sábado, 29 de julho de 2023

Smartphones e IAs

 


Este post surgiu justamente após eu gerar o desenho acima no criador de imagens do Bing para achar a tela de login e gerar mais pontos para recompensas para trocar por Robux para a minha enteada.

Todos os assuntos tratados nas linhas acima estão relacionados à motivação por trás desta reflexão. O smartphone já foi abordado por mim neste blog e ele volta à tona novamente. Aliás, tecnologia e IA também foram abordados, embora com motivação coercitiva. O que adiciona componentes às reflexões anteriores são acontecimentos recentes e minha própria vivência: a abundância de matérias sobre IA após o rebuliço causado pelo ChatGPT; a abundância de vídeos sobre telas e crianças que surge nas minhas redes sociais empurrados pelos algorítmos; a observação do comportamento da minha esposa e minha enteada; a reflexão sobre como agir com meu filho que está a caminho de nossa vivência fora de úteros.

O desenho retrata o smartphone como ele é descrito nesses vídeos das minhas redes sociais (um monstro), mas ainda com o nosso olhar pessoal lançado sobre ele (um monstro meigo, pronto para interação infantil). E ele é meigo porque embora consigamos reconhecer o enorme perigo que ele representa, nós não conseguimos largá-lo. E achamos meia-soluções para nossos problemas, 'ah, vamos cortar o tablet das crianças somente de fim de semana', 'vou jogar esse jogo de caça-níqueis só uma vez por semana', 'vou só desativar as notificações desse grupo com 5000 integrantes', 'deixa eu só responder essa pergunta sobre meu serviço'...e por aí vai.

A verdade é que o smartphone já é praticamente indispensável como ferramenta e a pressão social só aumenta ('Instale esse app para fazer isso, instale esse outro para fazer outra coisa, instale para ter a conta gold...'). É impensável você estar em alguns cargos e não ter um celular, as chances de você ser demitido são grandes. Estamos caminhando para aquele episódio de Black Mirror, o primeiro da terceira temporada, Nose Dive (o que aliás me fez pensar agora mesmo no mergulho do meu nariz em direção à tela e minhas constantes dores no pescoço). O episódio aliás, tem como foco as avaliações, mas ninguém vivia sem um celular na mão.

As avaliações merecem uma reflexão à parte. Outra pressão social. Uma pressão por excelência, aliás, onde apenas a nota máxima é aceita. 10 ou 5, dependendo da escala, todo o restante é um ultraje, é como se gritassem 'ou é perfeito ou é um lixo completo!' Uma enorme trama de choque entre o subjetivismo e a exigência por entrega máxima e descolada do entorno. É claro que sabemos o que está por trás de todo esse oceano de chorume: o capitalismo.

Eu defendi o smartphone no primeiro post diminuindo sua culpa no cenário ao dizer que é apenas um foco importante do capitalismo, mas esses vídeos no Instagram, Facebook, Tiktok, acabam me empurrando na direção de arrastá-lo um pouco mais próximo do grande vilão. E essa tecnologia entra no time das redes sociais com seus algoritmos viciantes, com seus truques para prender a atenção das pessoas baseados em psicologia.

O que acontece é que por mais que gostamos de pensar que os mestres das nossas mentes somos nós mesmos, a verdade não é bem essa. Nossas mentes possuem componentes biológicos que não podem ser ignorados, que afetam nosso comportamento e a própria formação de raciocínio lógico. Como você já pode imaginar, isso é muito mais sério quando o assunto é a mente de uma criança.

Eu recomendo que você faça uma busca desses vídeos sobre crianças e telas e tente filtrar o que há de muito sério ali. Eu não acompanhei o desenvolvimento da minha enteada, estou com ela há um pouco menos de 1 ano, mas sei reconhecer que é um comportamento muito diferente do meu e dos meus irmãos como crianças. Afora todo o diferencial causado por criação e épocas diferentes, o smartphone parece estar relacionado à boa parte desse comportamento discrepante.

Minha enteada possui acesso irrestrito ao smartphone. Basicamente seu universo na internet se resume ao YouTube, OiTube, Tiktok e Roblox. Existe certa semelhança com nossa infância, onde tínhamos acesso à Globo, Manchete, SBT, Record e Bandeirantes (por onde estavam distribuídos os desenhos e séries japonesas), e ao Nintendo e Supernintendo. A diferença principal é a escolha do conteúdo e, principalmente, a escolha do quando. Quem ditava o que e quando iríamos assistir TV eram as emissoras de TV (mais as restrições dos pais - 'Esse filme não é pra criança, vai dormir').

Hoje não é assim. A criança tem o que quer, quando quer (dentro do limite do que o capitalismo oferta, com o pagamento sendo realizado por assinatura ou por propagandas enfiadas guela abaixo). Minha esposa disse que tentou utilizar algum grau de controle parental no celular, mas retrocedeu ante à agressividade da menina.

Recentemente a menina começou a dar socos na tela do celular para extravasar sua ira com o desempenho do aparelho (que talvez tenha alguma relação com o software de controle parental da Google que instalei - preciso pesquisar sobre) ou seu próprio desempenho nos jogos (meu irmão do meio já fez isso com a TV). Está com a tela toda rachada (novamente, culpa parcial minha que removi a ridícula película toda debulhada e com 'orelha de livro').

É claro que alguns pais possuem um controle maior sobre essa parte da educação dos filhos, mas receio que sejam minoria. Os próprios pais podem estar tentando 'liderar sem dar o exemplo'. Horas e horas na frente da tela, respondendo como zumbis (quando respondem), acumulando tarefas atrasadas, comprometendo-se com o trabalho fora do horário de expediente, rodando sua timeline até não poder mais.

Recentemente voltei ao Facebook, ao Instagram, e criei contas para Kwai e Tiktok. Com exceção do Facebook, cuja conta eu havia colocado em suspensão lá pelos idos de 2013 (esta conta, uma outra durou mais tempo), as outras redes 'não me conheciam', e o conteúdo sugerido era duro de aguentar. O algoritmo do Kwai teve uma estratégia interessante ao apostar em softporn, mas ficou eternamente preso a isso até eu desinstalar. O Tiktok teve alguma dificuldade em se adaptar ao meu gosto, mas continuei por lá para dar uma olhada no conteúdo da minha enteada. Já o Instagram, demorou, mas conseguiu começar a ofertar conteúdo que me atraísse (o expertise do Zuckberg deve ter alguma influência aí), e eu já estou mais preso ao celular.

O quanto nós, com nossos cérebros de adultos, conseguimos ficar livres da influência dos truques psicológicos engendrados pelos cérebros por trás das redes sociais? É uma pergunta importante. A capacidade de ação dessas tecnologias aumenta assustadoramente com IAs, big data, machine learning.

A discussão vai mais longe quando questionamos o quanto essas IAs podem fazer no nosso lugar. Outra moda nos vídeos empurrados para mim é a de pessoas indicando quais IAs utilizar em determinadas tarefas. E é claro que não podia faltar a discussão sobre se vamos perder nossos empregos. Eu já havia citado o caso do drone programador no meu post forçado por entrevista de emprego. As demissões em massa de programadores vieram nessa linha. Não sei se vamos todos perder nossos empregos, mas que haverá uma reconfiguração mais drástica da força de trabalho, haverá.

