domingo, 23 de junho de 2024

Como se constrói conhecimento: com cientificismo ou com ética?

O Empirismo não é Suficiente para a Psicologia: 

Vejamos as polêmicas que cercam a psicologia e a psicanálise. Uma das características da ciência tradicional, seja chamada de materialista, naturalista ou positivista, é a necessidade da reprodutibilidade na construção de conhecimento (típica do método empírico de investigação). Porém a reprodutibilidade não existe em psicoterapia alguma (seja qual for a abordagem: Análise do comportamento, TCC, Psicologia Analítica, Logoterapia, ACP, Daseinanálise etc): isto é um fato notável na prática clínica psicológica e nem deveria ser necessário citar uma fonte sobre tal assunto. Este fato da prática do tratamento psicológico, ou seja, da psicoterapia, poder usar o método empírico apenas parcialmente, explica porque Wilhelm Wundt afirmava que a psicologia é uma área interdisciplinar inseparável da filosofia. Pela necessidade da psicologia ser colocada em prática, ela abrangeria as "ciências naturais" em algum nível, ou seja, a construção de conhecimento objetivo, com métodos sensoriais (observação etc) e reprodutíveis. Porém, ao lidar com questões internas do ser humano, ela também se manteria ligada à filosofia e por causa deste último fator desvinculado ao método empírico, a psicologia deveria influenciar a epistemologia. 

Wundt não fez só um dos primeiros laboratórios de psicologia - ele buscou lançar bases sólidas para a psicologia e esta base era um assunto complexo por envolver temas como a construção do conhecimento e a relação mente-corpo, que eram discutidas no mínimo desde o século 17 após a publicação das obras de René Descartes. O trabalho de Wundt acabou predominantemente ignorado, pois na Europa, a "psicologia" foi colocada em prática principalmente por Sigmund Freud (1856-1939), fundador da psicanálise, que apoiou-se no tratamento criado pelo fisiologista Josef Breuer (1842-1925). Enquanto isso, os principais nome da psicologia nos EUA, como John B. Watson (1878-1958), buscavam uma psicologia estritamente experimental, ou seja, apoiada o máximo possível no empirismo. Como consequência lógica disto, Watson, priorizou somente o comportamento observável, desprezando fatores internos do ser humano, como os pensamentos, os sentimentos, as memórias, a lembrança, a imaginação, a intuição, a cognição etc. 

Isto é um dos indicativos que a psicoterapia, através da relação terapeuta-paciente/cliente, está mais próxima de um método filosófico de construção de conhecimento do que de o método empírico predominante na ciência (ou ao menos, predominante na ciência tradicional). 

Mas para estudar os fatores internos do ser humano, certamente foi necessário estabelecer parâmetros para se estudar o ser humano. É aí que Freud propôs uma "estrutura da mente", ou da psiquê, identificando que há algo além da consciência: o inconsciente. No inconsciente surgiriam os instintos e ficariam "armazenados" os conteúdos "recalcados" (reprimidos). Detalhando um pouco mais, Freud estipula o pré consciente onde haveriam lembranças mais fáceis de serem resgatadas, enquanto no inconsciente ficariam as "perdidas" ou mais difíceis de serem recordadas. Esta parte de sua teoria é simples e lógica, afinal não há corporealidade (ou materialidade) em desejos, lembranças e outras atividades ou elementos mentais - pode-se detectar alguns efeitos neuroquímicos/ eletroquímicos, mas efeitos no sistema nervoso não provam a inexistência de uma psiquê, seja ela "mente ou alma". Porém, talvez por buscar uma aproximação das ciências naturais, principalmente das áreas biológicas, Freud centrou sua teoria nas questões sexuais, afinal a teoria da evolução das espécies de Darwin e Wallace estava causando grande impacto nas ciências durante a 2ª metade do século 19. O impacto de Darwin foi tão grande que alguns pensadores (cientistas etc) passaram se aproveitar de sua teoria para apoiar visões de mundo cada vez mais biologistas/ materialistas: o materialismo se aproximando da condição de dogma nas ciências, facilmente deu abertura para estudiosos que cada vez mais desprezavam a ética, propagassem ideias racistas, precificadoras e objetificadoras do ser humano. 

A ética é um assunto abstrato, afinal ninguém faz contato sensorial com a ética: ela é uma ideia, mas uma ideia que deve ser colocada em prática, para beneficiar não somente um indivíduo sobre os demais, ou pequenos grupos sobre a maioria dos indivíduos. A ética busca trazer a importância de um valor universal que deve ser entendido e assumido pelos indivíduos e colocado em prática coletivamente para o convívio e para o bem da civilização. Por mais utópica que pareça esta ideia, ela é discutida ao longo da história justamente por causa de sua importância. Não se trata de discutí-la através da retórica, ou seja, não é uma questão de ser meramente convincente e sim, uma questão de desenvolvimento humano. Pois o intelecto não se desenvolveu isoladamente do sentimento e da empatia. Estes atributos psíquicos não se contradizem entre si, afinal, se fosse assim, o ser humano não teria ambos atributos e sim, somente um deles. Logo é possível convergir intelectualidade/ racionalidade com empatia e sentimentos. A academia surge na história justamente com o desenvolver da ética, por Platão (428 aC - 347 aC), ao tratar a ideia/ forma (eidos) do Bem/ do belo (kalos). Antes de Platão e de seu mestre, Sócrates, fundadores da filosofia ocidental, o conceito da ética (da virtude, do bem etc) era pouco ou nada estudado e por esta razão os filósofos anteriores ("pré socráticos") eram chamados de "filósofos naturalistas". 

Infelizmente, ao longo da história, a filosofia foi sendo afetada pelo materialismo niilista durante o século 19. Embora deva ter sido um fenômeno gradual, talvez iniciado no final do século 17, ele pode ser notado mais nitidamente quase 2 séculos depois, com a ascensão de autores como Nietzche e Comte. Durante o século 19 por exemplo, o termo filósofo natural foi substituído por cientista, demarcando publicamente a separação entre filosofia e ciência. Certamente este assunto é complexo por envolver uma série de autores influenciados uns pelos outros ao longo de 2 ou 3 séculos da era moderna, então não detalharei ele aqui. 

O fato é que o naturalismo que tanto difundia o materialismo como dogma durante o século 19, foi enfrentado e questionado pela fenomenologia do matemático e filósofo, Edmund Husserl (1859-1938). Husserl criticou o subjetivismo/ psicologismo, que priorizava a questão interna do ser humano e também o naturalismo, que priorizava a realidade externa/ sensorial, esta última que ganhara muita força durante o século 19, como já mencionado. Partindo de questões filosóficas sobre a matemática, como por exemplo, a questão se esta era uma invenção humana ou se era um elemento essencial da natureza, Husserl propôs um novo método rigoroso que estuda os fenômenos, como um conjunto composto por elementos externos e internos (a captação pelo observador). Isto porque, todo ser humano tem uma intencionalidade: Um movimento natural da consciência do indivíduo, que é constantemente direcionado à algo. 

