quarta-feira, 27 de julho de 2022

Observações e Reflexões sobre Amor e Sexo

 

Pensamento e sentimento são algo, mas não são perceptíveis pelos 5 sentidos humanos. Não estão em estado sólido, líquido, gasoso nem plasmático. Então, se não são "imateriais" ou insubstanciais, os sentimentos e pensamentos poderiam ser algo tão sutil como um 9º estado da matéria? Ou quem sabe o 100º estado da matéria? Vai saber. 
O fato é que é um tremendo reducionismo querer relegá-los a efeitos neuroquímicos, ou reduzí-los a sinapses elétricas. Tanto que estas hipóteses não podem ser comprovadas e o tema continua cercado de discussões ainda pouco ou nada frutíferas. A questão está em aberto.
Estes fatos por si só, certamente já seriam suficientes para recolocar a psicologia como campo da filosofia, afinal reduziria a possibilidade da aplicação do método de investigação empírico no estudo da alma, ou seja, na psicologia. (Não estou desprezando a psicologia nem a filosofia, longe disso, elas podem e devem ser tão importantes quanto a ciência...) Mesmo porque toda uma gama de abordagens da psicologia (Freud, Jung, Rogers, Viktor Frankl) escapam da linha "mais objetiva", digamos que constituídas essencialmente pelas teorias de Watson e Skinner. 
Mas não discutirei a psicologia em si neste texto. A proposta deste texto é evidenciar a diferença entre sentimentos e atos físicos - mais precisamente entre o amor e o sexo. Vejo esta diferença como um tema relevante porém coberto de tabus e distorções. O sentimento é basicamente um processo interno do ser humano, que pode ou não, ser expresso através das emoções como o sorriso, o choro, o grito, a gargalhada, os semblantes, gestos etc (Esta explicação é aceita na psiquiatria, na Terapia Cognitivo-comportamental etc). 
Embora o ato sexual possivelmente seja considerado apenas o coito por uma grande parte da população mundial (não tenho os dados e duvido que existam pesquisas confiáveis sobre isto), ou em outras palavras, seja considerado a penetração do orgão sexual masculino no feminino, na verdade, pode envolver mais do que isso. O ato sexual deve envolver tudo que excita o desejo sexual e o prazer sexual, então pode começar no mero toque, variando muito de pessoa para pessoa. Isto ocorre não somente porque cada pessoa tem um gosto, ou um tipo de desejo, mas também porque cada corpo humano pode ter zonas erógenas diferentes entre si. Estas zonas, são partes do corpo onde cada pessoa sente prazer sexual ou desejo por tais atos. Note que embora envolva o fator "gosto" (no sentido de prazer) ou "desejo" pessoal, a maior parte do ato sexual ocorre através dos sentidos humanos - principalmente pelo tato. Este processo sensorial bem diverso entre as pessoas, pode ainda envolver outros sentidos humanos, como a visão (de um corpo considerado sensual por exemplo), a audição (uma predileção por uma determinada voz ou tipo de timbre), o olfato etc. Mas nada destes prazeres sensoriais é sentimento. Eles podem se vincular a um ou mais sentimentos, como por exemplo, um indivíduo pode confundir com amor o seu desejo pelo corpo de outra pessoa. Ou pode confundir seu desejo por sexo com amor. Ou até mesmo pode amar a pessoa com quem mantém relações sexuais, porém isto é bem diferente dos dois primeiros exemplos. Amar se refere essencialmente a gostar, mas não fica limitado aos prazeres, sejam sensoriais ou outros. A pessoa pode expressar isto (o amor) espontaneamente ou se esforçar para demonstrar seu sentimento de amor, mas este sentimento é interno da pessoa, e não se trata dos efeitos neuroquímicos em seu corpo. Os efeitos (neuroquímicos), como diz o próprio nome, significa o que é produzido por uma causa, seja uma consequência ou um resultado. Algumas pessoas relatam uma aguda dor no peito/ no coração, quando perdem o contato com uma pessoa querida ou amada. Isto é um efeito psicossomático, ou seja, é uma consequência da dificuldade da pessoa em não poder estar mais próxima da pessoa que gosta ou gostava.
Portanto o amor pode estar desvinculado do sexo, como por exemplo, o amor de uma mãe pelos filhos. E tal amor não se limita da mãe aos bebês ou às crianças, pode normalmente se estender por toda a vida adulta dos filhos. O amor pode ser fraterno, como por exemplo, entre amigos que tiveram muitas vivências juntos, e compartilharam experiências de prazer, de superação, de alegria ou de solidariedade juntos e adquiriram confiança mútua entre si. Nenhuma destas experiências de amor requer obrigatoriamente os prazeres adquiridos pelos sentidos humanos, nem ocorre principalmente pelo sentido do tato. Assim podemos reforçar: o amor sendo sentimento, é um processo interno do ser humano. Eu diria que é um processo da alma, termo altamente rechaçado na ciência atual do século 21, embora os termos psiquiatria e psicologia mantenham seus prefixos, significando respectivamente: "correção da alma" e "estudo da alma". Diga-se de passagem, se os sentimentos são "objetos" de estudo destas ciências, então o nome alma faz sentido. Mas se os sentimentos são abstratos demais, ou subjetivos demais para a ciência objetiva ou para o método empírico de investigação, então possivelmente a psicologia deveria fazer parte da filosofia e a psiquiatria poderia ser extinta devido a sua contradição, pois sendo uma área da medicina (ciência objetiva voltada ao corpo que pode ser submetido ao método de investigação empírico) jamais poderia se intrometer em tais assuntos. 
Voltando ao amor, então pode-se entender que ele pode ocorrer em simultâneo com variadas outras interações, seja com o cuidado (de um pelo outro), com o compartilhar de momentos, com atos sexuais e outras interações mencionadas anteriormente. Podemos chamar o amor acompanhado de determinada interação com um determinado nome, como muitos fazem: "Amor materno", "amor paterno", amor fraterno", "amor conjugal" etc. Eu não sou apreciador destas classificações mas entendo que elas podem ser úteis para esclarecer alguns casos e situações. Particularmente acho clara e interessante as definições dadas pelos antigos filósofos gregos Platão e/ou Sócrates: Em "O Banquete" Sócrates diz que cada ser humano direcionou o amor a um determinado alvo, mas que em sua natureza o amor foi feito para o bem. Assim pode-se entender que o que é realmente digno de se amar é o bem. Em "A República" o filósofo ainda faz um comentário polêmico (certamente ainda polêmico hoje neste século 21) alegando que o amor mais ardente é o pior de todos: o sensual (referente ao sexo, mas não necessariamente ao coito somente). Este comentário, que lido isoladamente pode ser interpretado simplesmente como uma ideia conservadora, na verdade pode e deve ter muito mais profundidade do que a maior parte de nossa atual sociedade materialista pode entender em um primeiro momento. Estes dois filósofos questionam o quão bom ou mau podem ser os prazeres (principalmente na obra "Filebos") e chegam a classificá-los numa sequência do pior ao melhor (ou vice versa) como mencionei neste texto: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/03/o-desenvolvimento-do-ser-humano-sob.html 

