeis por algum motivo, as estruturas não se sustentam. Seja uma estrutura biológica, social ou molecular: Isto é verificável nos átomos estudados pela física, nos ecossistemas estudados pela biologia e até mesmo nas relações humanas estudadas pelas ciências sociais como a sociologia e a psicologia. 

 

7. O Não-Relacionamento nas Ciências Sociais 

Como se dá a impotência de um ser humano se relacionar com os demais? Ou como ocorre o impedimento de sua relação com outros seres humanos? 

Podemos analisar casos que ocorrem em nossa sociedade ocidental, ou mais especificamente, (pan)americana, nesta virada da 1ª década para 2ª década do século 21 (XXI). 

De um modo geral, vivemos em uma sociedade centrada no consumo e no dinheiro. Apesar de alguns anos de busca por um bem estar social e vagas tentativas de frear a desigualdade social e a devastação do meio ambiente, há um evidente descontrole das relações comerciais nas nações americanas. A fiscalização das relações comerciais em prática é inexistente: Atividades e até mesmo leis claramente nocivas para a maioria dos seres humanos seguem norteando as relações: Paraísos fiscais que existem claramente para beneficiar grupos que enriqueceram de maneira ilícita, ou seja, criminosa, continuam a existir por décadas a fio e oligopólios e monopólios surgem independentes das divisões políticas do globo, ignorando leis e beneficiando poucos acionistas e empresários bilionários. Este descontrole das relações comerciais está entre os maiores causadores de danos ambientais e sociais. Ele alimenta o orgulho de poucos indivíduos que mantém em seu poder particular recursos suficientes para sustentar milhões de outros seres do planeta Terra. Reter a maioria esmagadora dos recursos nas mãos de poucos é dificultar ou impedir as expressões e as relações expansivas/ externas da maioria. É impedir as relações destes indivíduos empobrecidos com o meio socioambiental e com grupos além de seus próximos. 

 

 8. O Orgulho: Um sentimento obscuro 

O orgulho é tratado de diversas maneiras: Em alguns textos espiritualistas / religiosos ele é notoriamente criticado e explicado como um sentimento nocivo, mas em certos círculos sócio-econômicos ele é tido como algo natural ou até mesmo digno. 

Porém dignidade é uma palavra diferente e refere-se a ser digno de algo. Há um teor de justiça ou de naturalidade quando se fala que algo ou alguém é digno. Praticamente não há interpretação negativa das palavras digno / dignidade. 

Orgulho também é utilizado para designar o estado em que uma pessoa se encontra após realizar um feito que lhe satisfaz ou que lhe traz um destaque que lhe causa grande satisfação. Mas para isto também já existem as palavras satisfeito / satisfação. 

Então qual é o significado do orgulho? Se já existem palavras que designam os sentimentos de dignidade e de satisfação é importante separar o orgulho destes. 

O orgulho é sim algo negativo. O termo orgulhoso em geral é utilizado para designar a pessoa que tem a si mesma como superior em relação a outras. 

Quando vemos as pessoas que tem uma boa posição social numa sociedade em grande parte capitalista, já podemos entender que na verdade trata-se de uma boa posição econômica, ou, na melhor das hipóteses, sócio-econômica, pois ela está ali realizando tarefas pouco ou nada benéficas para a maior parte da sociedade. Naturalmente quanto mais à favor de poucos multimilionários, ou, quanto mais capitalista for a sociedade, os indivíduos em posições de poder ou de prestígio se importarão menos com a maioria pobre, pois ficam mais distantes deste grupo. Como agravante, estas pessoas de boa posição “sócio-econômica” geralmente servem de exemplo para os demais. Independentemente se estas pessoas conquistaram tais posições com trabalho persistente e honesto ou se estão ali porque receberam favores ou se realizaram crimes. 

E qual é o problema disto? Além do óbvio ciclo vicioso de propagação de pobreza e desigualdade social, estes indivíduos em posição de grande prestígio e poder são naturalmente orgulhosos. Se cada um deles têm uma quantia de recursos suficiente para sustentar a vida de centenas, ou de milhares, ou de milhões de pessoas, cientificamente eles são pontos de grande desequilíbrio, não apenas social, mas alguns deles também são os causadores de grandes desequilíbrios biológicos no planeta. Obviamente este desequilíbrio biológico se dá por seus intermediários como empresas (e todo seus respectivos corpos constituintes) que causam desmatamento, pesadas emissões de poluentes etc. Porém estes desequilíbrios, ou danos, são conhecidos desde o século 20 (XX), portanto é útil avaliar eventos mais atuais, do século XXI. 