Este seria um modo menos abstrato de fazer filosofia - uma (re)aproximação deste saber com a ciência. Com o conceito de epoque, ele busca suspender os pressupostos filosóficos (naturalista/ positivista/ materialista-niilista vs idealista/ psicologista/ subjetivista) aos quais os acadêmicos de seu tempo tanto se agarravam. Pré supor algo seria um preconceito, porém como todo ser humano tem alguma forma de ver a realidade (visão de mundo, cosmovisão, weltanschauung) a suspensão seria feita não ignorando todas as visões de mundo, mas testando uma a uma. É uma proposta que gerou algum resultado e afetou a psicologia, pois os questionamentos de Husserl tratavam da mente humana e a consciência. Da fenomenologia surge a "frente fenomenológica" da psicologia com variadas abordagens como a Daseinanálise, a Gestalt terapia, a Logoterapia e a Abordagem Centrada na Pessoa. 

Enquanto isso, a psicanálise lançada por Freud crescia em propagação e em novos autores. Porém alguns destes autores passam a questionar certos pontos da teoria psicanalítica, principalmente no que se refere ao modelo de desenvolvimento humano proposto por Freud: Carl Gustav Jung (1875-1961), Alfred Adler (1870-1937) e Otto Rank (1884-1939), foram autores influentes na psicologia que separaram-se da psicanálise para trabalhar em suas próprias teorias e abordagens. Estas separações não questionavam as estruturas mais básicas entendidas por Freud como o consciente e o inconsciente e sim, questionavam a ênfase na sexualidade, como a centralidade que o fundador da psicanálise deu ao complexo de Édipo. A partir das novas teorias e abordagens, considera-se o surgimento da frente psicanalítica de psicologia. 

Por fim, nos EUA, Burrhus F. Skinner (1904-1990) desenvolve a análise do comportamento diferindo um pouco de Watson, fundando também o radical behaviorism. Skinner classifica seu comportamentalismo radical como uma filosofia, embora contradiga várias obras filosóficas que tratam da mente como um elemento abstrato ou como espírito. Para Skinner só existem fatores biológicos (observáveis e internos), históricos e sociais, ou seja, sua visão de mundo monista não difere em nada do materialismo niilista que foi dominante nas ciências durante o século 19. Para não negar a importância dos processos internos (psíquicos) do ser humano, Skinner classificou pensamentos e sentimentos como "comportamentos secretos". A partir de sua obra surge a frente behaviorista de psicologia (comportamentalista em tradução livre). 

A filosofia ocidental em sua origem, fundada por Platão, não discute o ser, ou o que existe, de maneira determinista. Estas questões são tratadas da maneira mais ampla possível, sem perder o senso crítico, pois o método de investigação platônico é composto essencialmente de um diálogo e de reflexões analíticas, baseado na maiêutica de seu mestre Sócrates. A ontologia de Platão não discute se existe só a matéria ou só a psiquê; ela esta centrada numa busca contínua da melhor maneira das coisas serem, como mostrado no texto Fédon; Platão não escolheu dar abertura ao abstrato por acaso: Esta foi a maneira de trazer a ética para o centro da construção de conhecimento como mencionada anteriormente. 

Esta ruptura ou negação feita por Skinner, em relação às origens da filosofia ocidental, mostrou-se uma visão extremista que viria a ser desafiada em algum nível dentro dos EUA, com o surgimento da Terapia Cognitiva Comportamental de Aaron Beck em 1963 e das ciências cognitivas, mais ou menos na mesma época. Assim "a mente voltava a ser uma possibilidade", ainda que com um viés um tanto racionalista/ "computacional". 

Diferentemente dos cognitivistas, o fundador da Abordagem Centrada na Pessoa, Carl Rogers (1902-1987), entendeu que Skinner privilegiou conceitos como controle e previsibilidade, dando pouco valor a conceitos como liberdade e realização pessoal. Skinner defendeu um modelo de educação que parte do meio para o indivíduo enquanto Rogers defendeu que a educação deve ser feita do indivíduo para o meio. A abordagem de Rogers considera o modelo de educação e controle de comportamento de Skinner excessivamente mecanicista e determinista. Por fim, com o passar dos anos, surgiram vertentes mais recentes do comportamentalismo que tentaram integrar práticas mais humanas que dessem mais importância às esferas humana e social. 

Revisitando a história do nascimento da ciência moderna a partir da filosofia 

Como já mencionado, a visão de mundo materialista, que servia de pressuposto filosófico para maior parte das ciências, vinha ganhando força desde muito antes de Darwin e Freud. John Locke ao propor o empirismo como único método verdadeiro para se construir conhecimento no final do século 17, começou a propagar a visão de mundo materialista (intencionalmente ou não) junto de alguns outros autores de seu tempo e no início do séc. 19, Auguste Comte viria a reforçar muito essa ideia através de sua ideologia positivista. Isto era natural de se acontecer em uma época de cultura antropocêntrica (típica do iluminismo) e com limitações de meios para se investigar a realidade (durante o séc. 19, os telescópios eram menos potentes e as medições menos precisas se comparadas com o séc. 20). Apesar dos avanços feitos posteriormente, no decorrer do século 20, a ciência continua predominantemente presa ao modelo onto/epistemológico tradicional (materialismo/empirismo) praticamente seguindo os pressupostos filosóficos de Newton, Locke, Comte... 

Para indicar a limitação de tal modelo de construção de conhecimento e de "visão de mundo", mostra-se válido observar as descobertas da física: Durante o século 20 foram feitas obras revolucionárias de estudiosos como Einstein, Rutherford, Heisenberg, Eddington e Minkowski. O termo revolucionário aqui não é empregado de maneira fútil, pois indica uma quebra com modelos anteriores - descobertas que geraram um impacto que abalou a física newtoniana e toda a "filosofia da ciência": A visão de mundo (ou weltanschauung) monista materialista e a eliminativa foram, no mínimo, abaladas reabrindo uma possibilidade da construção de conhecimento se apoiar em outros pressupostos filosóficos, sejam eles o dualismo, o mentalismo, o idealismo ou o espiritualismo. O astrofísico e divulgador científico inglês, Arthur S. Eddington, indica isto em seu livro The Nature of Physical World particularmente mostrando como o modelo Newtoniano da física ficou obsoleto diante as teorias da relatividade e as descobertas sobre o átomo (posteriores a Rutherford). A exposição do modelo quadrimensional do tempo e da baixa relevância das partículas na constituição e percepção dos corpos* mostram como o pressuposto filosófico monista materialista da ciência não cobre toda a explicação da realidade. 

*Einstein sugere que os campos (eletromagnéticos, por exemplo) sejam o fator determinante da "matéria"; Eddington explica que a inferência é inevitável na construção de conhecimento, mesmo em áreas "exatas" como a física e a matemática.

