domingo, 15 de agosto de 2021

As Farsas contra a Empatia e o Bem-estar social


Este texto traz um resumo histórico de ideologias segregadoras que se alastraram da religião à economia ocidental e seus efeitos nocivos ao desenvolvimento dos sentimentos (empatia por exemplo) e ao bem-estar social. 

Conforme o empirismo britânico e o materialismo foram se propagando entre as classes intelectuais durante o iluminismo, passando pelas tentativas de segmentação entre filosofia e ciência, certo campo foi majoritariamente deixado em segundo plano: Os sentimentos. 

É compreensível em partes, pois apesar de sua importância (citada neste texto, por exemplo: https://amorpelosabersaberamar.blogspot.com/2023/12/para-preencher-o-vazio.html), os sentimentos são, ou deveriam ser, estudados basicamente pela psicologia. Desculpas para relegá-los ao um segundo plano, são inúmeras: Sua subjetividade, uma suposta insignificância diante outras áreas do saber, suas particularidades etc. 

Neste longo processo de desenvolvimento e de cisões, a ciência (portanto uma parte significante dos psicólogos), afastou-se destes 3 temas: religião, filosofia e sentimento. Obviamente isto foi muito útil para alguns campos da ciência que precisaram da diminuição de interferências feitas por religiões e ideologias. Porém não é o caso da psicologia, ao menos, não mais. Desde a segunda metade do século 19, bases de estudo para psicologia vêm sendo criadas. São as bases teóricas, ou seja, estruturas que servem de parâmetro para estudar e tratar pacientes e clientes da psicologia. Estas estruturas são essencialmente baseadas em métodos científicos. Porém esta escolha por métodos para formar uma base gerou segmentações profundas na psicologia: Não se trata de especializações, nem de diferentes campos de atuação, são três frentes teóricas: Comportamental, Psicanalítica e Fenomenológica. 

Independentemente da frente, o sentimento passou a ganhar notável relevância nas abordagens psicológicas em meados do século 20, talvez mostrando uma relação com os movimentos sociais contra o conservadorismo e contra o consumismo durante os anos 60 (movimento hippie, amor livre, protestos antirracistas etc). A partir daí fica mais notória a importância e a possibilidade de tratar sofrimentos psíquicos antes que se tornem mais graves. Estes casos mais graves são considerados psicopatologias (doenças mentais) por muitas das "abordagens" da psicologia. Sim, epidemias de ansiedade e depressão geralmente têm origem em sofrimentos psíquicos, muitas vezes causadas por relações familiares/ sociais conturbadas ou difíceis, afinal é bem improvável que a maioria da população humana mundial tenha nascido com problemas de origem neurológica. Esta é uma prova óbvia (mas negada por muitos) da importância dos sentimentos na saúde mental humana. 

O ser humano é capaz de desenvolver e adquirir tanto conteúdo racional como conteúdo sentimental. A partir do ponto em que nota-se a necessidade de sentimento e o potencial de adquirir conteúdos racionais e sentimentais é possível entender o quanto os vazios afetivos e os sentimentos negativos podem ser perigosos (cada um a sua maneira/ velocidade, é verdade): 

Relacionar-se requer alguma abertura (falar de si, dar atenção ao outro...) e alguma coragem. Quando não há relação com o novo, ou quando alguém se dispõe a alguém insensível / oportunista, resumidamente cria-se um sentimento de tristeza ou um vazio. Daí lideranças interesseiras podem preencher estes vazios com sentimentos negativos, como por exemplo incitando o orgulho nas pessoas de um determinado grupo: Pode ser uma igreja, ou uma religião inteira; Um clube de motociclistas, de "gamers", de fãs de determinado estilo musical ou tantos outros grupos com algo em comum. Incita-se ao ódio aos estranhos ou aos desconhecidos, basicamente de outros grupos. Basta colocar a culpa de determinados problemas, sejam sociais ou econômicos neste estranho, então está criado o vilão. 

Não basta estudo racional para evitar tal tipo de manipulação. A necessidade de sentimento é uma verdade óbvia e superior a qualquer argumento superficial que tente diminuí-la. 

Os Movimentos de Manipulação 

O conservadorismo e o consumismo vieram como proposta para "distrair/ ocupar" as pessoas. Obviamente eles foram utilizados por lideranças de alguns setores da sociedade, mas deixemos para abordar tais lideranças em outra ocasião. 