 

9. A Incitação do Orgulho e seu impacto Psicossocial 

Na última década o desequilíbrio causado pelos poucos indivíduos mais poderosos e pelo sistema que tanto favorece estes mesmos indivíduos, alcançou um novo patamar: O psicológico. Na verdade desde o início do século XX, já ouvíamos sobre o impacto do ritmo de trabalho e da pressão psicológica nas pessoas, gerada pela intensificação das atividades industriais. Porém o domínio das atividades industriais já foi sobreposto pelas atividades digitais e as atividades digitais se tornaram danosas em muitos aspectos: 

Após o uso das redes sociais superarem o uso do e-mail em nível mundial no início de 2009, as empresas da internet (redes sociais como o Facebook, buscadores como Google, canais como Youtube etc) passaram a investir pesadamente para atrair mais usuários e para lucrar sobre seus usuários. 

O conceito de “like” tornou-se central não apenas para jovens usuários que publicavam fotos e textos sobre suas vidas e sobre suas opiniões, mas também para empresários que buscavam mais clientes. Aproveitando-se para lucrar, as redes passaram a comercializar ilegalmente as informações de seus usuários. Alegava-se coletar informações para personalizar anúncios conforme o desejo do usuário, mas na verdade criava-se um ciclo vicioso onde os usuários foram bombardeados com publicidade intrusiva e as empresas lucravam com cliques e com mais anúncios. Esta propagação de conteúdos sem checagem (sobre a utilidade e a veracidade destes) e de anúncios criou as “bolhas sociais” na internet e intensificou o consumismo. Se o consumismo por sua vez alimenta o sistema capitalista e sua minoria de multimilionários, as bolhas sociais criavam grupos de pessoas alienadas orgulhosas de suas escolhas e de suas opiniões. Este processo também intensificou a ideia de pós verdade e ampliou a propagação de fake news (notícias falsas). No meio de toda esta confusão estavam inúmeros indivíduos que já vinham sendo oprimidos por um sistema centrado na produtividade, no consumismo irracional e no acúmulo de riquezas (para poucos, é claro). 

Apesar destes vários indivíduos pertencerem à culturas diferentes, eles tinham poucas coisas reconhecíveis em um mundo tão conflitante e confuso. Uma destas poucas coisas era o “Eu”, que de acordo com a vertente psicanalítica da psicologia, também pode ser chamado de Ego. Assim ficou fácil para as empresas manipularem as massas: No meio de um turbilhão de dados que é a internet, os usuários da internet, em sua maioria uma população leiga, não via nem entendia que os líderes das maiores empresas da internet contratavam designers e psicólogos, para usar seus conhecimentos em busca de mais lucros. Foram usados conceitos e estudos sobre o comportamento humano (Behaviorismo/ Psicologia Comportamental) e sobre o impacto de formas e cores sobre a percepção e a interpretação (Gestalt), tudo voltado para manipulação dos leigos em favorecimento dos mais abastados. Os orgulhosos abastados, que em grande parte não eram pessoas em ascensão social, e sim os que já eram multimilionários, incitaram algumas de suas características no público leigo em geral, sendo a mais nociva, aquela que se disfarça como “Eu”: O orgulho. 

Famosos como atores de cinema/ televisão, atletas, músicos e apresentadores já incitavam o público a imitar algumas de suas atitudes ou comportamentos no século anterior, o problema é que as mídias sociais espalharam um “novo sentimento” negativo, um orgulho consideravelmente narcísico. Nesta nova onda de incitação de orgulho, incita-se o egoísmo (ou seja, um “Ego” - “Centrismo”), pois as pessoas se agrupam mais por ódio ao diferente ou por rivalidade aos que discordam de si, do que por similaridades entre indivíduos de seu grupo. A partir disto vale tudo para se autoafirmar: Esta autoafirmação do “eu” como algo melhor que os demais, ou mais belo, ou mais certo, utiliza-se da valorização de narrativas ignorando fatos (pós verdade): Apoiar movimentos anti vacina, terraplanismo, patriarcado, antipolítica, negacionismo etc. O indivíduo nega a realidade, ou partes desta, em nome do orgulho, deixando de relacionar-se com outros ou até mesmo buscando eliminar os que parecem tão diferentes de si. Esta negação das relações é nociva para todos, pois é uma negação da natureza e da verdadeira ciência em si, pois as relações existem em níveis astronômicos, ecológicos, sociais e até em níveis atômicos. 