Há solução para esses problemas? A resposta que depende de fatores que escapam de nosso tempo, seria a classe trabalhadora tomar o poder. Mas em escala menor, vejo a socialização como paliativa, talvez até propondo alternativas que caminhem em direção coincidente com a que uma revolução tomaria.

Minha enteada esquece o celular boa parte do tempo em que está com os amigos. Minha esposa também o larga quando está com seus conhecidos. Eles se articulam em redes de ajuda distorcidas por interesses pessoais, mas que acabam funcionando parcialmente.

Na última crise mais grave na Argentina vimos notícias sobre uma espécie de volta ao escambo. Quem vive em São Paulo pode já ter observado a rede de ajuda que os imigrantes bolivianos possuem, com carros e casas coletivas. De modo menor, isso também é existente entre os nordestinos que foram para São Paulo. Aqui em Salinópolis existe uma rede de comércio menor derivada da coleta de frutos do mar, do mangue, etc.

Enfim, essas soluções paliativas certamente surgirão nas próximas crises econômicas para evitar os maiores danos. Se podem evoluir para algo mais organizado e politizado, teremos que observar.

O quanto a socialização pode barrar a influência das propriedades viciantes de tecnologias e alimentação industrial também precisa ser observado. Mesmo limitada pela questão da aceitação social desses elementos viciantes, ela tem uma influência positiva na mente humana, mas isso não impedirá os danos físicos que esses elementos podem causar na saúde (seja tela fazendo mal aos olhos, ou açúcar e sal causando diversos males).

Para velhos resmungões como eu, que possuem certa aversão à socialização, resta confiar mais no grupo seleto de pessoas que você escolheu manter por perto e fortalecer sua mente.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Mente, Tempo e Pressupostos Filosóficos da Ciência

 

Trago aqui as explicações sobre o tempo do astrofísico, matemático e filósofo Arthur Stanley Eddington e um resumo sobre as ideias do psiquiatra Eugene Minkowski e do filósofo Henry Bérgson. A partir destes estudos é possível perceber a relação entre diversas áreas do conhecimento e como elas apontam algumas contradições das bases da ciência tradicional que ainda é a corrente científica principal neste início de século 21. 

Após uma breve citação sobre o filósofo Henry Bergson, que diferenciava o tempo vivido (na consciência etc) dos conceitos da física newtoniana de espaço e tempo, Eddington, em seu livro "A Natureza do Mundo Físico", afirma que a teoria de Einstein, esclareceu qual é a natureza "dessa quantidade" que, sob o nome de tempo, tornou-se parte fundamental da estrutura da física clássica, ao constatar que o tempo físico se mistura de algum modo com o espaço: 

"Existe uma quantidade, não reconhecida na física pré-relatividade, que representa mais diretamente o tempo conhecido pela consciência. Isso é chamado de tempo adequado ou intervalo." O astrofísico e filósofo diz que este tempo adequado é separado e diferente do espaço próprio. E conclui aos seus leitores: "seu protesto em nome do bom senso contra a mistura de tempo e espaço é um sentimento que desejo encorajar. Tempo e espaço devem ser separados. A representação atual do mundo duradouro como um espaço tridimensional saltando de instante a instante através do tempo é uma tentativa malsucedida de separá-los. Volte comigo para o mundo virginal quadridimensional e nós o esculpiremos de novo em um plano que os manterá inteiramente distintos. Podemos então ressuscitar o tempo quase esquecido da consciência e descobrir que ele tem uma importância gratificante no esquema absoluto da Natureza." 

Eddington então tenta mostrar como o ser humano foi considerando tempo e espaço diferentes entre si, de modo quase axiomático: 

"Se duas pessoas se encontram duas vezes, elas devem ter vivido o mesmo tempo entre os dois encontros, mesmo que uma delas tenha viajado para uma parte distante do universo e voltado nesse ínterim. 

Um experimento absurdamente impossível, você dirá. Isso mesmo; está fora de toda experiência. Portanto, posso sugerir que você não está apelando para sua experiência do tempo quando se opõe a uma teoria que nega a afirmação acima? E, no entanto, se a pergunta for pressionada, a maioria das pessoas responderia com impaciência que é claro que a afirmação é verdadeira. Eles formaram uma noção de tempo rolando fora de nós de uma maneira que faz isso parecer inevitável. Eles não se perguntam se essa conclusão é garantida por alguma coisa em sua experiência real do tempo. 

Embora não possamos tentar a experiência de enviar um homem para outra parte do universo, temos conhecimento científico suficiente para calcular as taxas de processos atômicos e outros processos físicos em um corpo em repouso e em um corpo viajando rapidamente. Podemos dizer definitivamente que os processos corporais do viajante ocorrem mais lentamente do que os processos correspondentes no homem em repouso. Isso não é particularmente misterioso; é bem conhecido tanto pela teoria quanto pela experiência que a massa ou inércia da matéria aumenta quando a velocidade aumenta. O retardo é uma consequência natural da maior inércia. Assim, no que diz respeito aos processos corporais, o viajante veloz vive mais devagar. Seu ciclo de digestão e fadiga; a taxa de resposta muscular ao estímulo; o desenvolvimento de seu corpo da juventude à idade; os processos materiais em seu cérebro que devem mais ou menos acompanhar a passagem de pensamentos e emoções; o relógio que bate no bolso do colete; tudo isso deve ser retardado na mesma proporção. Se a velocidade da viagem for muito grande, podemos descobrir que, enquanto o morador do lar envelheceu 70 anos, o viajante envelheceu 1 ano. Ele só encontrou apetite para 365 cafés da manhã, almoços etc.; seu intelecto, obstruído por um cérebro lento, apenas atravessou a quantidade de pensamento adequada a um ano de vida terrestre. Seu relógio, que fornece um cálculo mais preciso e científico, confirma isso. A julgar pelo tempo que a consciência tenta medir à sua maneira grosseira - e, repito, esta é a única contagem do tempo que temos o direito de esperar ser distinta do espaço - os dois homens não viveram o mesmo tempo entre os dois encontros. ao tempo estimado pela consciência é complicado pelo fato de que o cálculo é muito errático. “Vou lhe dizer com quem o Tempo caminha, com quem o Tempo trota, com quem o Tempo galopa e com quem ele fica parado.” Não me referi a essas variações subjetivas. Não arrasto de bom grado um cronometrista tão satisfatório; só eu tenho que lidar com o crítico que me diz o que “ele sente em seus ossos” sobre o tempo, e eu apontaria para ele que a base desse sentimento é o tempo vivido, que acabamos de ver pode ser de 70 anos para um individual e 1 ano por outro entre seus dois encontros. Podemos calcular o “tempo vivido” de forma bastante científica, por ex. por um relógio viajando com o indivíduo em questão e compartilhando suas mudanças de inércia com velocidade. Mas há desvantagens óbvias na adoção geral do “tempo vivido”. Pode ser útil para cada indivíduo ter um tempo privado exatamente proporcional ao seu tempo vivido; mas seria extremamente inconveniente para marcar consultas. Portanto, o Astrônomo Real adotou um cálculo de tempo universal que não segue estritamente o tempo vivido. Segundo ele, o lapso de tempo não depende de como o objeto em consideração se moveu nesse meio tempo. Admito que esse cálculo é um pouco difícil para nosso viajante que voltou, que será considerado por ele como um octogenário, embora, ao que tudo indica, ainda seja um adolescente. 