O sufixo "ismo" indica centralidade, ou seja, dar maior importância, por isto, muitas vezes indica uma doutrina, ou um sistema centrado em tal tema. 

Assim, vejamos primeiramente o conservadorismo: Trata-se de uma doutrina onde conservar é mais importante do que tudo. Conservar o que? Conservar sem definir um alvo, é conservar as coisas em geral como estão, negando novidades e descobertas. Sendo assim, as ideologias conservadoras se referem a defender tradições, ritos e costumes antigos. Esta defesa do antigo e da estagnação acaba negando possíveis descobertas e novidades (daí o negacionismo). E como mencionei em outro texto, quanto mais antigo, mais as coisas pareciam misteriosas, afinal pouco conhecimento havia sido construído pelas sociedades humanas. Frequentemente as pessoas com menos conhecimento precisavam entender os fatos e a natureza ao seu redor, então recorriam às pessoas que conheciam tais assuntos. Acontece que eventualmente, alguns destes que sabiam eram interesseiros e acabaram manipulando aqueles indivíduos com menos conhecimentos. Isto se repetiu "X" vezes na história, atingindo seu ápice no campo religioso. Portanto, conservadores muitas vezes são religiosos com medo da ciência e medo do desconhecido. Medo esse que facilmente se transforma em ódio, ou seja, é claro que em algum momento a persistência no conservadorismo gera misoneísmo (medo ao novo/ ódio ao novo) e às vezes, é um mero sinônimo deste último. 

Um medo em menor escala, geralmente é chamado de receio e está ligado ao "ato" de hesitar. Nesta pequena quantidade, ele pode até ser saudável quando nos protege de um perigo. Porém o medo em si, é essencialmente paralisante, e portanto, estagnante: Impede ou atrasa descobertas e progresso. 

Já o ódio (incluindo os discursos de ódio) vai contra tolerância e piedade. Tolerância e piedade já são positivos por si, permitindo abertura ao diálogo e às relações. Além disto, quando mútuos, ou seja, de ambos os lados de uma relação interpessoal ou inter social, são evidentemente saudáveis para todos. Eles não são estagnantes como o medo, pois a curiosidade existe independentemente do ódio e da piedade. Por fim, a tolerância e a piedade podem mostrar-se como manifestações de um amor expansivo, enquanto o ódio é o querer mal, é o desejo de vingança, de atormentar ou de destruir algo, alguém ou algum grupo. Como todo ser humano tem necessidade de sentimento, líderes interesseiros, pessoas mais influentes, conseguem manipular facilmente estas coisas. 

Seguindo esta linha, o consumismo é a doutrina do consumir: Comprar, gastar em primeiro lugar, menosprezando a consciência e o cuidado com o ambiente e com a sociedade. É o ato de "criar necessidades" e obviamente essa criação não é da natureza (para ateus e céticos) nem de Deus (para religiosos e afins). Esta criação de necessidades é realizada por quem tem marcas/ empresas que vendem produtos. É invenção de quem tem dinheiro para campanhas publicitárias e propagandas e quer lucro, ou seja, mais dinheiro, fortuna. Alguém poderia falar, ah mas o consumo move o mercado, distribuindo riqueza. Não, consumismo é a CENTRALIDADE NO CONSUMO: Consumir como se não houvesse amanhã, sem pensar, deixando todo o resto em segundo plano. Isto gera descaso com o meio-ambiente e com o destino dos resíduos dos produtos, portanto, causa a poluição descontrolada de rios, matas, oceanos, da atmosfera etc. 

Para propagar essa necessidade artificial de consumo, obviamente houve necessidade do aumento da produção de bens comercializáveis dentro do sistema predominantemente capitalista (produção e consumo para lucros em primeiro lugar, é claro). Nas empresas de diversos segmentos então, espalhou-se a ideia de produzir cada vez mais, relegando o bem estar social, a qualidade de vida e o meio ambiente como assuntos secundários. O discurso que prega a importância da produtividade e do mérito então, obviamente foi propagado nas empresas e além delas, como nos meios de comunicação em massa e posteriormente nas redes sociais. Assim fica nítido que a necessidade de consumir criada artificialmente está relacionada à doenças psicopatológicas como depressão e ansiedade, ao desperdício, ao câncer causado por agrotóxicos, ao aquecimento global etc. 