Obviamente quando o sentimento de orgulho se espalha como sendo de grande importância, há uma grande chance de causar conflitos, como foi possível ver nos atos racistas e violentos de alguns policiais que geraram uma onda de protestos e mais violência. Mas além disto, as redes sociais em sua busca nociva por lucros, gerou um aumento no número de casos de problemas psicológicos individuais (ansiedade, depressão...) como mostrado no documentário “The Social Dilema”. Ao induzir pessoas de uma sociedade a substituírem interações presenciais por digitais, ocorre um aumento do isolamento real diante um aumento de interações superficiais. Quanto menos se vê e/ ou menos se ouve os interlocutores em uma interação/ processo de comunicação, mais difícil torna-se expressar os sentimentos que nos define como seres humanos e nos difere das máquinas. Textos e emojis jamais substituirão expressões faciais, corporais, tom de voz etc. Afinal é simples demais não se expressar ou até mesmo utilizar uma “carinha de feliz” nas redes sociais quando se está triste ou nervoso com alguém. Os sentimentos fazem parte das necessidades humanas e apesar dos sentimentos negativos fazerem parte de nossa existência, os positivos são de suma importância numa sociedade onde alterna-se em suprimir sentimentos e priorizar os sentimentos negativos (orgulho de suas opiniões ou posses, ódio ao diferente, desespero diante situações sociais e econômicas). Nesta situação onde prioriza-se e propaga-se sentimentos ruins, os sentimentos positivos são criticados de diferentes maneiras, sendo alguns exemplos: A humildade é confundida por idiotice, o amor é tido como ridículo ou farsa e a esperança é considerada um devaneio ou ingenuidade. Negar os bons sentimentos aos indivíduos é negar-lhes a saúde mental e espalhar esta negação a um nível social é gerar crises e conflitos, enfim, é causar processos nocivos para a maioria. Como é possível notar, o sistema defasado não é só injusto por privilegiar poucos, privando a maioria de suas necessidades básicas, mas por causa deste desequilíbrio nas relações, ele também facilita a supressão dos bons sentimentos e de suas expressões. Ele esconde as verdades com fake news e movimentos negacionistas ou reducionistas, substitui amizades por bolhas sociais e rivalidades, e por fim, nega esperança, atacando programas sociais e pessoas (físicas ou jurídicas) que realizam ajuda aos grupos mais necessitados e/ou vulneráveis. 

 

10. Observações Finais 

Este texto não trata exatamente de atacar o defasado sistema econômico que nos rege, mas sim de invocar a importância das relações em todos os campos de estudos/ em todas ciências. Se trata de mostrar a importância do conhecimento e dos sentimentos. Se trata de mostrar a necessidade de uma mudança para melhor tanto no sistema econômico, como no meio científico, que ao submeter-se a lógica do decadente sistema capitalista, acabou sendo apunhalado com o surgimento de movimentos negacionistas e reacionários. 

Este texto não inventa um sistema social nem um método científico: Ele faz a ponte entre teorias científicas já existentes com o decrépito sistema que faz tantos estragos nos âmbitos ecológicos, sócio-econômicos e psicossociais. A teoria científica é a Teoria Geral dos Sistemas, que tem algumas características em comum com outras teorias também científicas, como a Hipótese Biogeoquímica (Hipótese de Gaia). 

O que é exatamente a Teoria Geral dos Sistemas? 

Use um buscador de internet para encontrar tais informações...

sábado, 1 de agosto de 2020

2º Bê a Bá da Realidade: Quem é Maioria?

No primeiro texto “Be a Bá” foi brevemente explicado o que é política e para que serve. A política está ligada ao fato que, para sobreviver, o ser humano frequentemente precisa de cooperação de mais seres humanos.
O ser humano vive em comunidades, ou seja, em sociedade, desde a Idade da Pedra pelo menos uns duzentos e vinte mil anos antes de Cristo (220.000 a.C). Possivelmente porque os seres humanos tiveram que se juntar em grupos para superar desafios como encontrar comida, escapar de predadores, sobreviver às mudanças climáticas, construir utensílios e abrigos etc. Com o passar do tempo e o superar de dificuldades, os seres humanos precisaram criar regras de convivência que deram origem às leis e também precisaram escolher líderes que ajudavam na mediação entre as pessoas e na tomada de decisões diante impasses nas comunidades.
Comunidades ou sociedades são grupos de pessoas, e cada uma dessas pessoas desenvolve determinada função seja numa escala de importância menor ou maior. Portanto com a maioria ocupada em sua função, em determinados momentos da história humana, existiram líderes bons e líderes maus. Competentes e incompetentes. Quando os líderes de comunidade se mostraram notoriamente egoístas ou incompetentes a confiança das demais pessoas (a maioria) diminuía e era necessário um novo líder. Estas situações de insatisfação da maioria das pessoas de determinadas comunidades devem ter ocorrido diversas vezes na história da humanidade. Provavelmente aconteceram no Egito antigo em muitas das trocas de famílias reais (dinastias) até a Grécia (Atenas) Clássica onde surge os conhecidos sistemas democráticos ou a democracia (governo do povo / poder do povo), por volta de 590 a.C. Outra possível fase de insatisfação popular que removeu o poder centralizado em um governante passando para representantes do povo deve ter acontecido no surgimento da República Romana que substitui o Reino Romano em 509 a.C.
Portanto conclui-se que os sistemas políticos de representação do povo, chame de democracia ou de república, surgem da necessidade de resolver impasses e pela necessidade de mais equidade e justiça para todos.