Mas sacrifícios devem ser feitos para o benefício geral. Na prática, não temos de lidar com seres humanos viajando a grande velocidade; mas temos de lidar com átomos e elétrons viajando a uma velocidade terrível, de modo que a questão do cálculo do tempo privado versus o cálculo geral do tempo é muito prática. 

Assim, no tempo físico, considera-se que duas pessoas viveram o mesmo tempo entre dois encontros, esteja ou não de acordo com sua experiência real. O conseqüente desvio do tempo da experiência é responsável pela mistura de tempo e espaço, o que, é claro, seria impossível se o tempo da experiência direta tivesse sido rigidamente respeitado. O tempo físico é, como o espaço, uma espécie de moldura na qual localizamos os eventos do mundo externo. Vamos agora considerar como, na prática, os eventos externos estão localizados em um quadro de espaço e tempo." 

Eddington então afirma que existe uma escolha infinita de quadros alternativos; e segue mostrando como localiza os eventos em seu quadro. 

Fig. 1 

"Localização dos Eventos Na Fig. 1 você vê uma coleção de eventos, indicados por círculos. No momento, eles não estão em seus devidos lugares; esse é o trabalho diante de mim - colocá-los em uma localização adequada em meu quadro de espaço e tempo. Entre eles, posso reconhecer e rotular imediatamente o evento Aqui-Agora, viz. o que está acontecendo nesta sala neste momento. Os outros eventos estão em graus variados de distância do Aqui-Agora, e é óbvio para mim que a distância não é apenas de diferentes graus, mas de diferentes tipos. Alguns eventos se espalharam para o que de maneira geral chamo de Passado; posso contemplar outros que estão distantes no futuro; outros estão distantes de outra maneira em direção à China ou ao Peru, ou em termos gerais a outros lugares. Nesta foto, só tenho espaço para uma dimensão de Outro Lugar; outra dimensão se projeta em ângulo reto com o papel; e você deve imaginar a terceira dimensão da melhor maneira possível. 

Agora devemos passar desse vago esquema de localização para um esquema preciso. A primeira e mais importante coisa é colocar-me em cena. Parece egoísta; mas, veja bem, é minha moldura de espaço que será usada, então tudo paira ao meu redor. Aqui estou eu - uma espécie de verme quadridimensional (Fig. 2). É um retrato correto; Eu tenho uma extensão considerável em direção ao Passado e presumivelmente em direção ao Futuro, e apenas uma extensão moderada em direção a Outro Lugar. O “eu instantâneo”, ou seja, eu mesmo neste instante, coincide com o evento Aqui-Agora. Examinando o mundo do Aqui-Agora, posso ver muitos outros eventos acontecendo agora. Isso põe em minha cabeça que o instante do qual estou consciente aqui deve ser estendido para incluí-los; e chego à conclusão de que o Agora não se limita ao Aqui-Agora. Eu, portanto, desenho o instante Agora, correndo como uma seção limpa através do mundo dos eventos, a fim de acomodar todos os eventos distantes que estão acontecendo agora. Seleciono os eventos que vejo acontecendo agora e os coloco nesta seção, que chamo de momento do tempo ou “estado instantâneo do mundo”. Eu os localizo no Agora porque eles parecem ser o Agora. 


Fig. 2 

Este método de localização durou até o ano de 1667, quando se verificou a impossibilidade de fazê-lo funcionar de forma consistente. Foi então descoberto pelo astrônomo Roemer que o que é visto agora não pode ser colocado no instante Agora. (Na linguagem comum, a luz leva tempo para viajar.) Isso foi realmente um golpe para todo o sistema de instantes mundiais, que foram especialmente inventados para acomodar esses eventos. Estávamos misturando dois eventos distintos; houve o evento original em algum lugar no mundo externo e houve um segundo evento, viz. a visão por nós do primeiro evento. O segundo evento foi em nossos corpos Aqui-Agora; o primeiro evento não foi nem aqui nem agora. A experiência, portanto, não dá nenhuma indicação de um Agora que não está Aqui; e poderíamos muito bem ter abandonado a ideia de que temos reconhecimento intuitivo de um Agora diferente do Aqui-Agora, que foi a razão original para postular instantes mundiais Agora. 

No entanto, acostumados aos instantes mundiais, os físicos não estavam dispostos a abandoná-los. E, de fato, eles têm uma utilidade considerável, desde que não os levemos muito a sério. Eles foram deixados como uma característica da imagem, e duas linhas Visto-Agora foram desenhadas, inclinando-se para trás a partir da linha Agora, na qual os eventos vistos agora devem ser consistentemente colocados. A cotangente do ângulo entre as linhas Visto-Agora e a linha Agora foi interpretada como a velocidade da luz. 

Assim, quando vejo um evento em uma parte distante do universo, por ex. o surgimento de uma nova estrela, localizo-a (muito apropriadamente) na linha Visto-Agora. Em seguida, faço um determinado cálculo a partir da paralaxe medida da estrela e desenho minha linha Agora para passar, digamos, 300 anos à frente do evento, e minha linha Agora de 300 anos atrás para passar pelo evento. 

Por este método eu traço o curso de minhas linhas do Agora ou instantes mundiais entre os eventos, e obtenho um quadro de localização no tempo para eventos externos. As linhas auxiliares do Visto-Agora, tendo cumprido seu propósito, são apagadas do quadro. 


Fig. 3 

É assim que localizo os eventos; e você? Devemos primeiro colocar Você na imagem (Fig. 3). Vamos supor que você está em outra estrela movendo-se com velocidade diferente, mas passando perto da Terra no momento presente. Você e eu estávamos distantes no passado e estaremos novamente no futuro, mas nós dois estamos Aqui-Agora. Isso é devidamente mostrado na foto. Examinamos o mundo do Aqui-Agora e, é claro, ambos vemos os mesmos eventos simultaneamente. Podemos receber impressões bastante diferentes deles; nossos diferentes movimentos causarão diferentes efeitos Doppler, contrações de FitzGerald, etc. Pode haver pequenos mal-entendidos até percebermos que o que você descreve como um quadrado vermelho é o que eu descreveria como um retângulo verde e assim por diante. Mas, permitindo esse tipo de diferença de descrição, logo ficará claro que estamos olhando para os mesmos eventos, e concordaremos inteiramente sobre como as linhas do Visto-Agora se posicionam em relação aos eventos. Começando com nossas linhas comuns do Visto-Agora, você tem que fazer os cálculos para desenhar sua linha Agora entre os eventos, e você a traça como mostrado na Fig. 3. 

 Como é que, partindo das mesmas linhas do Visto-Agora, você não reproduz a minha linha do Agora? É porque uma certa quantidade medida, viz. a velocidade da luz, tem que ser empregada nos cálculos; e naturalmente você confia em suas medidas assim como eu confio nas minhas. Como nosso instrumento é afetado por diferentes contrações de FitzGerald, etc., há muito espaço para divergência. O mais surpreendente é que ambos encontramos a mesma velocidade da luz, 299.796 quilômetros por segundo. Mas esse aparente acordo é realmente um desacordo; porque você considera isso uma velocidade relativa ao seu planeta e eu considero que é a velocidade relativa ao meu.* Portanto, nossos cálculos não estão de acordo e sua linha do Agora difere da minha. 