Conclui-se então, que conservadorismo e consumismo são distrações que obviamente servem a certos poderes da sociedade como as religiões institucionalizadas e as corporações continuamente interessadas em lucros crescentes. 

A diferença é que o primeiro explora a necessidade afetiva/ sentimental dos seres humanos, manipulando sentimentos para dizer que está tudo bem, que a culpa dos problemas está no desconhecido, no diferente. 

O segundo (consumismo) prega um materialismo escrachado, baseado nas seguintes mentiras maliciosas: 

sucesso é adquirir produtos (das propagandas) ou acumular capital; 

ocorre uma seleção "natural" e "não induzida", do mais forte na civilização urbanizada; 

estes mais "fortes" da civilização são os mais ricos (multimilionários); 

Estes multimilionários chegaram ali por esforço próprio ("mérito") 

Ou seja, o mais adaptado a um sistema dinheiro "cêntrico" (capitalista) e ao governo daqueles que enriqueceram mais por usarem sua "inteligência ou esforço" (meritocrata, plutocrata), são os sujeitos ideais, os "bem-sucedidos". Sim, o consumismo se apoia na ideologia capitalista e fomenta o discurso meritocrático. Tais ideologias e discursos são menos úteis do que fezes, considerando que esta última, popularizada com o nome de bosta, ao menos serve de adubo, colaborando com o plantio etc. Assim, pode-se concluir que na natureza e nas civilizações, o consumo de bens materiais, obviamente é menos importante do que o desenvolvimento racional (da cognição à reflexão) e que o desenvolvimento do sentir (inclui desde intuição até os sentimentos). Este desenvolvimento nos permite entender o meio, seja ele ambiental ou social. 

Ascetas - Fanáticos Espiritualistas? 

Anti consumistas existem há milênios e os ascetas são alguns deles.

Mas o que é um asceta? 

Um eremita que não faz sexo e frequentemente jejua? 

Um magrelo que senta ou deita numa tábua cheia de pregos? 

Um cara que medita o dia todo e levita? 

Nada disso. A palavra asceta vem do grego e significa alguém que exercita o espiritual. Pode-se concluir a partir da etimologia desta palavra e da história da Grécia, que ascetas eram pessoas que praticavam atividades relativas ao espírito, ou que se dedicavam ao aperfeiçoamento de seus espíritos (ou de suas almas, não faz muita diferença). Historicamente é aceito que os discípulos de Pitágoras (pitagóricos) eram filósofos, cientistas e ascetas. Sim, cientistas dentro das possibilidades de sua época na Grécia clássica e também religiosos devotos (ascetas). Neste sentido esta combinação não difere muito dos ensinamentos de Sócrates e Platão. 

Devoção não significa fanatismo, muito menos intolerância ao diferente, mas exige moderação entre várias atividades. Esta moderação servia para o asceta poder dedicar bastante de seu tempo com suas atividades essenciais, pois a filosofia (a amizade com o saber) era não só a filosofia como é conhecida hoje, mas era ciência e religião também. A partir daí a moderação era, e ainda é, mal vista por pessoas acostumadas (ou até viciadas) com os diversos luxos: Sejam banquetes, festas, orgias, ou bens materiais tidos como preciosos. 

Alguém poderia falar: Oras, eles (os pitagóricos e socráticos) eram uns cientistas de araque porque eram religiosos! 

Será? Há uma prova empírica disto? Certamente não. A revolução feita por esses e alguns outros filósofos da Grécia Clássica foi praticamente única: Em seu tempo a civilização grega fez vários avanços notáveis nas ciências e deixou de ser composta por ligas de cidades-estado, tornando-se um império. A esfericidade da Terra por exemplo, foi teorizada por Pitágoras (570 aC - 490 aC), aceita por Sócrates e por Platão, calculada por Erastótenes (276 aC - 194 aC) e difundida até o tempo de Crates de Mallus (~220 aC - 140 aC). 

Ah, mas o que acabou com o império greco-macedônico não foi a religião? Não. Foi a ganância, em grande parte, de líderes militares que, desejando mais terras e riquezas, atacaram uns aos outros em batalhas sangrentas e acabaram dividindo o império. 