 A política é para todos.
 Como é impossível agradar a todos, a política é para a maioria, mas a maioria varia de acordo com cada nação. A maioria das pessoas no Brasil (e em muitos outros países) são os pobres, pois a renda mensal média era de um salário mínimo (cerca de 980,00 R$) até 2016*. Um pouco mais alta em SP, chegando à quase 2000,00 R$ mensais de média. (* quase 1500,00 R$ em 2019, de acordo com matéria da Folha de São Paulo) Tais salários mal pagam as contas de uma casa ou de uma família, além disto, pessoas com a renda média em geral trabalham no mínimo 44 horas por semana. Mais o tempo que perde-se com transporte ou que investe-se em estudos…
No Brasil, proporcionalmente, quem mais paga tributos são as classes pobres e médias, pois cobra-se mais imposto sobre produtos e serviços do que sobre renda ou patrimônio. Multi milionários (sócios ou donos de corporações, grandes empresas etc…) são os que se beneficiam disto e são quem fazem lobbies na política para ganhar cada vez mais pagando cada vez menos.
Para quem não sabe, lobby é uma interferência dos mais ricos (multimilionários) na política, onde estes pressionam um ou mais políticos para obterem benefícios como desvirtuar (ignorar) leis para sonegar imposto, cometer crime ambiental, formar cartel de empresas etc. Uma interferência que ignora eleições, pois não é preciso voto para se fazer lobby, só um pouco de tempo livre sobrando e muito dinheiro. Dezenas de milhões de reais ou mais para ser mais específico.
Estes empresários, ou os lobistas que os representam, geralmente alegam precisar de mais “liberdade” para continuar suas atividades comerciais, mas é óbvio que se refere a uma liberdade que não respeita a liberdade dos outros: Não respeita resultado de eleições, nem regras que possibilitam o micro empresário a competir no mercado, nem leis para proteger o meio ambiente e reservas indígenas… Por isso, muitos dos multimilionários defendem o “liberalismo”, mas na verdade estão defendendo o capitalismo, pois não respeitam a liberdade alheia. Capitalismo aqui não se refere a um sistema natural, muito menos a um sistema econômico ponderado. Neste caso a palavra capitalismo tem o seu significado verdadeiro, ou seja, etimológico: Capital-ismo = Dinheiro-Cêntrico. Refere-se a um sistema onde quem tem mais dinheiro, (afinal dinheiro não é uma entidade inteligente nem viva) manda e faz o que quer. Capitalismo aqui não pode ser desvinculado de Plutocracia (poder dos ricos / governo dos ricos), pois são praticamente a mesma coisa.

Quando usa-se o termo “mídia corporativa” para definir grandes empresas de comunicação como a Globo, o Estadão, a Veja, a Record, a Band (etc) é porque na maioria das vezes esses grupos estão interessados em beneficiar seus anunciantes e investidores de grandes empresas / corporações. Portanto o viés destas “fontes” é quase sempre capitalista, ou seja pró liberalismo econômico só para as maiores empresas, as mesmas que nunca estão satisfeitas com políticas sociais ou de infraestrutura e sempre fazem lobby. Estar a favor dos mais ricos, é estar a favor dos poucos indivíduos que têm muitos milhões ou bilhões, seja de reais, de dólares ou de euros… Portanto é estar sempre contra a maioria. Defender os multimilionários e o capitalismo é estar contra as verbas para saúde pública, para o transporte público, para o ensino público… Enfim é estar contra toda a infraestrutura, ou seja , a estrutura básica de uma nação. Não é republicano, nem democrático, pois é defender a doença, a morte, a ignorância, a falta de segurança e a impotência da maioria.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Sensacionalismo e Punitivismo

No início deste mês de julho, passei em frente a um posto policial onde várias viaturas estavam paradas na rua com policiais conversando sobre algum assunto que não ouvi. As viaturas eram carros novos, grandes e aparentemente potentes (não conheço muito do assunto automotivo). Um último policial mais afastado dos demais (há uns 10 metros) conversava sorridente com o motorista do primeiro de uma fila de carros que aguardavam a movimentação policial abrir caminho. Um ou dois minutos depois os policiais abrem caminho: Saem acelerando ruidosamente suas viaturas. Vai ver estavam à trabalho, mas o que me importa é que me lembrei de alguns outros policiais e pessoas próximas destes…