Porém ainda hoje, cerca de 100 anos após a "revolução da física", certos indivíduos no meio acadêmico utilizam-se de critérios de "filósofos" como Popper para acusar áreas de estudo como a psicanálise de pseudociência. Tal "filósofo da ciência" acusou Freud de cometer "erro epistemológico", ou seja, um erro de método para se construir conhecimento... 

Primeiramente deve-se saber se a psicanálise realmente foi proposta como uma área da ciência, pois a construção de conhecimento é anterior a ciência, seja ela apoiada em pressupostos e métodos do iluminismo (materialismo-empirismo) ou do século 20 (teoria geral dos sistemas por exemplo). 

Os psicanalistas que romperam com Freud (Otto Rank, Adler e Jung citados anteriormente) não usam argumentos sequer parecidos com os de Popper, para criticar determinados pontos da psicanálise e invocar argumentos de Popper contra Freud é insistir em argumentos já criticados por diversos outros mais recentes como os de Adolf Grunbaum etc. Particularmente entendo que usar a filosofia do século 20 para criticar qualquer frente da psicologia não seja o mais adequado: Os estudiosos da psicologia contemporâneos de Freud (citados anteriormente) sim tiveram uma vivência na psicanálise e possuíram algum repertório para discordar do "pai da psicanálise" e tecer críticas à sua teoria. 

O pressuposto filosófico obsoleto (materialista-niilista) refutado pela consequência filosófica da teoria da relatividade de cientistas como Einstein e Eddington, continua dominante em áreas como medicina, neurologia, genética, behaviorismo e neuropsicologia. Quando Eddington explica como a noção de espaço-tempo absoluto de Newton foi refutada por Einstein, esta refutação não é meramente da área da física: ela faz parte das descobertas que apontam inconsistências na cosmovisão newtoniana, ou seja, nos pressupostos filosóficos materialistas/ niilistas: há possibilidade de dimensões ou realidades além da tridimensional perceptível pelo sistema sensorial humano. Entender e aceitar o impacto das descobertas de Hermman Minkowski, Albert Einstein e Arthur Eddington, não é necessariamente aceitar uma cosmovisão mentalista, nem é ter que crer em espíritos ou em Deus. É a necessidade de se deixar tais questões em aberto, não ignorando, mas admitindo uma maior amplitude de construção de conhecimento. 

Se a ciência em geral, ou, se estas áreas mencionadas em específico optarem por permanecer pesquisando somente o mensurável e perceptível sensorialmente, então há de se admitir que tais pesquisas pertencem a um segmento notoriamente limitado do conhecimento. Um segmento que ignora sentimentos, pensamentos, memórias, lembranças, intuições (etc); Um segmento que nega de maneira dogmática a (possibilidade da) existência do espírito e de uma dimensão espiritual. Um segmento que ignora dimensões além das três perceptíveis pelo nosso "sistema sensorial" - que não admite que exista nada além do espaço tridimensional... 

Obviamente as áreas científicas, já separadas da filosofia, no mínimo, desde o século 19, não são obrigadas a estudar tais questões, mas devem ter uma postura respeitosa e ética perante tais saberes. 

Esta postura é uma questão ética, e portanto, central da filosofia. Assim, se a ciência rejeita estudar questões filosóficas, ela ainda deve ao menos manter um vínculo central em pontos essenciais para o progresso individual e coletivo interdependentes entre si. Este vínculo é uma postura coerente com a ideia de construção de conhecimento, pois tal construção compreende um percurso histórico de relações entre estudos, descobertas e revisões, sempre tendo em pauta a ética e seu valor universal. 

A postura ética de construção de conhecimento deve admitir a tão falada inclusão das culturas ameríndias e afrodescendentes e suas respectivas cosmovisões. E inclusão não é só alegar externamente que tais cosmovisões/ culturas/ saberes são tolerados na academia e/ ou na sociedade - é não criar nem manter hierarquias dos saberes e das culturas. Não adianta dizer que, por exemplo, mazatecas ou iorubás são equivalentes da cultura ocidental centrada na Europa e EUA e excluir seus pontos de vista da academia. 

Esta inclusão não é simplesmente misturar conhecimentos sem parâmetro algum. É buscar entender quais são suas relações e como e quais áreas podem ser inter-relacionar. Muitas das questões mais culturais, antropológicas, psicológicas destas culturas por exemplo, devem dialogar com as áreas das humanas e da filosofia. Portanto é essencial que a filosofia ocidental seja aberta como já foi em sua origem proposta por Platão. 

Raízes e cerne da filosofia ocidental: Um diálogo plural centrado na ética

Ao estudar as obras de Platão, é possível notar que o autor trata de uma ampla gama de temas e que estes temas não são apresentados somente baseado em suas reflexões. 

Primeiramente, Platão baseou-se nos diálogos de seu mestre, Sócrates. Sócrates não deixou obras escritas, pois difundiu conhecimentos exclusivamente de maneira oral, através de diálogos conduzidos por seu método, a maiêutica. Assim o filósofo fomentava a busca e o desenvolver da virtude, ou seja, de um valor universal. Eis a razão, de Platão ter tratado da ética em suas obras: foi preciso combater a propagação da retórica em seu tempo, tão utilizada pelos sofistas da Grécia clássica. Ou seja, a filosofia organizada pelo autor, foi contra o uso da linguagem com ênfase na persuasão para a aquisição de vantagens particulares. Assim, a filosofia ocidental em sua origem, não era relativista, pois não ignorava a importância da ética e da aplicação desta na forma de leis de maneira inclusiva para a sociedade, ainda que houvessem limitações culturais de sua época - o século 4 a.C. 

Secundariamente, é admitido que Platão desenvolveu seu próprio pensamento, indo além de Sócrates. Neste desenvolver podem ser notadas influências variadas: Ao discutir seu conceito de "eidos" (idéia/ forma) o filósofo mostra que dialogou com os argumentos de Parmênides; Ao tratar eventualmente da matemática em suas obras, Platão deve ter dialogado com filósofos pitagóricos, bem como traça os conceitos de Nous e de sua ontologia, alternando entre citações e refutações das ideias de Anaxágoras. Pitágoras e Anaxágoras possivelmente trouxeram conhecimentos de regiões mais distantes para as pólis helênicas ("Grécia"), como do Egito e do Império Persa que havia dominado a Babilônia, parte da Fenícia, até as fronteiras da "Índia". 

No diálogo Fedro, ao incluir temas sobre experiências de espiritualidade e estados alterados da mente (mania, transe e êxtase), Platão dialoga com a consciência mística típica das oráculos nas pólis helênicas (gregas) de seu tempo. Tal consciência mística, apoiada na cosmovisão que aceita uma dimensão espiritual, também pode ser encontrada em diversas outras culturas ao redor do mundo. 

No Banquete (ou Simpósio), o autor trata de eros, o desejo/ a paixão e desenvolve um sentido para este, perpassando os conceitos de amizade (a paixão pelas psiquês) e ágape (a paixão por todas as psiquês, pelas leis e tudo que é bom e belo). 