E o conhecimento parou de se propagar, possivelmente com a expansão do Império Romano após a conquista de regiões de cultura grega, como Pérgamo. 

Com a decadência do Império Romano, muitos destes conhecimentos ficariam restritos à igreja católica (e/ou ao Califado Rashidah/ Omíada), que consolidaria seu poder durante e após a queda do império. Porém, a filosofia de muitos destes autores "gregos clássicos" sobreviveu nos impérios árabes e só retornaram à Europa após o período da construção das primeiras universidades e das primeiras cruzadas durante o século 12. 

Materialistas são realistas? 

Mais uma vez devo lembrar que o sufixo ismo refere-se a uma centralidade ou a uma doutrina (baseada no termo anterior ao sufixo). 

Até mesmo admitir a matéria como centro de todos assuntos ou de uma doutrina tem sua subjetividade, afinal o que é matéria? Todos elementos encontrados nos 3 ou 4 estados - sólido, líquido, gasoso e plasmático? Do que é feita a matéria? Átomos? Prótons, nêutrons e elétrons? Os prótons são constituídos de quarks, mas quarks são sub-partículas? Porque não são partículas? Os elétrons estão em movimento ou parados? Há estudos que indicam que não estejam em nenhuma destas condições conhecidas... Ou seja, materialismo é um conceito simplista e possivelmente obsoleto. Esta observação não se trata de desprezar as ciências exatas ou o método empírico e sim de começar a dar a devida atenção para certos campos como, por exemplo, para a física teórica e para as teorias da psicologia fenomenológica e psicanalítica. 

Atacar ou menosprezar modelos mais teóricos, seja das ciências exatas ou das humanas serve a alguém. Toda ação tem um porque e uma finalidade. Crer que o acaso gere algo, é tolice, o próprio prefixo da palavra acaso é uma negação, portanto acaso significa "não-caso" ou sem causa. O não ou o nada não podem ser provados por método de estudo algum. Prova-se o que existe, seja fácil ou difícil de descobrir... Inclusive os termos corretos deveriam ser encoberto e descoberto. 

Os ataques aos modelos mais teóricos (os que conheço melhor são da psicologia e não da física) então têm a finalidade de impedi-los, portanto possuem objetivo de estagnação ou encobrimento dos estudos, teorias etc. Este é um comportamento comum de quem está confortável, ou por cima de uma situação. Como mencionei em outros textos, esta é uma tática usada por lideranças religiosas, econômicas, políticas e militares… Mas sabemos que na civilização humana, a classe científica/ acadêmica não está no topo. Este topo refere-se a quem tem mais recursos e obviamente é ocupado pelos mais milionários, que em geral são "mega empresários". E sim, os indivíduos que compõem esta classe, são extremamente materialistas. Acumular recursos que sustentariam milhares de famílias por décadas, enquanto milhões de pessoas passam fome pelo planeta é uma prova disto. 

Além do materialismo, é sempre bom lembrar o nível da ganância, que nada mais é do que parte da ideologia capitalista. Se há provas disto? Sim, há: 

Uma prova é os empresários mais ricos fazerem lobby em busca de mais benefícios próprios enquanto a humanidade passa por uma situação de desigualdade e miséria. Outra prova é poluir ou destruir biomas do planeta em busca de mais benefícios próprios. Outra prova é evitar pagar imposto em busca de mais benefícios próprios, enquanto pessoas com renda 100 ou 1000 vezes inferior pagam seus impostos…  Enfim, não faltam provas que a ganância é uma (ou a) força motriz do capitalismo. Esta ganância nociva a maior parte da civilização é também prova de que os indivíduos que constituem o topo da "cadeia socioeconômica" da Terra possuem psicopatologias. Isto de maneira alguma fazem deles vítimas, pois as ações de tais indivíduos afetam milhares ou até milhões de pessoas, seja em um país ou no mundo todo. 

Parece até um conto mitológico ou de fantasia, mas não é impossível descobrir alguns destes indivíduos: Em mídias de direita (de teor capitalista, neoliberal, como a Forbes) eles ocasionalmente aparecem como bons exemplos, praticamente ídolos. Já em mídias de esquerda (seja social democrata ou até de ideais comunistas), eles são geralmente expostos, por seus crimes e ações mesquinhas. Ações que certamente provam que são psicopatas ou sociopatas. 