* A velocidade medida da luz é a velocidade média de ida e volta. A velocidade em uma direção isoladamente não pode ser medida até que as linhas do Agora tenham sido estabelecidas e, portanto, não pode ser usada para estabelecer as linhas do Agora. Assim, há um impasse ao traçar as linhas do Agora, que só podem ser removidas por uma suposição ou convenção arbitrária. A convenção realmente adotada é que (em relação ao observador) as velocidades da luz nas duas direções opostas são iguais. As linhas do Agora resultantes devem, portanto, ser consideradas igualmente convencionais. 

Se acreditarmos que nossos instantes mundiais ou linhas do Agora são algo inerente ao mundo fora de nós, brigaremos terrivelmente. Na minha opinião, é ridículo que você tome eventos à direita da imagem que ainda não aconteceram e eventos à esquerda que já são passados e chame a combinação de uma condição instantânea do universo. Você está igualmente desdenhoso do meu agrupamento. Nunca podemos concordar. Certamente, pela foto, parece que meus instantes foram mais naturais que os seus; mas isso é porque eu desenhei a imagem. Você, é claro, redesenharia com suas linhas do Agora em ângulos retos com você. Mas não precisamos discutir se as linhas do Agora são meramente linhas de referência traçadas em todo o mundo para conveniência na localização de eventos – como as linhas de latitude e longitude na Terra. Não há, então, questão de uma maneira certa e uma maneira errada de traçar as linhas; nós os desenhamos da maneira que melhor se adapte à nossa conveniência. Os instantes mundiais não são planos naturais de clivagem do tempo; não há nada equivalente a eles na estrutura absoluta do mundo; são partições imaginárias que achamos conveniente adotar." 

Eddington conclui que acostumamo-nos a considerar o mundo (o mundo duradouro) como estratificado em uma sucessão de estados instantâneos. Porém, em suas palavras, o astrofísico diz que um observador em outra estrela faria os estratos correrem em uma direção diferente da nossa e que nós podemos ver mais claramente o mecanismo real do mundo físico se pudermos livrar nossas mentes dessa ilusão de estratificação. 

Passado e Futuro Absolutos 

A seguir Eddington "tenta atingir a visão absoluta" do tempo (futuro e passado): "Apagamos todas as linhas do Agora. Apagamos Você e Eu mesmo, já que não somos mais essenciais para o mundo. Mas as linhas Visto-Agora são deixadas. Eles são absolutos, pois todos os observadores do Aqui-Agora concordam sobre eles. A imagem plana é uma seção; você deve imaginá-lo girado (na verdade, duas vezes girado, pois existem mais duas dimensões fora da imagem). O locus Visto-Agora é, portanto, realmente um cone; ou levando em consideração o prolongamento das linhas no futuro, um cone duplo ou figura de ampulheta (Fig. 4). Essas ampulhetas (desenhadas através de cada ponto do mundo considerado sucessivamente como um Aqui-Agora) incorporam o que sabemos da estrutura absoluta do mundo no que diz respeito ao espaço e ao tempo. Eles mostram como funciona o “grão” do mundo. 


Como a ampulheta é absoluta, seus dois cones fornecem, respectivamente, um Futuro Absoluto e um Passado Absoluto. Para o evento Aqui-Agora. Eles são separados por uma zona neutra em forma de cunha que (absolutamente) não é passado nem futuro. A impressão comum de que a relatividade vira o passado e o futuro completamente de pernas para o ar é bastante falsa. Mas, ao contrário do passado e do futuro relativos, o passado e o futuro absolutos não são separados por um presente infinitamente estreito. Sugere-se que a cunha neutra pode ser chamada de Presente Absoluto; mas não acho que seja uma boa nomenclatura. É muito melhor descrito como Absolute Elsewhere. Abolimos as linhas do Agora, e no mundo absoluto o presente (Agora) está restrito ao Aqui-Agora. 

Talvez eu possa ilustrar as condições peculiares decorrentes da zona neutra em forma de cunha com um exemplo bastante hipotético. Suponha que você esteja apaixonado por uma senhora em Netuno e que ela retribua o sentimento. Será algum consolo para a separação melancólica se você puder dizer a si mesmo em algum momento possivelmente predeterminado: “Ela está pensando em mim agora”. Infelizmente surgiu uma dificuldade porque tivemos que abolir o Agora. Não existe um Agora absoluto, mas apenas os vários Agoras relativos que diferem de acordo com o cálculo de diferentes observadores e cobrem toda a cunha neutra que à distância de Netuno tem cerca de oito horas de espessura. Ela terá que pensar em você continuamente por oito horas seguidas para contornar a ambigüidade do “agora”. 

Na maior separação possível na Terra, a espessura da cunha neutra não passa de um décimo de segundo; de modo que o sincronismo terrestre não seja seriamente interferido. Isso sugere uma qualificação de nossa conclusão anterior de que o presente absoluto está confinado ao Aqui-Agora. É verdade no que diz respeito a eventos instantâneos (eventos pontuais). Mas, na prática, os eventos que notamos são de duração mais do que infinitesimal. Se a duração for suficiente para cobrir a largura da zona neutra, então o evento tomado como um todo pode ser considerado absolutamente Agora. Deste ponto de vista, o “agora” de um evento é como uma sombra projetada por ele no espaço, e quanto mais longo o evento, mais longe a sombra da sombra se estenderá. 

À medida que a velocidade da matéria se aproxima da velocidade da luz, sua massa aumenta até o infinito e, portanto, é impossível fazer a matéria viajar mais rápido que a luz. Esta conclusão é deduzida das leis clássicas da física, e o aumento da massa foi verificado experimentalmente até velocidades muito altas. No mundo absoluto, isso significa que uma partícula de matéria só pode proceder do Aqui-Agora para o futuro absoluto – o que, você concordará, é uma restrição razoável e apropriada. Não pode viajar para a zona neutra; o cone limite é o rastro da luz ou de qualquer coisa que se mova com a velocidade da luz. Nós mesmos estamos apegados a corpos materiais e, portanto, só podemos prosseguir para o futuro absoluto. 

Eventos no futuro absoluto não estão absolutamente em outro lugar. Seria possível a um observador viajar do Aqui-Agora ao evento em questão a tempo de vivenciá-lo, desde que a velocidade necessária seja menor que a da luz; em relação ao referencial de tal observador, o evento seria Aqui. Nenhum observador pode alcançar um evento na zona neutra, pois a velocidade necessária é muito grande. O evento não está Aqui para nenhum observador (do Aqui-Agora); portanto, está absolutamente em outro lugar. 

A Distinção Absoluta de Espaço e Tempo 

Ao dividir o mundo em Absoluto Passado e Futuro, por um lado, e Absoluto "Noutro Lugar", por outro lado, nossas ampulhetas restauraram uma diferenciação fundamental entre tempo e espaço. Não é uma distinção entre relações temporais e espaciais. Os eventos podem estar para nós em uma relação temporal (absolutamente passado ou futuro) ou em uma relação espacial (absolutamente em outro lugar), mas não em ambos. 

As relações temporais irradiam para os cones passados e futuros e as relações espaciais para a cunha neutra; eles são mantidos absolutamente separados pelas linhas do Visto-Agora que identificamos com o grão de estrutura absoluta no mundo."