Nos diálogos Filebo, A República e Político, o autor utiliza-se de releitura dos mitos helênicos para abordar não só temas da espiritualidade, mas também da matemática e da cosmologia. 

Com estas observações, conclui-se que Platão não era meramente um racionalista: sua consciência combinava o aspecto racional com o mítico e o mágico/ místico. Tudo isto utilizando o rigor de seu método dialético/ reflexivo (maiêutico) constantemente apoiado por sua ontologia de sempre buscar a melhor maneira das coisas serem (na era moderna esta ontologia certamente seria chamada de teleologia). Sua ontologia é condizente com sua ideia central: kalos - o bem/ belo, um valor universal, ou seja, ético. 

A ética parece ter sido esquecida na construção de conhecimento desde o "racismo científico" da era iluminista, perpassando o darwinismo social da virada do século 19 ao 20, a psiquiatria excludente que condenava e torturava os diferentes e as minorias até a criação de armas químicas e de destruição em massa das guerras mundiais/ fria. Somente após essas atrocidades surgiram indícios que o ser humano está começando a entender que não é sendo determinista nem excludente que ele alcançará algum progresso ou bem-estar. Isto porque a ética não deveria ser mero adorno na construção de conhecimento, muito menos uma "externalidade": a ética faz parte do rigor da construção de conhecimento, pois ela não é exclusivamente um conceito abstrato vinculado a um fator interno do ser humano: ela também deve ser colocada em prática para a sociedade como um todo - isto faz parte de sua universalidade. 

Eis as razões porque substituir o reducionismo (típico do materialismo niilista) e o cientificismo da academia pela ética e pela universalidade. Ética e universalidade não descartam métodos rigorosos de construção de conhecimento: só abandonam o determinismo ao priorizar a busca, o desenvolvimento e a aplicação de valor(es) universais.

Fontes:

Bill E. Forisha, Frank Milhollan (1978). Skinner X Rogers. Maneiras contrastantes de encarar a educação 8 ed. São Paulo: Summus. 196 páginas. 9788532300355

Schultz D.P., Schultz S.E. (1992). História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix. 9788522106813

Araújo, Saulo de F. Uma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt - 06/2009 https://www.scielo.br/j/ss/a/YpGvJRjbDNyJzzrkS7wN8jp/?lang=pt acessado em 20/09/2023

Wozniak, Robert H., Mind and Body - From Descartes to William James. (1992);

 Platão, Fédon. Tradução de Edson Bini, Edipro (2020)

Platão, Fedro. Tradução de Edson Bini, Edipro (2020)

Platão, O Banquete, Tradução de Edson Bini, Edipro (2020)

Platão, A República. Tradução de Pietro Nasset, Martin Claret (2015) 

Eddington A.S. The Nature of Physical World (2008)

 

 

 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Filosofia, Teoria Mente/ Corpo e o desenvolvimento da Psicologia (Pt. 3)

 

Parte 3 - A Ascensão da Ciência ante os saberes filosóficos e religiosos 

Cabe mais uma vez contextualizar a história da filosofia e da ciência - desta vez na 1ª metade do século 19. Neste ponto da história já se passaram aproximadamente 2 séculos desde a publicação das obras de Descartes e no desenvolver de teorias e descobertas, foi possível notar variadas divergências entre filósofos naturalistas e metafísicos. Antes de reentrar na psicologia, citarei brevemente algumas ideias de 2 indivíduos que causaram impacto na filosofia e principalmente na ciência: O primeiro é William Whewell (1794-1866), um polímata inglês que cunhou o termo cientista, termo este que acabou substituindo filósofo natural, e assim, também fomentou, ou confirmou, a mudança do nome filosofia natural para ciência. Defensor da ética, Whewell se opôs ao empirismo inglês contemporâneo. Seguindo a linha de Kant neste assunto, ele afirmou a natureza a priori da verdade necessária, e pelas suas regras para a construção de concepções ele dispensou e contrariou os métodos indutivos de John Stuart Mill. Por fim, William Whewell foi um dos precursores da ciência cidadã, ao organizar milhares de voluntários internacionalmente para estudar as marés oceânicas. Ele recebeu a Medalha Real por este trabalho em 1837. 

É possível entender que nesta época (século 19) intensifica-se a separação do saber científico dos saberes filosóficos e religiosos. O filósofo Humberto Mariotti afirma (...) "pois o que afirmava o saber científico de um lado era negado pelo outro, o saber religioso. Dividiu-se assim o pensamento ideológico da humanidade em 2 setores: os que se apoiavam na ciência e os que acreditavam na religião. Esse fenômeno criou um tipo de humanismo antropocêntrico. O que quer dizer: absolutamente divorciado da ideia de Deus e do Espírito." A revolução francesa muito contribuiu para o advento deste estado de coisas, com o reconhecimento exclusivo da "Deusa Razão"... 

"o positivismo de Comte e o materialismo moderno negaram toda classe de relação entre o método científico e o religioso. Este fato teve como consequência conformar uma filosofia niilista, negando todo o transcendente do homem e a finalidade inteligente do Universo." 

Como se não bastasse esse movimento de rivalidade entre os saberes da humanidade no ocidente, alguns autores fizeram uma leitura meramente linear da história para elevar a ciência como verdade absoluta acima dos saberes filosóficos e religiosos (espirituais). Este é o caso das ideias fundamentalistas apresentadas na Lei dos 3 estados, onde seu autor, Auguste Comte (1798-1857), classifica a humanidade em 3 eras: a religiosa, a metafísica (filosófica) e a científica. Nesta interpretação simplesmente linear do progresso histórico da humanidade, todos os conceitos de religião e de filosofia metafísica são tratados como inferiores à ciência: Apesar de classificar diferentes eras religiosas baseadas em alguns fatos (como o politeísmo, o monoteísmo etc), para defender tal ideia, Comte alega que as pessoas acreditavam cegamente em ancestrais e em Deus até o início do iluminismo, uma distorção dos fatos (generalização): Ele ignora os avanços não lineares como descobertas esquecidas ou suprimidas ao longo da história da Antiguidade à Era medieval: Erastóstenes (276 a.C. - 194 a.C) calculou as dimensões da Terra comprovando sua esfericidade, porém tal conhecimento foi perdido na Europa por mais de 1.000 anos. Filósofos naturalistas gregos que realizaram descobertas não eram todos ateístas, muitos tinham religião/ espiritualidade, como por exemplo, os pitagóricos que seguiam uma vertente mais nova da religião órfica; Comte ainda ignorou vários reformadores e sacerdotes que propunham uma vida mais humanizada ou que criticaram os líderes religiosos que usavam a religião como ferramenta de poder - Joaquim de Fiore (1135-1202), os joaquimitas, Wycliffe (1328-1384), os lollards, Jan Hus (1369-1415), a União de Brethren/ Unitas Fratrum, Jan Amós Comenius (1592-1670), entre outros; 

Ignorou também as lutas (não só físicas, mas ideológicas), transformações e o progresso feito durante a Renascença reduzindo-a a uma mera "era religiosa"! Ignorando o legado de intelectuais como Nicolau de Cusa (1401-1464) e Marsílio Ficino (1433-1499), por exemplo, que colaboraram com o fim da era medieval ao fomentar o humanismo, o início da renascença etc... 