 Troca de Poderes na História Ocidental 

Esta classe que ocupa o topo da cadeia socioeconômica não é novidade. Ela foi se formando a partir de burgueses europeus que foram adquirindo direitos gradualmente a partir da idade média baixa (no século 14, quando ocorreram grandes conflitos entre ordens religiosas e aristocracias). Naquela época as coisas até pareciam equilibradas, já que eles concorriam com outras poderosas classes - a aristocracia e o alto clero. Além disto, tais classes "burguesas" não têm uma raiz única: muitos grupos foram se juntando a eles, como calvinistas, companhias privadas de navegação etc. 

No século 15 acabam as tentativas de conciliação entre a igreja católica romana e a ortodoxa na Europa. Dos concílios restaram apenas as discussões filosóficas das universidades, que, somado a chegada e transformação da imprensa na Europa, fomentou a "renascença" deste continente. Mas como nem tudo é um mar de rosas, o Império Otomano dificultou o acesso das potências europeias aos produtos orientais (da Ásia). Eis que alguns países europeus passam a buscar novas rotas e passam a explorar severamente a África subsaariana e a América. 

Na virada do século 16 para o 17 os europeus atingem um nível de exploração de recursos naturais do mundo jamais visto antes na história. Os espanhóis levaram quantidades gigantescas de ouro e prata do Império Inca para Europa e acabaram sofrendo pesadas derrotas e saques nas mãos de ingleses (1588) e de neerlandeses (holandeses, por volta de 1628-1630). Em 1621 os neerlandeses criam a primeira companhia de capital aberto, a Western Indian Company (WIC). O discurso liberal começa a ganhar muita força, pois o sistema mercantil centrado nas monarquias se mostrava obsoleto: Havia riqueza para todos os europeus exploradores e colonialistas, então era possível o aparecimento de novos poderes. Com o discurso de supostos representantes do povo, a burguesia começava a conquistar seu espaço. Misturando-se com os conflitos religiosos entre protestantes / calvinistas e católicos, no ano de 1640 os burgueses fazem exigências para a monarquia inglesa que acaba apreendendo o ouro privado. Pouco tempo depois, em 1642 começam os conflitos que acabariam com o assassinato do rei inglês e a instauração da Comunidade ("República") Inglesa em 1649. Obviamente as aristocracias reagem na Europa e em 1660 a monarquia volta ao poder na Inglaterra. Os conflitos eventualmente continuaram e já não tinham nem traços de causas nobres: Notoriamente tornaram-se uma mera disputa de poderes. A exploração de mão de obra escravizada e a quantidade de riquezas extraídas da África e principalmente das Américas poderia ter resolvido todas as solicitações de justiça social e religiosa dos países europeus que originaram a disputa entre católicos e protestantes. Tais conflitos que se consolidaram nas guerras hussitas (1435-1436) e politicamente na "reforma da igreja" (1518-1529), se alastraram pela Europa, transformando-se nestas guerras de interesse econômico do século 17. No final do século 17, discordando dos métodos investigativos do continente europeu (o racionalismo/ pensamento cartesiano, desenvolvido em meados do mesmo século), os britânicos propõem o empirismo como método científico. Talvez tais movimentos discretamente façam parte dessas disputas por poder e influência, mesmo porque alguns destes mesmos britânicos (ingleses) registram e propõem a ideologia liberal. Estava consolidado o liberalismo: Liberdade esta que não libertava os escravos, pois tratava-se só de uma ideologia de classes sociais endinheiradas, resumidamente de burgueses. O frágil equilíbrio entre burguesia, clero e aristocracia acabaria desfazendo-se em mais alguns conflitos de interesses. 

