sábado, 29 de julho de 2023

Smartphones e IAs

 


Este post surgiu justamente após eu gerar o desenho acima no criador de imagens do Bing para achar a tela de login e gerar mais pontos para recompensas para trocar por Robux para a minha enteada.

Todos os assuntos tratados nas linhas acima estão relacionados à motivação por trás desta reflexão. O smartphone já foi abordado por mim neste blog e ele volta à tona novamente. Aliás, tecnologia e IA também foram abordados, embora com motivação coercitiva. O que adiciona componentes às reflexões anteriores são acontecimentos recentes e minha própria vivência: a abundância de matérias sobre IA após o rebuliço causado pelo ChatGPT; a abundância de vídeos sobre telas e crianças que surge nas minhas redes sociais empurrados pelos algorítmos; a observação do comportamento da minha esposa e minha enteada; a reflexão sobre como agir com meu filho que está a caminho de nossa vivência fora de úteros.

O desenho retrata o smartphone como ele é descrito nesses vídeos das minhas redes sociais (um monstro), mas ainda com o nosso olhar pessoal lançado sobre ele (um monstro meigo, pronto para interação infantil). E ele é meigo porque embora consigamos reconhecer o enorme perigo que ele representa, nós não conseguimos largá-lo. E achamos meia-soluções para nossos problemas, 'ah, vamos cortar o tablet das crianças somente de fim de semana', 'vou jogar esse jogo de caça-níqueis só uma vez por semana', 'vou só desativar as notificações desse grupo com 5000 integrantes', 'deixa eu só responder essa pergunta sobre meu serviço'...e por aí vai.

A verdade é que o smartphone já é praticamente indispensável como ferramenta e a pressão social só aumenta ('Instale esse app para fazer isso, instale esse outro para fazer outra coisa, instale para ter a conta gold...'). É impensável você estar em alguns cargos e não ter um celular, as chances de você ser demitido são grandes. Estamos caminhando para aquele episódio de Black Mirror, o primeiro da terceira temporada, Nose Dive (o que aliás me fez pensar agora mesmo no mergulho do meu nariz em direção à tela e minhas constantes dores no pescoço). O episódio aliás, tem como foco as avaliações, mas ninguém vivia sem um celular na mão.

As avaliações merecem uma reflexão à parte. Outra pressão social. Uma pressão por excelência, aliás, onde apenas a nota máxima é aceita. 10 ou 5, dependendo da escala, todo o restante é um ultraje, é como se gritassem 'ou é perfeito ou é um lixo completo!' Uma enorme trama de choque entre o subjetivismo e a exigência por entrega máxima e descolada do entorno. É claro que sabemos o que está por trás de todo esse oceano de chorume: o capitalismo.

Eu defendi o smartphone no primeiro post diminuindo sua culpa no cenário ao dizer que é apenas um foco importante do capitalismo, mas esses vídeos no Instagram, Facebook, Tiktok, acabam me empurrando na direção de arrastá-lo um pouco mais próximo do grande vilão. E essa tecnologia entra no time das redes sociais com seus algoritmos viciantes, com seus truques para prender a atenção das pessoas baseados em psicologia.

O que acontece é que por mais que gostamos de pensar que os mestres das nossas mentes somos nós mesmos, a verdade não é bem essa. Nossas mentes possuem componentes biológicos que não podem ser ignorados, que afetam nosso comportamento e a própria formação de raciocínio lógico. Como você já pode imaginar, isso é muito mais sério quando o assunto é a mente de uma criança.

Eu recomendo que você faça uma busca desses vídeos sobre crianças e telas e tente filtrar o que há de muito sério ali. Eu não acompanhei o desenvolvimento da minha enteada, estou com ela há um pouco menos de 1 ano, mas sei reconhecer que é um comportamento muito diferente do meu e dos meus irmãos como crianças. Afora todo o diferencial causado por criação e épocas diferentes, o smartphone parece estar relacionado à boa parte desse comportamento discrepante.

Minha enteada possui acesso irrestrito ao smartphone. Basicamente seu universo na internet se resume ao YouTube, OiTube, Tiktok e Roblox. Existe certa semelhança com nossa infância, onde tínhamos acesso à Globo, Manchete, SBT, Record e Bandeirantes (por onde estavam distribuídos os desenhos e séries japonesas), e ao Nintendo e Supernintendo. A diferença principal é a escolha do conteúdo e, principalmente, a escolha do quando. Quem ditava o que e quando iríamos assistir TV eram as emissoras de TV (mais as restrições dos pais - 'Esse filme não é pra criança, vai dormir').