Para entender tais explicações, acho útil questionar o que corrompe o ser humano. O que faz com que ele prejudique os outros? O que lhe causa desejo incontrolável e/ ou insaciável? Atualmente, isto é bastante óbvio: o dinheiro. Na verdade, não só atualmente, mas certamente desde que ele foi inventado, no mínimo desde que a moeda foi criada em qualquer momento entre a era do bronze e a era do ferro, há alguns milênios atrás. Mas e antes disto? Não é difícil de imaginar: Primeiro, é bom entendermos que o dinheiro é cobiçado (e quase idolatrado) porque com ele pode-se adquirir praticamente qualquer outro bem material: Mansões, carros, aviões, hiates, terrenos, inúmeros bens de consumo etc. Inclusive é possível até comprar outras pessoas, seja seduzindo-as oferecendo dinheiro, ou através de meios violentos e mais covardes. Entre as pessoas compradas, em nossa sociedade ainda patriarcal, e portanto, machista, a mulher geralmente é "comprada" como objeto para realização de desejos sexuais... 
E voltando ao ato sexual, descobrimos, o que devia ser considerado muito valioso antes da invenção do dinheiro, particularmente na idade da pedra: O sexo. Além de garantir o prazer sensorial para ao menos uma das partes envolvidas no ato, naquela época (na idade da pedra) o ato sexual tinha grande valor, pois era o que garantia a sobrevivência da espécie em meio a tantas dificuldades por causa da escassez de recursos (por exemplo, a inexistência de ferramentas para produção de alimentos em larga escala, estocagem de alimentos etc). O sexo então era a maior forma de garantir a sobrevivência pois não havia dinheiro nem "tecnologia" desenvolvida como na era dos metais em diante. Obviamente, como no capitalismo, os poderosos "enlouquecem" por mais e mais dinheiro, deixando a maioria das sociedade na miséria, naquela época deveriam existir famílias corruptas que inventavam formas de "monopolizar" o sexo e a reprodução da espécie. Assim, fica mais nítido que sexo não é amor, e não só pode ser desvinculado ao amor, como pode ser fonte de um vício. O indivíduo que valoriza mais e mais tal ato, certamente acabará desprezando atividades mais mentais, e assim, desprezando também os sentimentos como o amor. 

O amor não corrompe porque é gostar respeitando. O amor direciona o indivíduo à esperança pois é diferente de desejo, e portanto também é diferente de possessividade. Amar não é fácil, porque nos deixa aberto a ter que permitir quem amamos ir embora em algum momento. Amar é se dispor, é ser receptivo, além de gostar, o que se diferencia da mera troca de interesses. O amor requer algum conhecimento: A mãe naturalmente conhece o bebê, pois este nasce em seu ventre, começando a vida ali, sem experiências anteriores (ou se existe uma experiência anterior, ela é praticamente esquecida). Mas o casal (seja hétero, homo ou outra forma de afetividade), precisa receber um ao outro, para depois se conhecer. Este conhecimento do outro rege o amor, que pode abrir-se para a esperança, seja de viver juntos até o (um) fim, ou para a esperança de um reencontro num futuro. 
E se amar envolve desde receber alguém, até a esperança mencionada acima, pode-se dizer que o amor é um sentido de vida. Talvez, seja mais preciso até chamá-lo de o sentido da existência. É possível que o verdadeiro amor nos conecte a algo muito mais sublime do que o ser humano (ou a maioria deles) consiga detectar ou explicar neste início de século 21.

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