Um Possível Exemplo de Repertório Policial-Militar

Entre os anos de 2010 e 2014 um policial se aproximou de meu grupo de amigos. Eu o conhecia pouco, praticamente só de vista até então. Após ele sair e conversar com nosso grupo de amigos ao longo destes 4 anos, percebi uma série de comportamentos e características deste policial. Era uma pessoa que oscilava entre o emotivo ingênuo e o espertalhão (quando se empolgava com alguém, era facilmente enganado, mas frequentemente tentava levar a melhor enganando outras pessoas). Emoções são sentimentos expressos, ou seja, que os outros percebem, então é mais fácil de classificar e comentar. O policial era um cara ativo, constantemente frequentando barzinhos e buscando parceiras. No mínimo uma vez em que falou sobre suas parceiras, manifestou um desejo de namoro / “relacionamento sério”. Porém aparecia com uma diferente a cada mês em média… Em um “namoro” que durou um mês, este policial compartilhou as senhas de seus e-mails e redes sociais com a parceira… Que o abandonou no final do mês. Em outro namoro, achou um absurdo a moça sair com outro cara enquanto ele saia com outras moças. Ficou indignado.
Num “rolê” entre bares, xavecou uma moça: A moça se interessou por ele. Ele se incomodou e perguntou se alguém do nosso grupo não podia “pegar” a moça para livrar ele.
Um dia ele foi afastado da polícia por comportamento indevido. Os amigos dele diziam que estava instável ou abalado emocionalmente. Numa conversa pelo Facebook, ficou indignado ao descobrir o descaso do governador Alckmin (PSDB SP na época) com as mulheres grávidas (gestantes). Afirmou: “Isso é um absurdo! Que venham os militares!” Por fim, a última conversa que tive com ele, o policial estava se exibindo por conseguir falsificar documentos para adquirir a bolsa do ENEM para cursar direito numa faculdade privada. Depois disso só o vi em redes sociais, para ser exato no Instagram. Na época eu tinha poucos contatos nesta rede social (menos de 100) e logo após aceitá-lo como “amigo” do Instagram, passei a receber sugestões de perfis (ou páginas) de exaltação do corpo masculino… Basicamente uma (ou mais) páginas onde policiais que praticavam muitos exercícios físicos posavam para as fotos sem camisa para mostrar a musculatura do tronco e braços ou posavam apenas de sunga. Logo percebi que as sugestões do Instagram eram relacionadas aos meus contatos, então conferi o perfil do (ex) policial e confirmei que ele seguia estas páginas de suposta “masculinidade militar”… Resolvi o problema cortando o contato no Instagram.
 Agora uma breve análise do “universo” (meio) deste ex policial: Esta exaltação do corpo (masculino), o comportamento do “eu posso trair mulher, mas mulher não pode me trair”, a confiança cega em militares como se não fossem capazes de corrupção… São todos traços de duas “ideologias” ou de duas centralizações de ideias: O militarismo e o machismo. Todos estes traços são facilmente encontrados em outros policiais, militares e idólatras destas classes. Isto se dá pela obsolescência destas instituições que são focadas em obediência e rigor acima da lógica e acima do comprometimento com a população. A militarização é um movimento de defesa. Ocorre no mundo porque as nações tiveram e ainda têm suas diferenças e porque o ser humano ainda cogita a violência como uma solução de problemas relacionados a estas diferenças. Só que em países com alta desigualdade socioeconômica, o poderio militar é facilmente virado contra a própria população. O uso de forças militarizadas contra criminosos da própria nação e principalmente contra manifestações populares, vai além da militarização de instituições como a polícia: Fazem parte do militarismo.



Militarismo e Movimentos Policialescos

Basicamente o militarismo é a expansão dos ideais e atividades militares para além da estrutura militar. Isto não ocorre só quando o exército se intromete em assuntos políticos e econômicos: Também ocorre quando a polícia faz este movimento, ou quando é usada neste sentido: O estado policialesco, por exemplo, é um termo usado quando utiliza-se da polícia federal ou até mesmo do judiciário para mostrar uma super eficácia na captura de (supostos) criminosos, ignorando leis, procedimentos e talvez, até os fatos. Já o jornalismo policialesco é um programa que se apresenta como jornalismo, mas põe a ação policial acima do valor das informações. Este tipo de programa visa ganhar a audiência dando ênfase na captura de um criminoso (ou suposto criminoso, afinal, às vezes nem se averiguam informações) pela polícia. Portanto a narrativa é considerada mais importante do que os fatos e o protagonista das ações (a polícia) é mostrado como um super herói sobrecarregado de trabalhos. Esta apresentação serve para geração de um medo nas pessoas que assistem o programa, e medo serve para submeter e manipular as pessoas, neste caso, serve para compelir as pessoas a permanecerem em suas casas assistindo tv. Mas o militarismo não para por aí. Nas redes sociais, policiais, militares e inúmeros fãs geram ruído a favor do porte de armas, das ações policiais e militares. Vendem estes grupos como heróis infalíveis e perfeitos. A intenção nem é alcançar a paz, pois posam para fotos com armas (de modo parecido com que alguns criminosos fazem) viaturas e uniformes, priorizando símbolos e mais símbolos de força, de valentia, e em alguns casos, até de suposta virilidade e masculinidade… Espalham boatos e paranoias: Comunistas espreitam de seus covis escondidos em qualquer canto do país. Vagabundos, geralmente pobres, pardos ou negros, estão por toda parte, armados e perigosos. Estudantes também são vagabundos, principalmente nas universidades federais. Estes são só alguns dos boatos bizarros sensacionalistas e propagadores da ignorância que rolam nestes grupos.