A partir daí, no início do século 18, ocorrem a expansão colonial britânica (que derrota a França absolutista em diversos conflitos pelo globo) e a supressão das missões jesuítas pela aristocracia Luso-espanhola. No final deste século também começava a revolução industrial (motores a vapor etc) e o declínio das monarquias (com a independência dos EUA e a Revolução Francesa). Aí surgem os termos direita e esquerda, conhecidos até hoje: A direita que defendia a liberdade dos comerciantes bem sucedidos (burgueses) apoiada por alguns setores da igreja europeia e a esquerda que pretendia aprofundar a revolução redistribuindo riquezas aos mais pobres. Ainda que os 2 lados tenham cometido erros, ou se corrompido em certos momentos, é interessante lembrar que poucos foram os enriquecidos (essencialmente a direita) que perderam suas fortunas, influências e poderes. Conforme a escravidão foi sendo lentamente abolida nas colônias dos países europeus, classes de trabalhadores pobres foram colocadas em seu lugar e estas tiveram que lutar contra a exploração física, social e até mental. 

Nada disso justifica os mais ricos explorarem os mais pobres e os mais humildes. Na verdade tais fatos só provam que quem tem poder (aqui fica nítido que os maiores poderes do ocidente desde a renascença foram o econômico e o religioso) e não abdica disto, é orgulhoso e/ou egoísta. Egoísta obviamente se trata de essencialmente ganancioso nestes casos. Qualquer um pode notar isso, a menos que negue a realidade. O capitalismo não é uma força da natureza, não "pré-existe" a humanidade e a verdadeira fé cristã não aceita enriquecimento enquanto pessoas vivem na pobreza ou na miséria. 

Grandes fortunas só se justificam (de tornar justo) quando aplicadas em grandes obras humanitárias e principalmente em projetos para o progresso de toda humanidade. Não apenas para uma pequena parcela de humanos enriquecidos. Quem acumula grandes riquezas materiais não é um exemplo de racionalidade, muito menos de empatia (no sentido de ser solidário, que se põe no lugar do outro). Não é a favor do progresso científico nem da verdadeira espiritualidade.

3 comentários:

  1. Algumas observações:

    "Para propagar essa necessidade artificial de consumo, obviamente houve necessidade do aumento da produção de bens comercializáveis dentro do sistema predominantemente capitalista..."

    Na verdade, boa parte do que li utiliza a ordem inversa, é o aumento dos bens de consumo que força o surgimento do consumismo.

    "materialismo
    Aprenda a pronunciar
    substantivo masculino
    1.
    FILOSOFIA
    doutrina que identifica, na matéria e em seu movimento, a realidade fundamental do universo, com a capacidade de explicação para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais.
    2.
    POR EXTENSÃO
    maneira de viver extremamente devotada aos bens, valores e prazeres materiais.
    Definições de Oxford Languages"

    É bom diferenciar bem os dois tipos de materialismo, pois a filosofia não tem muito a ver com o segundo significado, tem mais a ver com modelos de compreensão do mundo, com a ordem das etapas de compreensão, partindo do material para o ideário, sendo o inverso de outras filosofias onde o estudioso tem uma ideia e aplica no estudo de determinado objeto.

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    1. Sobre o consumismo eu também vi autores que alegam que o aumento de bens de consumo força seu surgimento. Entendo que muitos autores afirmam que o consumismo só surgiu verdadeiramente por volta do "boom" de produção do início do século 20, com a industria automotiva (fordismo ou algo assim), mas acho que foi um processo gradual (e não menos nocivo por isso) que começou após o uso do vapor no início da revolução industrial, afinal foi do meio para o fim do séc 18 que bateram de frente com o mercantilismo, registraram o liberalismo, surgiram as companhias privadas e o houve o excedente de confecção de diversos produtos através da exploração escravagista. Sendo um processo gradual durou cerca de 2 séculos, houve tempo o bastante para as altas classes pensar e espalhar ideias para reforçar o liberalismo/ capitalismo. Então quando as empresas começaram a produzir demais no século 20, seus proprietários já deviam saber que precisariam de muitos consumidores.

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    2. Sobre materialismo eu me apoiei na etimologia da palavra com um sentido único. Mas na definição da própria filosofia materialista aí diz que ela tem capacidade para explicar todos os fenômenos mentais a partir da matéria... É deste ponto de vista que surgiram comportamentalistas que "provaram a não existência do inconsciente da mente humana"... E provar não existência de algo não é muito científico... Por fim, partir do material para o ideário já é um viés por si só (nada aqui na Terra parece escapar do viés), mas aí estamos reproduzindo discussões do período iluminista (desde Locke até Husserl) xD

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