A seguir Eddington explica a diferença entre extensão de tempo e extensão de espaço. O cientista afirma que nosso curso através do mundo é para o futuro absoluto, ou seja, ao longo de uma sequência de relações temporais. E assim não podemos ter uma experiência semelhante de relações espaciais porque isso envolveria viajar com velocidade maior que a da luz. Então temos experiência imediata da relação temporal, mas não da relação espacial. "Nosso conhecimento das relações espaciais é indireto, como quase todo o nosso conhecimento do mundo externo - uma questão de inferência e interpretação das impressões que nos atingem por meio de nossos órgãos dos sentidos." 

O peso destas afimações de Arthur Eddington é tão significativo que elas devem gerar impacto na psicologia e uma discussão sobre o assunto deve ser válida ontologicamente e epistemologicamente para realizar possíveis ajustes na construção da psicologia como conhecimento: Como físicos, Eddington,Einstein, Rutherford e Heisenberg estudaram o espaço em nosso entorno e tiveram alguma propriedade para falar o quanto do conhecimento construído era mera inferência e interpretação. Argumentos baseados na existência de apenas 3 dimensões, que reduzem a psicologia à ontologia materialista devem no mínimo ser corrigidos, mas para não deixar este texto maior do que já está, não abordarei aqui estes argumentos existentes em certas abordagens psicológicas que praticamente se apoiam na visão de ciência da física clássica derrubada por Einstein, Eddington e outros físicos. 

Eddington continua: "Temos conhecimento indireto semelhante das relações temporais existentes entre os eventos do mundo fora de nós; mas, além disso, temos experiência direta das relações temporais que nós mesmos estamos atravessando - um conhecimento do tempo que não vem por meio de órgãos externos dos sentidos, mas toma um atalho em nossa consciência. Quando fecho meus olhos e me retiro para minha mente interior, sinto-me duradouro, não me sinto extenso. É esse sentimento do tempo afetando a nós mesmos que é tão peculiarmente característico dele - e não apenas existindo nas relações de eventos externos; O espaço, por outro lado, é sempre apreciado como algo externo. É por isso que o tempo nos parece muito mais misterioso do que o espaço. Não sabemos nada sobre a natureza intrínseca do espaço e, portanto, é bastante fácil concebê-lo satisfatoriamente. Temos conhecimento íntimo da natureza do tempo e, portanto, confunde nossa compreensão. É o mesmo paradoxo que nos faz acreditar que entendemos a natureza de uma mesa comum, enquanto a natureza da personalidade humana é completamente misteriosa. Nunca tivemos aquele contato íntimo com o espaço e as mesas que nos faria perceber o quanto elas são misteriosas; temos um conhecimento direto do tempo e do espírito humano que nos faz rejeitar como inadequada aquela concepção meramente simbólica do mundo que muitas vezes é confundida com uma visão (insight, introspecção) em sua natureza." 

Na sequência Eddigton explica o "mundo" quadridimensional: "Não sei se você está profundamente ciente do fato de que, há algum tempo, estamos imersos em um mundo quadridimensional. A quarta dimensão dispensa apresentações: assim que começamos a considerar os eventos, ela estava lá: O "mundo" quadridimensional. Os eventos obviamente têm uma ordem quádrupla que podemos dissecar em direita ou esquerda, atrás ou na frente, acima ou abaixo, mais cedo ou mais tarde - ou em muitos conjuntos alternativos de especificação quádrupla. A quarta dimensão não é uma concepção difícil. Não é difícil conceber os eventos como ordenados em quatro dimensões; é impossível concebê-los de outra forma. O problema começa quando continuamos nessa linha de pensamento, porque por um longo costume dividimos o mundo dos eventos em seções ou instantes tridimensionais e consideramos o empilhamento dos instantes como algo distinto de uma dimensão. 

Isso nos dá a concepção usual de um mundo tridimensional flutuando na correnteza do tempo. Este mimo de uma dimensão particular não é totalmente sem fundamento; é nossa apreciação grosseira da separação absoluta das relações de espaço e relações de tempo pelas figuras da ampulheta. Mas a discriminação grosseira deve ser substituída por uma discriminação mais precisa. Os supostos planos de estrutura representados pelas linhas Agora separavam uma dimensão das outras três; mas os cones de estrutura dados pelas figuras da ampulheta mantêm as quatro dimensões firmemente unidas." 

Estamos acostumados a pensar em um homem à parte de sua duração. Quando retratei “Eu mesmo” na Fig. 2, você ficou surpreso por eu incluir minha infância e velhice. Mas pensar em um homem sem sua duração é tão abstrato quanto pensar em um homem sem seu interior. As abstrações são úteis, e um homem sem seu interior (ou seja, uma superfície) é uma concepção geométrica bem conhecida. Mas devemos perceber o que é uma abstração e o que não é. Os “vermes quadridimensionais” apresentados neste capítulo parecem terrivelmente abstratos para muitas pessoas. De jeito nenhum; são concepções desconhecidas, mas não são concepções abstratas. É a seção do verme (o homem agora) que é uma abstração. E como as seções podem ser tomadas em direções um pouco diferentes, a abstração é feita de forma diferente por diferentes observadores que, consequentemente, atribuem diferentes contrações de FitzGerald a ela. O homem não-abstrato perdurando no tempo é a fonte comum de onde são feitas as diferentes abstrações. 

A aparência de um mundo quadridimensional neste assunto é devido a Hermann Minkowski. Einstein mostrou a relatividade das quantidades familiares da física; Minkowski mostrou como recuperar o absoluto voltando à sua origem quadridimensional e pesquisando mais profundamente. 

A Velocidade da Luz 

Uma característica da teoria da relatividade que parece ter despertado interesse especial entre os filósofos é o caráter absoluto da velocidade da luz. Em geral, a velocidade é relativa. Se falo de uma velocidade de 40 quilômetros por segundo, devo acrescentar “relativa à Terra”, “relativa a Arcturus” ou qualquer outro corpo de referência que eu tenha em mente. Ninguém entenderá nada da minha declaração, a menos que isso seja adicionado ou implícito. Mas é um fato curioso que se falo de uma velocidade de 299.796 quilômetros por segundo é desnecessário acrescentar a frase explicativa. Relativo a quê? Relativo a toda e qualquer estrela ou partícula de matéria no universo. Você deve se lembrar que uma linha Visto-Agora, ou rastro de um flash de luz, representa o grão da estrutura do mundo. Assim, a peculiaridade de uma velocidade de 299.796 quilômetros por segundo é que ela coincide com o grão do mundo. Os vermes quadridimensionais que representam os corpos materiais devem necessariamente atravessar o grão até o futuro cone, e temos que introduzir algum tipo de quadro de referência para descrever seu curso. Mas o flash de luz está exatamente ao longo do grão, e não há necessidade de nenhum sistema artificial de partições para descrever esse fato. 

O número 299.796 (quilômetros por segundo) é, por assim dizer, um número de código para o grão da madeira. Outros números de código correspondem aos vários buracos-de-minhoca que podem casualmente cruzar o grão. Temos diferentes códigos correspondentes a diferentes estruturas de espaço e tempo; o código numérico do grão da madeira é o único que é o mesmo em todos os códigos. Isso não é um acidente; mas não sei se alguma inferência profunda pode ser tirada disso, além de que nossos códigos de medida foram planejados racionalmente de modo a se basear no essencial e não nos aspectos casuais da estrutura do mundo. 