Continuando com suas opiniões, Comte alega que os direitos universais marcam a inferioridade (!) ou rusticidade da era metafísica, ou seja, filosófica, ante a sua era científica do século 19. Atacar tais conceitos é atacar também os valores universais - fundamento das leis na política e da ética, tão básicas para as civilizações a para o convívio em sociedade; É atacar os esforços para se alcançar uma humanidade fraterna e equitativa, pois a fraternidade e a equidade também são valores universais, por mais difíceis que pareça colocá-los em prática. 

Além destes pontos negativos, é possível entender que Comte, o "pai do positivismo", elevou como ciências superiores a matemática, a astronomia e a física, deixando por último a sociologia e colaborou com o a visão estreita (reducionista) de que só a matéria perceptível existe ou só a matéria perceptível importa. 

Apesar de todo racionalismo e materialismo niilista dominando as classes "intelectuais" do ocidente, nos meados do século 19 começam a surgir um elevado número de relatos de casos "sobrenaturais" com destaque nos EUA e França: curas magnéticas, visões de espíritos, mesas flutuando e girando entre outros fenômenos. Diferentes explicações foram tentadas, e , possivelmente devido as limitações da prática dos métodos de investigação da época, pode-se afirmar que o tema ficou inconclusivo: Materialistas certamente afirmaram que tais fenômenos eram truques, alucinações e mentiras, enquanto espiritualistas alegaram que eram manifestações de mentes incorpóreas, em outras palavras, espíritos. Houveram fenômenos publicamente relatados relacionados à espiritualidade e religiosidade em outros locais do mundo, como na Índia sob domínio britânico e na China, mas como a ciência é praticamente uma invenção ocidental, tratarei do ocidente. 

Nos EUA, o professor de "magnetismo animal", Charles Poyen Saint Sauveur, publicou Progress of Animal Magnetism in New England no ano de 1837. Wozniak afirma que Poyen, fazia palestras e demonstrações no palco diante espectadores, e, ao escolher voluntários de seu público, ele foi frequentemente bem-sucedido em induzir transe. Porém a atmosfera cirquense de suas demonstrações "mesméricas" dificilmente foi calculada para ganhar credibilidade científica e acabou servindo mais como um de muitos exemplos dos relatos sobre eventos "sobrenaturais" ocorridos durante o século 19. Wozniak admite que essa propagação de "mesmerismo" nos EUA fez parte de um movimento muito mais amplo, que ia em direção a uma religiosidade estética, afastando-se da religião estabelecida e buscando auto-desenvolvimento, exploração dos poderes até então ocultos da mente humana e contato transcendental com planos espirituais superiores (Deus, o éter, fluído magnético ou vibrações cósmicas). Wozniak lembra que o movimento espiritualista inciado em Hydesville no ano de 1848 juntou cerca de 11 milhões de aderentes até por volta do ano de 1870, e considera que tal movimento achou no mesmerismo, uma interpretação congênita e presumidamente científica da mente em relação a uma esfera mais elevada. 

Tal afirmação pode ser polêmica ou inaceitável para cientistas que elevam o materialismo ao status de dogma, mas na verdade, Wozniak demonstra algum respeito pelo saber "religioso" neste parágrafo ao não impor a ciência como verdade absoluta negando a espiritualidade. Seguindo sobre os estudos de fenômenos pouco compreendidos do século 19, o filósofo natural e cirurgião escocês, James Braid (1795-1860), em sua obra Neurypnology, descreve uma demonstração do mesmerista suíço, Charles Lafontaine que o convenceu da realidade do fenômeno físico. Depois de vários dias de experimentos, Braid concluiu que aqueles efeitos eram produzidos por uma "condição peculiar do sistema nervoso" induzida por uma atenção fixa e abstraída"... (pg. 94) e não através da meditação ou qualquer agente especial passando do operador ao paciente. Wozniak afirma que Braid, em 1843, para distinguir claramente suas visões do mesmerismo, nomeou o estado de sono nervoso de "hipnotismo". Braid também enfatizou a importância do objeto (paciente) concentrar tanto a visão quanto o pensamento, referindo-se à "fixação contínua do olho mental e visual". 

Entre os estudiosos que relacionam a atividade mental com os efeitos relacionados ao "magnetismo animal", esteve o professor e tradutor francês, Hyppolyte Leon D. Rivail (1804-1869). Ele entra em contato com alguns fenômenos desta ampla categoria entre os anos de 1855 e 1856 e após concluir que houve uma ação inteligente por trás dos fenômenos observados, Hyppolyte passa a utilizar o nome Allan Kardec. Sendo considerado fundador do espiritismo, Kardec faz uma série de explicações sobre a psique (alma, espírito), sua relação com o corpo, sobre a imortalidade, reencarnação, e sobre variados efeitos/ fenômenos chamados de mediúnicos (psicografia, passes, etc). O fundador do movimento explica que os livros essenciais do espiritismo foram "decodificados", não sendo de autoria dele e sim dos espíritos benevolentes que servem a Deus, apesar de Kardec frequentemente fazer análises críticas (construtivas) das mensagens recebidas: Escreveu observações sobre as comunicações espíritias, indagou espíritos e respondeu questões, principalmente nas Revue(s) spirite — Journal d'études psychologiques, as quais foram publicadas mensalmente entre os anos de 1858 e 1869. 

Kardec também buscou aproximar a ciência de uma ética baseada no cristianismo, sem a necessidade de igrejas/ religiões e seus diversos dogmas dissociados da lei de amor ensinada por Jesus Cristo. Além disto, também admitiu que os precursores do espiritismo tenham sido Sócrates e Platão devido aos conceitos obviamente semelhantes, tanto teológicos como éticos. 

Tocando na questão da teoria mente/ corpo, Kardec diz que nossa alma, seria conectada ao corpo através de um envoltório ao qual ele e os demais espíritas denominaram períspirito: "E assim, nós (seres humanos) teríamos duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior (o corpo com a carne, sangue, ossos etc); a outra sutil e indestrutível. "A morte é (...) a desagregação da primeira, daquela abandonada pela alma; a outra ("matéria") se destaca e segue a alma que, assim, continua tendo sempre um envoltório." Essa "matéria sutil", por assim dizer extraída de todas as partes do corpo a que estava ligada durante a vida, conserva a forma daquele." A matéria sutil e indestrutível citada era pouco ou nada conhecida durante o período de publicação das obras espíritas: Kardec afirma que esta poderia ter alguma relação com eletromagnetismo, como ele cita no Livre des médiums et des évocateurs

Tanto as explicações como as deduções de Kardec sofreram crescentes críticas com o passar do tempo, principalmente entre a corrente principal da ciência, alicerçada na física newtoniana e em ideias materialistas como as de Comte e outros autores típicos de sua época. 