Hoje não é assim. A criança tem o que quer, quando quer (dentro do limite do que o capitalismo oferta, com o pagamento sendo realizado por assinatura ou por propagandas enfiadas guela abaixo). Minha esposa disse que tentou utilizar algum grau de controle parental no celular, mas retrocedeu ante à agressividade da menina.

Recentemente a menina começou a dar socos na tela do celular para extravasar sua ira com o desempenho do aparelho (que talvez tenha alguma relação com o software de controle parental da Google que instalei - preciso pesquisar sobre) ou seu próprio desempenho nos jogos (meu irmão do meio já fez isso com a TV). Está com a tela toda rachada (novamente, culpa parcial minha que removi a ridícula película toda debulhada e com 'orelha de livro').

É claro que alguns pais possuem um controle maior sobre essa parte da educação dos filhos, mas receio que sejam minoria. Os próprios pais podem estar tentando 'liderar sem dar o exemplo'. Horas e horas na frente da tela, respondendo como zumbis (quando respondem), acumulando tarefas atrasadas, comprometendo-se com o trabalho fora do horário de expediente, rodando sua timeline até não poder mais.

Recentemente voltei ao Facebook, ao Instagram, e criei contas para Kwai e Tiktok. Com exceção do Facebook, cuja conta eu havia colocado em suspensão lá pelos idos de 2013 (esta conta, uma outra durou mais tempo), as outras redes 'não me conheciam', e o conteúdo sugerido era duro de aguentar. O algoritmo do Kwai teve uma estratégia interessante ao apostar em softporn, mas ficou eternamente preso a isso até eu desinstalar. O Tiktok teve alguma dificuldade em se adaptar ao meu gosto, mas continuei por lá para dar uma olhada no conteúdo da minha enteada. Já o Instagram, demorou, mas conseguiu começar a ofertar conteúdo que me atraísse (o expertise do Zuckberg deve ter alguma influência aí), e eu já estou mais preso ao celular.

O quanto nós, com nossos cérebros de adultos, conseguimos ficar livres da influência dos truques psicológicos engendrados pelos cérebros por trás das redes sociais? É uma pergunta importante. A capacidade de ação dessas tecnologias aumenta assustadoramente com IAs, big data, machine learning.

A discussão vai mais longe quando questionamos o quanto essas IAs podem fazer no nosso lugar. Outra moda nos vídeos empurrados para mim é a de pessoas indicando quais IAs utilizar em determinadas tarefas. E é claro que não podia faltar a discussão sobre se vamos perder nossos empregos. Eu já havia citado o caso do drone programador no meu post forçado por entrevista de emprego. As demissões em massa de programadores vieram nessa linha. Não sei se vamos todos perder nossos empregos, mas que haverá uma reconfiguração mais drástica da força de trabalho, haverá.

Há solução para esses problemas? A resposta que depende de fatores que escapam de nosso tempo, seria a classe trabalhadora tomar o poder. Mas em escala menor, vejo a socialização como paliativa, talvez até propondo alternativas que caminhem em direção coincidente com a que uma revolução tomaria.

Minha enteada esquece o celular boa parte do tempo em que está com os amigos. Minha esposa também o larga quando está com seus conhecidos. Eles se articulam em redes de ajuda distorcidas por interesses pessoais, mas que acabam funcionando parcialmente.

Na última crise mais grave na Argentina vimos notícias sobre uma espécie de volta ao escambo. Quem vive em São Paulo pode já ter observado a rede de ajuda que os imigrantes bolivianos possuem, com carros e casas coletivas. De modo menor, isso também é existente entre os nordestinos que foram para São Paulo. Aqui em Salinópolis existe uma rede de comércio menor derivada da coleta de frutos do mar, do mangue, etc.

Enfim, essas soluções paliativas certamente surgirão nas próximas crises econômicas para evitar os maiores danos. Se podem evoluir para algo mais organizado e politizado, teremos que observar.

O quanto a socialização pode barrar a influência das propriedades viciantes de tecnologias e alimentação industrial também precisa ser observado. Mesmo limitada pela questão da aceitação social desses elementos viciantes, ela tem uma influência positiva na mente humana, mas isso não impedirá os danos físicos que esses elementos podem causar na saúde (seja tela fazendo mal aos olhos, ou açúcar e sal causando diversos males).

Para velhos resmungões como eu, que possuem certa aversão à socialização, resta confiar mais no grupo seleto de pessoas que você escolheu manter por perto e fortalecer sua mente.

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