A velocidade de 299.796 quilômetros por segundo, que ocupa uma posição única em cada sistema de medida, é comumente chamada de velocidade da luz. Mas é muito mais do que isso; é a velocidade com que a massa da matéria se torna infinita, os comprimentos se contraem até zero, os relógios param. Portanto, surge em todos os tipos de problemas, quer a luz esteja envolvida ou não. 

Ao afirmar o caráter absoluto da velocidade da luz, os cientistas querem dizer que lhe atribuíram o mesmo número em todos os sistemas de medida; mas isso é um arranjo privado próprio - um elogio involuntário à sua importância universal. 

Passando dos números de medida para a coisa descrita por eles, o “grão” é certamente uma característica absoluta do mundo, mas também o são os “buracos de minhoca” (partículas materiais). A diferença é que o grão é essencial e universal, os buracos de minhoca casuais. A ciência e a filosofia muitas vezes se opõem ao discutir o Absoluto - um mal-entendido que, receio, é principalmente culpa dos cientistas. Na ciência, estamos preocupados principalmente com o caráter absoluto ou relativo dos termos descritivos que empregamos; mas quando o termo absoluto é usado com referência ao que está sendo descrito, geralmente tem o significado vago de “universal” em oposição a “casual”. 

Outro ponto sobre o qual, às vezes, houve confusão é a existência de um limite superior para a velocidade. Não é permitido dizer que nenhuma velocidade pode ultrapassar 299.796 quilômetros por segundo. Por exemplo, imagine um holofote capaz de enviar um feixe paralelo preciso até Netuno. Se o holofote girar uma vez por minuto, a extremidade do feixe de Netuno se moverá em um círculo com velocidade muito maior do que o limite acima. Este é um exemplo de nosso hábito de criar velocidades por uma associação mental de estados que não estão em conexão causal direta. A afirmação feita pela teoria da relatividade é mais restrita, viz.- Nem a matéria, nem a energia, nem nada capaz de ser usado como sinal pode viajar a mais de 299.796 quilômetros por segundo, desde que a velocidade seja referida a um dos referenciais de espaço e tempo considerados neste capítulo.* 

* Algumas ressalvas desse tipo são claramente necessárias. Frequentemente empregamos para propósitos especiais um referencial girando com a Terra; neste quadro, as estrelas descrevem círculos uma vez por dia e, portanto, são atribuídas velocidades enormes. 

A velocidade da luz na matéria pode em certas circunstâncias (no fenômeno da dispersão anômala) exceder este valor. Mas a velocidade mais alta só é alcançada depois que a luz passa pela matéria por alguns momentos, de modo a colocar as moléculas em vibração simpática. Um flash de luz não anunciado viaja mais lentamente. A velocidade, superior a 299.796 quilômetros por segundo, é, por assim dizer, alcançada por pré-combinação e não tem aplicação em sinalização. 

Somos obrigados a insistir nessa limitação da velocidade de sinalização. Tem o efeito de que só é possível sinalizar para o Futuro Absoluto. As consequências de ser capaz de transmitir mensagens relativas a eventos Aqui-Agora na cunha neutra são bizarras demais para contemplar. Ou a parte da cunha neutra que pode ser alcançada pelos sinais deve ser restringida de forma que viole o princípio da relatividade; ou será possível providenciar para que um confederado receba as mensagens que lhe enviaremos amanhã e as retransmita para nós para que as recebamos hoje! O limite da velocidade dos sinais é o nosso baluarte contra aquela confusão do passado e do futuro, da qual a teoria de Einstein às vezes é injustamente acusada. 

Expressa da maneira convencional, essa limitação da velocidade de sinalização a 299.796 quilômetros por segundo parece um decreto um tanto arbitrário da Natureza. Quase sentimos como um desafio encontrar algo que ande mais rápido. Mas se afirmarmos de forma absoluta que a sinalização só é possível ao longo de uma trilha de relação temporal e não ao longo de uma trilha de relação espacial, a restrição parece racional. Para violá-lo, não temos apenas que encontrar algo que vá apenas 1 quilômetro por segundo melhor, mas algo que ultrapasse essa distinção de tempo e espaço – que, estamos todos convencidos, deve ser mantida em qualquer teoria sensata."

Relação do Tempo com a Mente na Psiquiatria e na Filosofia 

A seguir serão mostradas as interpretações sobre o tempo e como este relaciona-se com a mente feitas pelo filósofo Henry Bérgson (citado por Eddington) e pelo psiquiatra fenomenólogo Eugene Minkowski. 

O mérito de Bérgson reside, segundo Piettre (1997), na sugestão da hipótese de que o tempo da natureza não é o tempo medida da ciência feito de instantes, mas um tempo constituído por uma duração irreversível e rica de um futuro. Sua grande contribuição foi a distinção entre tempo vivido como experiência interna, em contraposição ao tempo cronológico, que é mensurável (Amaral, 2004). 

Segundo Eugene Minkowski (1965), a noção de direção do tempo nos coloca diante do fenômeno já denominado por Bérgson (2005) de "élan vital". Assim como tudo na vida tem uma direção, o tempo tem o seu "élan vital", que cria o futuro antes de nós. Isto significa que ele é um instinto, uma energia que lança a vida à frente, para além do simples movimento de extensão e expansão do corpo; é a intencionalidade que orienta e direciona a vida rumo ao seu futuro. Para Minkowski (1965), quando o "élan vital" se "apaga", o Eu perde a velocidade e a dimensão do devenir, do futuro. O Eu, não mais presente no tempo, não o administra nas suas exigências temporais e dinâmicas, da duração, da continuidade, da propulsão organizada pela "atividade e espera", "desejo e esperança", e pela "ação ética", sustentada pela "prece". 

O tempo é uma experiência primária e vital, que de tão próxima, não consegue ser exaurida pelo conhecimento, pelos sentimentos ou pela vontade, e que se encontra na existência de duas formas: como "tempo assimilado ao espaço" e como "tempo qualidade ou tempo vivido". O primeiro refere-se ao tempo do "tic-tac" do relógio, do calendário, mensurável em dias, meses e anos, medido por leis naturais de duração, sucessão e continuidade. A segunda forma pela qual o devenir se encontra na existência humana refere-se ao tempo-qualidade ou tempo vivido. Este tempo, em oposição ao primeiro, não se reduz absolutamente às dimensões espaciais mensuráveis. É o tempo vivido na introspecção, tal como aparece à consciência; é um puro tempo dado à experiência. No existir cotidiano (Forghieri, 1993), independentemente do tempo do relógio, pode-se vivenciar o tempo com "velocidades", intensidades e "extensibilidades" que se diferenciam em virtude das situações e sentimentos que delas decorrem. 

Em relação ao passado, Minkowski (1965) apresenta três categorias – a recordação, o remorso e o pesar – elementos capazes de abrir de novo o caminho para o futuro, se ressignificados. 

A recordação, para ele, expande o presente e torna o passado revivido no aqui-e-agora, por intermédio de seus significados, que se tornam abertos para serem ressignificados; ela reforça valores e enriquece a vida. O remorso, caracterizado por uma recordação consciente de um passado, reconcilia-se com as exigências do devenir, e em seu caráter prospectivo, pode reparar as falhas de um tempo, eticamente projetado para a busca da ação ética. O pesar, outro fenômeno definido como uma extensão natural do passado, aplica-se a acontecimentos de menor gravidade, e se refere especialmente ao lamento pelo bem não cometido ou pelo mal materializado em um ato transgressivo, podendo também, em seu caráter prospectivo, ser ressignificado. O passado, para Minkowski (1965), é, pois, o tempo (já) vivido, recuperado pelas três categorias; no fenômeno da duração, é o "antes" que dá significado ao "agora" e ao "depois". 