Nos anos mais agonizantes de minha conscientização política (2014 a 2016) lembro-me de dois fatos marcantes, ambos envolvendo o poder público do Paraná: O governador tucano diz em entrevista que policial não tem que pensar, não tem que ter educação. Pois gente educada ou inteligente questiona ordens… Pois é… Experimente substituir a polícia por matilhas de cães de guarda então… O outro, era um secretário boçal do Paraná, que ordenou que a polícia usasse um helicóptero para deter agentes carcerários e professores manifestantes que exigiam melhores condições de trabalho. Questionado pela mídia, por causa da brutalidade da ação, o infeliz tentou jogar a culpa no parceiro dele (o governador Richa) e depois no comando da polícia. A boçalidade foi tanta que ele foi desmentido pelos próprios (ex) simpatizantes, os policiais, diante a mídia e acabou destituído do cargo de secretário da segurança… Mas continuou com dezenas ou centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, que continuavam a compartilhar suas notícias falsas, contra os direitos de trabalhadores, contra o auxílio dos mais pobres etc. Enfim, quando se exalta a ação militar, a força militar, a captura e a punição, acima de qualquer fato, surge o punitivismo.

Punitivismo

Mas mostrar gente sendo punida ao público serve à quem? Serve a quem inventa os inimigos e serve a quem já tem muito poder, seja econômico (dinheiro), político (leis), religioso (igrejas), militar (armas) ou midiático (meios de comunicação).
Mas por que o punitivismo serve a quem tem poder? O punitivismo é um direcionamento de emoções ruins (nocivas etc) à determinadas pessoas consideradas criminosas ou até mesmo consideradas vilões, independente se isto é verdade ou mentira. Portanto direciona também a estes alvos, os sentimentos negativos das pessoas que são mais particulares e muitas vezes mal correspondidos ou reprimidos. Este direcionamento requer um um dirigente, especificamente uma pessoa, ou pequeno grupo de pessoas com objetivos em comum, que tenha(m) alguma forma de poder: Seja o poder econômico, político, religioso, militar ou midiático. Por isso o punitivismo serve a quem tem muito poder como já citado anteriormente.
O punitivismo é facilmente usado quando determinadas populações acumulam muitos sentimentos negativos e/ou muitas frustrações. Pobreza, desemprego, aumento da criminalidade, enfim, impotência diante problemas sociais ou econômicos… Tudo isso gera sentimentos ruins e frustrações. E qual seria o problema do punitivismo, além de ignorar fatos? Bom... ignorar fatos já é suficientemente absurdo, pois indica que a verdade não importa: Pode-se inventar inimigos e puni-los para mostrar ao público, afinal o punitivismo também ignora direitos, de liberdade e de defesa, como se fazia em tempos medievais e anteriores: Na Inglaterra mulheres foram queimadas por serem acusadas de bruxaria. Na Valáquia (Romênia) empalava-se não só inimigos, como súditos infiéis. Os romanos crucificavam e por aí vai…

O punitivismo já foi utilizado numa das combinações mais grotescas de brutalidade da história humana ao lado de outras centralizações de ideias:
Ao lado do endurecimento dos sentimentos e do racionalismo das diferenças, mais especificamente ao lado de ideologias racistas como o darwinismo social. Os racismos, como muitos já sabem, consistem em pregar que determinada raça ou etnia é superior à(s) outra(s). Quais foram estas ideologias e quando foram utilizadas? Elas “explodiram” em 1939 e continuaram queimando objetos, corpos, pensamentos e sentimentos pelo menos até 1945. O punitivismo tomou a forma do fascismo vomitado na Itália e o racismo tomou forma do nazismo defecado na Alemanha.



A Conversão ao Punitivismo

Hoje vemos o crescimento de muitas comunidades que se dizem cristãs. Isto acontece não só devido a busca por algo superior ou por milagres de seres que alegadamente devem existir além do mundo físico / material. Isto acontece porque pessoas sofrem e buscam por alívio. Acontece porque existe o aumento da quantidade de pessoas pobres, o aumento do desemprego, o aumento da frustração, o aumento do desespero, o aumento da violência etc. E a religião, ou filosofia, (chame do que preferir) do cristianismo, originalmente prega a solidariedade, a caridade (não a esmola), o perdão das dívidas e o amor ao próximo. O perdão é o contrário do punitivismo. A solidariedade é o contrário da intolerância. O punitivismo se apoia em intolerância, ou seja, em jogar a culpa em outro, noutro grupo etc. Em suma, cristianismo é uma doutrina de amor ao próximo, ou seja solidariedade e perdão acima de tudo. Amar a Deus, é amar a mente criadora do universo, amar toda a criação e portanto amar (e perdoar) aos outros novamente. Ela é muito diferente do que se vê por aí em alguns “religiosos” que defende a ignorância e até mesmo os governos punitivistas. Portanto muitas das igrejas supostamente cristãs, pregam o contrário do que seu profeta, Jesus Cristo (ou Deus), pregava: Pregam mais punições (para quem não apoia suas respectivas igrejas) e pregam recompensas inalcançáveis, seja a riqueza na Terra ou em uma vida após a morte. No fim das contas vimos o punitivismo sendo pregado em praticamente todas instituições que se tornaram ferramentas de poder: No poder político, no exército, nas empresas de comunicação e até nas igrejas. Isto mostra que os sentimentos cultivados na maioria das nações são predominantemente negativos. São eles: o medo da pobreza, medo da violência (seja do crime ou da guerra), a frustração, a impotência, o desprezo pelo humilde e pelo diferente, a supressão de desejos etc. Além de cultivados, eles são direcionados aos supostos vilões, em sua maioria criações de quem detém mais poder.