Seu audacioso esforço para, através de uma filosofia simples, aproximar a ciência do cristianismo e sua respectiva ética (desvinculado de igrejas), também foi criticado, mas principalmente por religiosos. 

Resumidamente a prática da espiritualidade propagada por Kardec se deu por orações conscientes (como as de Santa Teresa d'Ávila), diálogos com espíritos, que muitas vezes poderiam ser feitos simplesmente entre uma pessoa e um espírito para resolver problemas pessoais, ou em grupo para propagar a ética cristã. No primeiro caso o diálogo não difere muito de um exercício psicológico - prestar atenção no que se sente, manter-se com mente centrada em valores de humildade, paciência e solidariedade, com atenção e força de vontade. Agir de modo coerente com esta mentalidade etc. No segundo caso, o exercício mental pouco diferia do 1º, mas geralmente tratava-se de reuniões cristãs separadas das igrejas. Separação esta que ocorre principalmente devido o fato dos espíritas aceitarem espíritos intermediários entre os humanos e Deus, algo inaceitável para muitos religiosos apegados a dogmas. 

Por fim, para defender a ética e uma construção do conhecimento para além do naturalismo, Kardec criticou de maneira aberta e direta o niilismo e o materialismo, apontando como estas ideias respectivamente começavam a propagar o hedonismo e a busca inescrupulosa e incessante por luxo e riquezas materiais. 

As teorias e práticas espíritas fizeram um sucesso que durou só algumas décadas na França, pois após a morte de Kardec, houveram dissensões entre os espíritas e o movimento praticamente acabou na Europa por volta da virada do século 19 ao 20. 

Embora o materialismo e o niilismo possam ter surgido como reação ao conservadorismo (misoneísmo é o termo mais adequado), ao punitivismo e a busca por poder das igrejas e seus vários dogmas, o materialismo elevado como verdade absoluta para além de um mero pressuposto filosófico complementa o niilismo - a crença no nada; e ambas eram naturalmente contrárias a qualquer espiritualismo e mentalismo. Por esta razão contrariavam também o espiritismo, que afirmava a imortalidade da alma de modo similar ao platonismo, à algumas filosofias espiritualistas hindus, como o Krya Yoga e a outras espiritualidades extintas de variadas culturas (celtas, astecas, orfismo grego etc). Enquanto as ideologias em acordo com o materialismo e o niilismo simplesmente afirmavam a não existência do que não podiam perceber com os sentidos humanos, espiritualistas, sejam platônicos, espíritas (ou outros) buscavam argumentos, como por exemplo, a indivisibilidade da psiquê: Se a mente (ou alma) é indivisível, ao contrário dos corpos que morrem, apodrecem, deterioram, podem ser divididos (etc), então ela é imortal. Este tipo de argumentação é filosófica (possivelmente ontológica), pois dificilmente poderia ser baseada em evidências palpáveis (as ditas "mensuráveis") ou no método empírico que em seu significado verdadeiro estabelece uma relação sensorial com um objeto especificado. A partir desta relação sensorial ("observação"), o método empírico realiza experiências reprodutíveis com o objeto específico, o que implica em um estudo especializado. Tal método fomenta a redução do objeto de estudo, que quando "material", por exemplo, é dividido menor partícula possível. O problema é que esta redução é imposta literalmente e não só em caso de estudos "materiais", como explicarei adiante. Por enquanto voltemos às descobertas relacionadas à psicologia. 

Wozniak não cita Allan Kardec, creio eu por razões óbvias que não vou mencionar aqui... Mas o autor estranhamente afirma que (nos meados do século 19) as técnicas hipnóticas tiveram que ser resgatadas do domínio da pseudociência. Levanto duas indagações a partir desta afirmação do psicólogo estadunidense. 

A 1ª é mais específica à narrativa utilizada no livro de Wozniak: O autor não considera pseudociência a teoria do magnetismo animal de Mesmer, bem como as curas magnéticas realizadas por ele e "mesmeristas" posteriores. Também não considera pseudociência a hipnose desenvolvida por Braid e utilizada por Charcot e outros no século 19. Isto está em desacordo com a visão tradicional da ciência materialista, seja alicerçada nas obras de Newton e Locke, ou em Comte, Popper e tantos outros. Particularmente não vejo problema nisto, já que o materialismo e a física newtoniana (e toda a retórica construída para defendê-las no século 20) já foram refutados pela revolução da física (já mencionada na obra de Eddington). 

Porém a 2ª questão é: O que é pseudociência? Isto poderia gerar infrutíferos e longos debates no meio acadêmico, mas farei uma breve análise a partir da etimologia da palavra. O prefixo "pseudo" refere-se à mentira e/ ou falsidade, logo trata-se de uma acusação de falsa ciência. Porém, apesar da ciência ser confundida com o sinônimo de conhecimento, ela é um campo restrito do saber, não englobando religião e espiritualidade, nem filosofia, desde sua separação desta última na 1ª metade do século 19. 

Fica a dúvida: Wozniak só alegou que o hipnotismo foi utilizado dentro de outros saberes (o filosófico e/ou o religioso/ espiritual)? Neste caso, não há problema algum em se buscar respostas filosóficas ou religiosas através do hipnotismo, ao menos não dentro do restrito campo da ciência. Ou ele acusou de utilizarem o hipnotismo como falso conhecimento? Este seria um tema puramente epistemológico, talvez ontológico... Portanto exclusivo da filosofia. 

Pseudociências são as teorias nocivas propostas como ciências, como por exemplo, as que surgiram no Reino Unido, América do Norte e Europa Ocidental, por volta das 3 últimas décadas do século 19, e tentaram aplicar o darwinismo (a teoria biológica da evolução das espécies) nas sociedades humanas e seus respectivos sistemas sociais e econômicos. Estas teorias formadas por Spencer, Galton (citados no texto anterior sobre a Teoria Mente/ Corpo) e Malthus (entre outros estudiosos europeus) passaram a ser chamadas de darwinismo social e descreviam o uso dos conceitos de luta pela existência e sobrevivência dos mais aptos, para justificar políticas que não fazem distinção entre aqueles capazes de sustentar a si e aqueles incapazes de se sustentar. Esse conceito fomentou as ideias e comportamentos de eugenia, racismo, imperialismo, fascismo, nazismo e a luta entre grupos e etnias nacionais. 

Na sociedade americana, as ideias do darwinismo social alcançaram a sua maior proeminência durante a Era Dourada – predominantemente através da lógica dos titãs industriais do final do século XIX, como John D. Rockefeller (1839–1937) e Andrew Carnegie (1835–1919). Monopólios nacionais deste tipo aplicaram o conceito de seleção natural de Darwin para explicar a dominância corporativa nos seus respectivos campos e, assim, justificar a sua acumulação exorbitante de sucesso e avanço econômico. 