O futuro: Em razão do fenômeno do "élan vital" (Minkowski, 1965), que contém de forma primitiva a noção de direção do tempo, nossa vida é essencialmente orientada para o futuro. Mesmo que se reviva o passado, em forma de memórias, ou se viva no passado, essa é uma questão de reviver ou de viver em. O futuro, por seu turno, é vivido de uma maneira mais direta e imediata, pois a atenção do eu é primariamente direcionada para ele. O futuro garante uma perspectiva ampla e majestosa diante do eu, a qual se perde de vista e o aproxima do misterioso, tão indispensável à vida espiritual quanto o ar puro para a respiração. 

Nesse sentido, há que se inquirir como o futuro pode ser vivido, sem que dele se tenha conhecimento. A resposta para a questão encontra-se relacionada aos seis fenômenos ou categorias do "élan vital" do eu, que lhe permitem viver intencionalmente o tempo, a saber: a atividade e a espera, o desejo e a esperança, a prece e a ação ética. 

A atividade é definida como "um fenômeno essencial da vida. Tudo que vive é ativo e tudo que é ativo vive" (Minkowski, 1965, p. 84). Ela é um dos fenômenos de natureza temporal que se encontra dirigida para o futuro ou o tempo advir, como menciona o autor, oferecendo-lhe uma vivência imediata. A atividade estende-se nessa direção naturalmente, e não pode ser fixada ou interrompida, permitindo ao eu a sensação de expansão e de identidade. É a energia vital que contém o fator duração ativa, responsável pela sequência, coerência e finalidade das ações que se sucedem no decorrer do tempo na vida do indivíduo, colocando-o diante do futuro. 

No seu sentido originário, nuclear, portanto, a atividade significa a alegria imediata de viver, apesar das perdas e dos fatores de limitação. Essa categoria foi vivenciada por Minkowski (1965) quando se encontrava em situação de risco no campo de concentração, e paradoxalmente, experienciava a alegria de ainda estar vivo. 

A atividade é, portanto, uma energia temporal, transformada em matéria que se funde com a abertura, com a potencialidade de contato com o meio ambiente, preenchendo um vazio repleto de possibilidades diante do indivíduo. É um fenômeno original e neutro, que muitas vezes parece ser suficiente em si mesmo, pois, em muitos momentos, o eu se deixa simplesmente viver, aproximando-se dos fenômenos da sintonia e do repouso, embora deles se diferencie. Em outros momentos, ela é atenção e tensão, uma energia concentrada, pronta para explodir na ação ou na sequência de ações, garantindo o ser e se identificando com a sua expansão. 

Enfim, se na atividade o eu se estende nos espaços vazios, tornando-se quase um todo, na espera o eu é reduzido à mais simples expressão, ficando sob ameaça de ser engolido, tornando-se quase nada. Não obstante, à medida que ambas as categorias se equilibram, uma a serviço da outra, como quando a espera se aproxima da essência da atividade, exprimindo uma tensão-abertura-prontidão em relação a um possível evento dado, como oportunidade-apelo-chamada, elas promovem a possibilidade de o eu atuar no mundo de forma adequada. 

Desejo e esperança : O desejo e a esperança, outros dois momentos do tempo, embora situados na mesma direção do tempo, rumo ao advir, estão para além da atividade e da espera, colaborando para sua construção. Essas duas categorias retiram o eu do contato imediato (sem intermediário), favorecendo o contato com o mediato, alargando a perspectiva do futuro diante de si mesmo, e afirmam que há sempre algo a desejar e a esperar da vida, do futuro. (a esperança e o desejo então fazem o intermédio entre o "eu" e o futuro). 

Sem o desejo, o eu perde sua força, coragem, intimidade consigo mesmo, e promove um grande vazio existencial que vai engolindo a vida e o tempo e degradando o espaço. 

À medida que o desejo abre, de forma mais ampla, o futuro diante do eu, supera a esfera particular do que se possui, indo sempre além. Só se pode desejar o que não se possui, o que gera o verdadeiro significado da vida. Dessa forma, há mais satisfação no desejo e na esperança do que na realização, na conquista, na posse, porque ambos possuem horizontes infinitos. Na realização, a obra fecha-se às demais possibilidades (Minkowski, 1965). 

A esperança é a característica que permite ao advir se apresentar à nossa frente, como um horizonte de possibilidades que, por si só, é mais fascinante do que a própria conquista. Aparentemente, a esperança pode dirigir-se ao passado, como, por exemplo, na expressão "tomara que ontem nada tenha acontecido ao meu amigo" em relação a um acidente ferroviário ainda não esclarecido pelas notas oficiais. Trata-se de um passado que se parece mais com o futuro, no qual há a espera das notícias, há a esperança de uma revelação futura, que mesmo pertencendo a um passado, será desvelada, dando espaços a sentimentos de alegria ou de dor no futuro. 

Como elemento constitutivo e construtivo do advir, a esperança situa-se além do otimismo e do pessimismo, produzindo um sentimento como na expressão "dar a volta por cima", e se faz presente, mesmo depois de inúmeras derrotas. A esperança, como o desejo, encontra-se tanto ou mais intimamente ligada ao eu, permitindo-lhe refugiar-se para contemplar a vida na sua extensão. Resistente ao próprio otimismo e ao pessimismo, a esperança vai além de ambos, é uma emoção contemplativa e construtiva porque, sem ela, o advir mediato não existiria. 

Prece e ação ética: Para além das categorias descritas, encontram-se as duas últimas, relacionadas com a prece e a ação ética. A esperança transporta o eu no tempo em direção à eternidade, e, nesse momento, ela se identifica com a prece. É ela que dá consistência à própria espera e a resgata da passividade. O agora da espera torna-se operante e se ilumina na esperança, resgatando e significando os seus insucessos e decepções (Minkowski, 1965). 

Como todos os outros fenômenos vitais, a prece tem sua origem na afirmação da vida, embora surja em circunstâncias nas quais ela aparece ameaçada, como na presença da morte, nos desastres físicos ou morais, que ameaçam o eu. Nessas situações, a esperança parece ser insuficiente para confortar o eu, promovendo o seu movimento em direção à prece. É o momento em que o eu se eleva para além de si mesmo, daquilo que o rodeia, em direção a um horizonte infinito, para uma esfera além do tempo e do espaço, cheia de grandeza, claridade e mistério (Minkowski, 1965). 

Por último, Minkowski (1965) identifica como o pilar principal da estrutura da temporalidade relacionada ao advir, a ação ética, por considerá-la um dos elementos constitutivos essenciais, senão o mais importante da vida e sobre o qual ela se baseia. Sem essa categoria, segundo ele, seríamos seres amorais, o que modificaria sobremaneira a vida e a abertura do futuro diante do ser humano. 