Como Enfrentar?

Punitivismo e outras “ideologias” ignorantes se espalham com mais facilidade do que as ideologias que visam o bem da maioria. Isto se deve por uma série de fatores, como espalhar boatos não requer checagem de fontes, não requer notas de esclarecimento nem correções… Racismo e punitivismo se apoiam na falta de estudo, em sentimentos negativos, vazios de motivos (existenciais) e vazios de afeto. Portanto sair desta crise que afeta não só os brasileiros, como também grande parte da humanidade, é difícil, pois não bastaria impedir o cultivo destes sentimentos negativos. Seria necessária a conscientização dos problemas psicossociais (os problemas da sociedade e seus impactos nas pessoas). A conscientização se dá por meio da educação e do conhecimento humanizado, portanto o mero conhecimento técnico ou apenas profissionalizante não é suficiente. Além disto, é preciso entender a importância de se identificar e combater os poderes ou grupos que cultivam as grandes dificuldades e problemas da civilização. É preciso conter e reduzir a disparada da desigualdade de riquezas, pois a equidade também é contrária às ideologias das diferenças e/ou desigualdades como o elitismo, o racismo etc. É preciso combater o obscurantismo e o movimento anti ciência, pois essas ignorâncias permitem o direcionamento não só de sentimentos ruins como também permite que pequenos grupos com poder direcione a atenção das sociedades. Enfim, é um loooongo e árduo caminho. É uma luta numa escala “maior” (macro), contra corporações e governos anti educação, anti assistência e anti ciência, e numa escala “menor” (micro), contra “pequenos líderes” que pregam segregação e ódio em certas comunidades, sejam elas religiosas, empresariais ou sociais como vilas, bairros e favelas. Mas o mero aproximar de um sucesso nesta jornada de luta deve ser mais do que um alívio, deve ser muito compensador.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

1º Bê a Bá da Realidade: O que é Política?

O que é Política afinal?
Chatice? Talvez também seja chatice, mas é muito mais do que isso.

Para responder o que é política, é preciso responder também o que é país.
País é uma bandeira? Um pedaço de terra? Um hino? Futebol e carnaval?
Nada disso. Estas coisas podem fazer parte de um país numa escala maior ou menor, mas não é o que significa um país.

Então país é um povo?
Quase. Esta resposta chega mais perto do que realmente representa um país. País é um grupo ou uma comunidade de pessoas, ou seja, um povo, mas também é suas necessidades como grupo e tudo o que representa este povo.
E quais são as necessidades de um povo? Isso pode variar um pouco em cada lugar do mundo, mas existem necessidades semelhantes entre vários países, afinal todos são principalmente habitados por seres humanos. Então algumas das necessidades básicas dos seres humanos em grupo, ou seja, como sociedade, são: Saúde, higiene (saneamento, água), educação (escolas de ensino fundamental até o profissionalizante e científico), segurança, proteção aos vulneráveis (crianças, idosos, gestantes, desempregados), comunicação, lazer e transporte… E estes são direitos de toda pessoa de um país como no Brasil.

Mas Por quê?
Porquê, de uma maneira simplória, os direitos devem ser garantidos para o maior número possível de cidadãos de um determinado país. Isso se chama equidade e faz parte das idéias de Democracia e de Justiça. Resumidamente democracia é um sistema de governo escolhido pelas pessoas. Já a justiça é um conceito necessário para qualquer civilização, pois sem ela não há país, não há nação, não há estado, resta apenas o caos. Restaria só a “lei do mais forte”, termo usado para explicar o comportamento dos animais em ambiente selvagem. Sem justiça, manda quem consegue manipular o maior número de pessoas, seja pelo dinheiro, pela propaganda ou pela força das armas. Espalha-se a idéia de cada um por si, o que acaba incentivando desde trapaças até todo tipo de crime, do furto ao assassinato. Justiça é uma das necessidades básicas para que haja SEGURANÇA. Segurança requer instituições de justiça (com juízes, tribunais etc) e de defesa nacional (instituições militares, como exército etc). Enquanto as instituições de justiça auxiliam na segurança interna, os exércitos existem para defender o país em relação às AMEAÇAS EXTERNAS. Ou seja, ameaças que vem de fora do país, seja por causa de espionagem, do comércio de substâncias ilegais (tráfico) ou por causa de guerras etc. A segurança e todas outras necessidades do povo (sociedade) fazem parte da INFRAESTRUTURA de um país. Infra quer dizer “de base”, básico, o mínimo para que algum sistema funcione! E estrutura, é claro, refere-se ao conjunto de instituições (locais como hospitais, tribunais, abrigos, escolas, delegacias etc) e todos seus profissionais que formam estes serviços tão importantes para todos.