É óbvio que estas ideologias que tentavam elevar uma visão biológica do comportamento (animal) ao status de verdade universal, eram reducionistas, pois reduziam todas as áreas de humanas (história, sociologia, psicologia etc) a fatores biológicos de comportamento, descartando muitos fatos (relações sociais e econômicas, eficácia e aplicação das leis, interesses particulares, intenções, decisões entre outros comportamentos humanos) como se eles não existissem. O darwinismo é restrito à biologia, porém quando propagado como suposto argumento científico sobre a área de humanas, não leva em consideração a complexidade da sociedade, sua história, os inúmeros casos em que as instituições de leis falharam (de indivíduos que enriqueceram através de golpes econômicos e políticos prejudicando outros, etc). Também não consideravam a importância da empatia, dos trabalhos sociais (em sociedade etc) e de caridade, nem a importância dos sentimentos, das dificuldades das relações afetivas em níveis familiares e sociais etc. Nota-se que pseudociência então deve (ou deveria) ser as práticas apresentadas como ciência, mas que ao invés de construir conhecimento, causam prejuízos aos indivíduos ou aos grupos de indivíduos/ sociedade. Assim, a pseudociência é um charlatanismo (resumidamente uma ação que visa proveito próprio prejudicando outrem), só que sob uma "máscara", ou apresentação, de ciência.

Aproximadamente neste período da história então, Jean-Martin Charcot (1825-1893), a partir do ano de 1862, criou um centro de pesquisa em neurologia no hospital de Salpètrière. Charcot tentou distinguir entre seus pacientes com convulsões, quais eram de origem epiléticas e quais eram "histéricas", uma denominação que cairia em desuso devido à sua imprecisão. Enquanto isto, a hipnose passou a ser utilizada pelo médico Charles Richet (1850-1935), para pesquisar desordens funcionais nervosas, como em sua obra, Du somnambulisme provoque, publicada em 1875. Richet é considerado o descobridor da sonoterapia, da anafilaxia (alergia) e fundador da metapsíquica. 

Wozniak afirma que o 1º sumário importante de conclusões de Jean-Martin Charcot foi apresentado no Volume 1 de suas Leçons sur les maladies du systême nerveux faites à la Salpêtrière, publicado entre 1872 e 1873. Depois da obra de Briquet, Traité clinique de thérapeutique de l'hysterie (1859), Charcot conceitualizou histeria como uma neurose do cérebro tipicamente trazida por hereditariedade predisposta em indivíduos com trauma e em 1878, o médico francês passou a empregar hipnose no estudo da histeria, descobrindo que sob este método, era possível reproduzir não só a sintomatologia histérica (amnésia, mudez, anestesias), mas também fenômenos pós traumáticos, como paralisias causadas por acidentes. Isto o levou a agrupar os fenômenos hipnóticos, histéricos e pós traumáticos, para distinguir estes dos sintomas orgânicos do sistema nervoso, resultando na hipótese da existência de"idéias fixas" inconscientes como núcleo de certas neuroses. Esta teoria exerceu considerável influência em Janet e Freud, porém o trabalho de Charcot passa a ser alvo de variadas críticas e vai caindo no descrédito, enquanto novas teorias se desenvolvem, seja na psicologia mais neurológica, sensorial ou filosófica. 

Ainda neste período, Willhelm Wundt (1832-1920), considerado o fundador da psicologia moderna realiza seus estudos e trabalhos. O filósofo, médico e psicólogo germânico, estudou a anatomia do cérebro em Tübngen, completando os estudos em medicina em 1855. Obteve o doutorado em filosofia em 1858, mesmo ano que tornou-se assistente de Helmholtz. Com seu trabalho experimental, Wundt começou o estudo da percepção que o levou a uma série de publicações coletadas em seu Beiträge zur Theorie der Sinneswahrnehmung de 1862. É em sua introdução ao método, escrito especificamente para o Beiträge, que foi marcada a emergência do plano de Wundt para uma psicologia experimental. 

O autor ainda engajou-se no movimento pela educação dos operários e foi eleito membro do parlamento pelo partido progressista, ficando neste posto entre 1866 e 1868. 

Embora tenha se tornado famoso na psicologia após os século 19, devido à fundação de seu laboratório de psicologia em 1879 e por ter sido o 1º a utilizar a denominação de psicólogo, a obra de Wundt é muito maior do que seus esforços experimentais, como veremos a seguir. 

A definição de psicologia apresentada por Wundt pode ser assim resumida: "a psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é a experiência interna ou imediata" (cf. Wundt, 1896a, 1896b). Conforme esta citação levantada por Saulo de Freitas Araújo, entende-se que o objeto de estudo da psicologia é interno, ou seja, trata-se dos processos que não ocorrem pelo meio perceptível, não interagem necessariamente com o meio, pois não são externos, certamente porque busca-se entender tais processos antes de serem externalizados, e talvez, após serem recebidos ou "interiorizados". Estes processos então são subjetivos, ou seja, estão "sob" algo ou "por trás" do corpo e de suas respectivas ações e expressões. Esta subjetividade é o que diferencia o ser humano dos objetos - isto pode ser notado claramente não só na etimologia da palavra subjetividade, como também da palavra objetividade, esta última que se refere a um objeto. 

Porém a subjetividade não pode ser observada diretamente, pois para que a "observação" seja feita é preciso um processo mediato, que ocorre pelo meio, ou seja, através dos sentidos. Aqui vale uma breve observação sobre o que é mediato e o que é imediato como explica Saulo de Freitas Araújo: ..."toda experiência pode ser analisada pelo seu conteúdo puramente objetivo (experiência mediata) ou subjetivo (experiência imediata). No primeiro caso, abstrai-se o sujeito da experiência e coloca-se toda a ênfase nos seus objetos (mundo externo), enquanto que, no segundo caso, investigam-se os aspectos subjetivos da experiência e sua relação recíproca com todos os conteúdos da mesma (mundo interno).

Nisto as abordagens da psicologia em suas práticas psicoterápicas concordam - tratam o paciente através da fala deste, identificando queixas, experiências de vida, significações etc. Ainda assim, apesar das psicoterapias ocorrerem através deste processo envolvendo fenômenos sensoriais (fala, expressões emocionais ou afetivas etc), o objetivo destas é tratar ou auxiliar o paciente/ cliente com suas experiências internas, pois nestas ocorrem as dificuldades que podem gerar desde sofrimentos psíquicos até transtornos psíquicos. 

Como Araújo indica, Wundt, ao buscar uma expansão da psicologia para abranger uma epistemologia empírica, estava propondo estudos psicológicos científicos, mas sem abandonar ou separar completamente tal área da filosofia: Um outro ponto importante a se considerar aqui é a relação entre psicologia e filosofia. De todas as ciências empíricas, Wundt considera que a psicologia é aquela cujos resultados mais contribuem para a investigação dos problemas gerais da teoria do conhecimento e da ética, os dois principais domínios filosóficos para ele. Se a psicologia, portanto, é complementar às ciências naturais, podemos dizer que é preparatória para a filosofia. Em outras palavras, os resultados das investigações psicológicas podem servir de guia para a construção de um sistema filosófico (cf. Wundt, 1889). 