A ação ética, como a prece, tem uma ressonância totalmente natural, por sua própria essência, e se encontra ao alcance de cada um de nós. Ela é a realização do que há de "humano" em nós, do que é virtualmente comum em nós, daquilo que anima toda a nossa vida (Minkowski, 1965). Ela aproxima o eu daquilo que existe de mais sublime, de mais elevado, de mais ideal nele mesmo, favorecendo o progresso efetivo da sociedade. Por meio da ação ética, ocorre uma fusão imediata entre o universo imediato e o eu que, esquivando-se dos interesses que constituem a materialidade da vida, penetra e apela para o que existe de melhor em si mesmo, em uma inspeção luminosa, tomando consciência de si mesmo. 

Espaço-Tempo unidos: Explicando o surgimento de "Quadros" 

Voltando à obra de Eddington, neste seu texto ele diz que: "a ideia de uma multiplicidade de quadros de espaço foi estendida a uma multiplicidade de quadros de espaço e tempo. O sistema de localização no espaço, chamado moldura do espaço, é apenas uma parte de um sistema mais completo de localização de eventos no espaço e no tempo. A natureza não fornece nenhuma indicação de que um desses quadros deva ser preferido aos outros. O referencial particular no qual estamos relativamente em repouso tem uma simetria em relação a nós que outros referenciais não possuem, e por esta razão caímos na suposição comum de que é o único referencial razoável e adequado; mas essa perspectiva egocêntrica deve agora ser abandonada e todos os enquadramentos devem ser tratados da mesma forma. Considerando o tempo e o espaço juntos, pudemos entender como surge a multiplicidade de quadros. Eles correspondem a diferentes direções de seção do mundo quadridimensional dos eventos, sendo as seções os “instantes mundiais”. A simultaneidade (Agora) é vista como relativa. A negação da simultaneidade absoluta está intimamente ligada à negação da velocidade absoluta; o conhecimento da velocidade absoluta nos permitiria afirmar que certos eventos no passado ou no futuro ocorrem aqui, mas não agora; o conhecimento da simultaneidade absoluta nos diria que certos eventos ocorrem agora, mas não aqui. Removendo essas seções artificiais, tivemos um vislumbre da estrutura absoluta do mundo com seus grãos divergentes e entrelaçados segundo o plano das figuras da ampulheta. Por referência a essa estrutura, discernimos uma distinção absoluta entre separação de eventos semelhante ao espaço e semelhante ao tempo - uma distinção que justifica e explica nosso sentimento instintivo de que o espaço e o tempo são fundamentalmente diferentes." 

Por fim, Eddington afirma que uma das aplicações destas "descobertas" é determinar as mudanças das propriedades físicas dos objetos devido ao movimento rápido. Uma vez que o movimento pode igualmente ser descrito como um movimento de nós mesmos em relação ao objeto ou do objeto em relação a nós mesmos, ele não pode influenciar o comportamento absoluto do objeto. 

As fórmulas para calcular a mudança de cálculo de qualquer uma dessas quantidades são facilmente deduzidas agora que a relação geométrica dos quadros foi verificada. 

Física, Ontologia, Epistemologia e Psicologia: Ou seja, Filosofia e Ciência 

Mas qual é a importância da relação entre o tempo e a mente? Ao explicar espaço-tempo juntos, Eddington conseguiu se desvincular (até um máximo possível) da visão/ percepção (ou interpretação) humana sobre a realidade que o cerca, porém também indicou a centralidade da filosofia e da mente humana nesta relação com o espaço/ tempo, seja ele separado ou unido. Apesar de Eddington indicar a possibilidade de uma diferenciação entre o tempo percebido e o tempo "externo" ou "físico", ele parece não ter causado impacto direto na psicologia com suas informações, talvez por ter se baseado nos estudos de Einstein/ Rutherford/ Minkowski e nos argumentos filosóficos de Henry Bergson. As relações entre tempo e mente não param meramente neste embate entre física e filosofia: Os argumentos filosóficos de Bergson serviram de base para a psiquiatria fenomenológica de Eugene Minkowski, ou seja, serviram de base para estudos sobre sofrimentos e transtornos psíquicos. Por quê? A resposta é: A fenomenologia, ao trabalhar a proximidade entre filosofia e ciência, logicamente adentrou a psicologia, ou seja o estudo da alma (mente) e a psiquiatria praticamente tem o mesmo objeto de estudo desta área do conhecimento. A fenomenologia não só adentrou a psicologia pelo fato de ter incitado psicólogos a criarem abordagens baseada em seus argumentos, mas também já indicava a importância da psiquê nas questões ontológicas e epistemológicas, ou seja, a intencionalidade é algo que afeta as bases e o método de construção de conhecimento não só na filosofia como na ciência também! E isto está na origem da psicologia: O "fundador" desta área de conhecimento, Wilhelm Wundt, já estudara tais fatos e este assunto deve ser trazido a este blog em um futuro texto. Por fim, Eddington também ressalta a importância da percepção e da interpretação humana ao descrever o como a teoria quântica do átomo e a teoria da relatividade mudaram a visão de mundo das ciências! (https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/04/como-fisica-do-seculo-20-impactou-as.html). Neste texto de Eddington, ele não só traz objetos de estudos da psicologia* de volta ao centro da base das ciências e da construção de conhecimento, como também critica o materialismo devido ao fato desta ontologia ou pressuposto filosófico estar alicerçado na obsoleta física clássica (de Isaac Newton etc). Além de isto ir de encontro aos argumentos do polêmico biólogo Bruce H. Liptom que criticou a dominância da física newtoniana nas ciências, os argumentos de Eddington indicam uma similaridade ou proximidade aos de Wundt, quando este afirmava que a psicologia fazia a ponte da filosofia com as ciências e que esta área de estudos (psicologia) jamais deveria se limitar a estudar o comportamento meramente observável, devido a sua posição intermediária entre campos do saber tão vastos. O materialismo como ontologia/ como pressuposto filosófico obviamente influencia a construção de conhecimento (epistemologia), pois nenhum estudo escapa destas duas áreas da filosofia - como expliquei em outro texto a ciência é estruturada a partir da ontologia e da epistemologia (https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/11/o-que-forma-ciencia-e-quais-sao-suas.html). Em suas explicações sobre a estrutura do átomo, sobre a contração de FitzGerald, sobre a quarta dimensão e sobre a relatividade dos quadros/ molduras de espaço e tempo, Eddington prova que o materialismo é uma pré suposição reducionista e limitada (a fenomenologia também indicava isto no início do século 20), ou seja, reduz a percepção humana de fenômenos encolhendo a visão do ser (tentando determinar o que existe e o que não existe) e limitando o que deve ser estudado. Resta então as ciências humanas, ou ao menos as áreas que estudam o comportamento e a psiquê/ a mente, se basearem em um pressuposto/ uma ontologia mais aberta, ou mais ampla que o materialismo, que não considere apenas o que se chama de "mensurável" (sensorialmente/ matematicamente).

*(A gestalt estuda a percepção, a terapia cognitivo comportamental estuda os processos cognitivos, a psicologia analítica enfatiza a importância do simbolismo para o ser humano etc) 

Fontes: 

https://www.scielo.br/j/pe/a/szMZdLPgT95whQbtNdSJwvG/?lang=pt - acesso em 20/04/23 

Tradução de: Eddington, A. S. - The Nature of Physical world; 1948 (Electronic Reproduction 2022); 

https://www.scielo.br/j/ss/a/YpGvJRjbDNyJzzrkS7wN8jp/?lang=pt - acesso em 07/07/23