Então como lembrar de tudo isso que é tão importante para um país? Como organizar isto?
Com a tal da Constituição, um tipo de “livrinho” (ok, é longo, tá mais para livrão) que tem todas as leis do país, às vezes, num linguajar muito complicado para o nível de estudo de grande parte do povo brasileiro. E como as pessoas de um país vão conseguir ver se tudo isso está funcionando? Como garantir que tudo isto funcione?
Com a tal política, é claro…
Política não é coisa político? "Político é tudo ladrão!" Pois é... Isto é o que ouvimos por aí, mas o que temos para nos organizar como país é isto: Um sistema político. Um sistema no qual elegemos a cada 4 anos representantes da MAIORIA do país (no caso o Brasil). A política é a execução de todo o sistema do país. É a manutenção da infraestrutura, a garantia de direitos do povo etc.
Para não enrolar muito e não complicar logo de cara, vamos resumir nos grupos de pessoas que representam a política em si. Eles estão divididos em 3 tipos (esferas) de poder (autoridade que representam o povo, ao menos, supostamente): Executivo; Judiciário; Legislativo. Nas eleições podemos votar em quem vai ocupar cargos no Poder Executivo e no Poder Legislativo. Os cargos do poder Executivo são os mais famosos: o presidente (do país), o governador (do estado) e o prefeito (da cidade). Eles são responsáveis por executar as leis já existentes e por sugerir novas leis que devem ser aprovadas pelo legislativo. Os cargos do poder Legislativo são aqueles que muita gente nem sabe o que é, mas são bem importantes! Eles são os deputados e senadores que (de uma maneira resumida) criam as leis do país e aprovam ou reprovam modificações feitas pelos políticos do poder executivo. Por fim, existe o Poder Judiciário que parece ainda mais escondido do que o Legislativo, pois ninguém vota em quem vai ocupar seus cargos. São os juízes… e talvez os procuradores e alguns outros cargos… Então quem ocupa os cargos do judiciário?? Quem passa em concurso público... Que é uma outra história…
Juízes são responsáveis por julgar quem desrespeita (infringe) a lei, desde os crimes “de colarinho branco” (tipicamente ricos roubando mais dinheiro…) até os crimes cometidos por todo tipo de pessoa com menos dinheiro, enquanto procuradores deveriam levar denúncias da população (ou talvez de algum representante de uma comunidade) aos julgamentos ou às investigações.
TODA essa cambada nestes 3 poderes da política brasileira deveria representar o POVO, ou seja, a maioria da população, o maior número de brasileiros possível. Até mesmo a turma mais misteriosa do judiciário e principalmente do legislativo devem fazer a vontade da maioria.
Porquê política é a administração nacional, ou seja, a organização do país, e a distribuição de recursos feita pelos poderes PÚBLICOS e pelos representantes do POVO. (público significa do povo, da maioria...)
Se a cambada das instituições públicas e de representantes do povo faz ou não faz a vontade da maioria... é papo para uma próxima ocasião, pois este texto foi feito como um tipo de cartilha para explicar o básico de maneira bem simples.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Países Mais Populosos X Mortos por Covid-19


Posição
País (ou território dependente)
População
Data
Fonte dos dados sobre pop.
1
1 402 509 320
2020
4 638
2
1 361 865 555
2020
6 024
3
329 634 908
2020
108 664
4

266 911 900
2019
1 770
5
220 892 311
2020
1 838
6

211 482 342
2020
34 021
7
206 139 587
2020
323
8
168 557 578
2020
811
9
146 745 098
2020
5 520
10
126 577 691
2019
12 545
11
125 950 000
2020
916
12
108 584 658
2020
987
13
100 336 647
2020
1 126
14
98 665 000
2019
19
15

96 208 984
2020
0*
16
89 561 404
2020
81
17
83 421 094
2020
8 134
18

83 154 997
2019
4 648
19
83 149 300
2019
8 658
20
67 075 000
2020
29 068
21
66 501 392
2020
58
22
66 435 550
2018
40 344
23

60 238 522
2019
33 774
24

58 775 022
2019
848
25
55 890 747
2019
21

* Vietnã não consta no site da Johns Hopkins, foi usado como fonte o Worldometers.