Continuando a exposição sobre a definição de psicologia dada por Wundt, percebe-se que ele propôs o método empírico para estudar a subjetividade onde ocorrem as experiências internas/ imediatas do paciente/ cliente. Talvez este seja um desafio para a psicologia e todas as suas abordagens: A rigor, ou ao menos, em sua origem, o método empírico de construção de conhecimento apoia-se não só na observação* do fenômeno (*percepção, ou seja, via processos sensoriais), mas também na possibilidade de reproduzir tal fenômeno. Diversos estudiosos (Jung e Dunker por exemplo) já afirmaram que esta reprodutibilidade não é alcançável à risca nas psicoterapias, em abordagem alguma: O paciente, seus sentimentos e relatos não são manipuláveis com precisão pelo observador (seja psicólogo, psicanalista, psiquiatra ou qualquer outro estudioso/ profissional). O método empírico então é aplicado somente parcialmente nas psicoterapias: Ouve-se o conteúdo das falas, a forma como são relatados, as expressões de sentimentos (emoções), sua postura, vestimentas, enfim, comportamentos. Apesar desta limitação que implica em riscos de imprecisões e erros, deve-se considerar o que o paciente compartilha como algo válido para o tratamento ou para o estudo em particular, pois se não for deste modo, qualquer avanço psicoterapêutico ou científico, torna-se impossível. 

Esta aplicação parcial do empirismo (a epistemologia dominante no meio científico) pode indicar que todas as psicoterapias utilizem uma metodologia (ou método de construção de conhecimento) em uma parte científica (sensorial) e em outra parte, filosófica (inferência, análise, comparações etc). Não deveria haver polêmica em torno de tal fato pois isto também era previsto por Wundt como podemos notar a seguir: Essas duas ciências (a empírica que analisa a experiência mediata e a "não-empírica" que analisa a experiência imediata) trabalhariam de forma complementar, com o intuito de abranger o conteúdo da experiência como um todo (cf. Wundt, 1889) 

O filósofo e psicólogo estadunidense, William James (1842-1910), cresceu em um ambiente que aceitava ideias transcendentalistas. Ele formou-se em medicina em 1864, mas nunca exerceu a profissão, e, mudando para a psicologia defendeu a consciência como uma força eficaz da evolução nas espécies. 

Wozniak explica que James, estendendo o trabalho de Bain e de associacionistas britânicos sobre a atividade ideomotor, articulou uma teoria alicerçada na biologia, vinculando-a com o desenvolvimento psicológico da emoção e hábito. Ele também vinculou a compreensão da percepção aos domínios do significado simbólico quando afirmou, de um ponto de vista evolutivo, que quando somos confrontados com uma massa confusa de informação, a atenção ao estímulo externo é amplamente função de um interesse pessoal. 

Em 1890, William James produziu seus 2 volumes dos Principles of Psychology, onde ele partiu de uma preocupação com o objeto no centro das atenções e defendeu que a psicologia se desenvolvesse em torno de uma abordagem cognitiva da consciência. Wozniak afirma que sua mais duradoura metáfora foi a do fluxo de consciência. Aqui foi sua doutrina de relações; Assim como objetos podem ser experimentados, as relações entre eles também podem. Portanto, ele disse, qualquer psicologia legitimamente científica deve considerar tanto o fluxo de pensamento (ou de consciência) quanto o sentimento. 

Entre 1890 e 1902, James revisou a literatura experimental francesa e germânica sobre psicopatologia e continuou a conduzir experimentos em hipnose, escrita automática e outros fenômenos considerados de dissociação (que ele já havia iniciado nos anos de 1880). Ele se tornou um conduíte para os últimos desenvolvimentos da psicologia francesa experimental do subconsciente e correspondeu-se com Janet e Théodule Ribot sobre problemas relacionados às patologias das emoções. Wozniak diz que o principal objetivo de James era indicar que há mais do que a consciência desperta e o reino obscuro chamado inconsciente. A personalidade era uma pluralidade de estados e a consciência desperta (em vigília) era apenas um entre muitos estados, significante somente para sobrevivência do organismo no mundo externo. Outros reinos da experiência humana existiam simultaneamente em paralelo com a consciência desperta. Consciência na verdade, era um campo, com um foco e uma margem. Enquanto o objeto do centro da atenção permanecia o mesmo, a própria base da percepção podia tornar-se radicalmente alterada devido a fadiga, trauma ou conflito intrapsíquico que as explicações científicas padrões não levavam em conta. 

Em 1902, James avançou sobre o problema mente/ corpo, com sua obra Varieties of Religious Experiences, onde ele investigou o papel da experiência transcendental em refazer vidas arruinadas. Para William James, a significância da religião jazia dentro da experiência do indivíduo, mas a adequação destas experiências, ele afirmava, só poderia ser testada em termos dos seus frutos para a vida. 

Wozniak explica que, estas concepções progressivas da consciência, baseada nas evidências experimentais e corroboradas por testemunho vivo formaram a motivação para William James desenvolver sua epistemologia a qual ele acreditou ser sofisticada o suficiente para desafiar a supremacia do materialismo "científico". A base desta crítica e o resultado lógico tanto do seu estudo dos empiristas britânicos como do pragmatismo de C. S. Peirce, foi a sua metafísica do empirismo radical. James afirmava que sua abordagem era empírica porque se confinava somente aos fatos da experiência e era radical porque demandava que a ciência não ignorasse qualquer aspecto da realidade se pudesse ser experimentado. 

Certamente por abordar tais temas controversos, William James foi questionado e envolto por alguma polêmica. Sua abordagem não durou muito após sua morte, pois seu país, os EUA, estava se tornando o local onde os pressupostos materialistas da ciência mais ganhava força e o psicólogo alegou que tais pressupostos seriam chamados a prestar contas através da análise. 

O médico, filósofo e psicólogo francês, Pierre Márie Felix Janet (1859-1947), em sua dissertação, L'automatisme psychologique, reuniu relevantes informações clínicas sobre uma variedade de estados mentais "anormais" relacionados à histeria e psicose. Dividindo tais estados em automatismos totais e parciais, Janet empregou a escrita automática e hipnose para identificar origens traumáticas e explorar a natureza dos automatismos. Síncope, catalepsia e sonambulismo artificial com amnésia pós hipnótica e memória de estados hipnóticos anteriores foram analisadas como automatismos totais. Existências sucessivas (múltiplas personalidades), catalepsia parcial, alienação (mente ausente), fenômeno da escrita automática, sugestão pós hipnótica, uso de vara de adivinhação, obsessões, possessões, ideias fixas, e transe mediúnico foram tratados como automatismos parciais. Wozniak explica que Janet juntou todos estes fenômenos dentro de uma estrutura analítica que considerava a relação ideomotor entre consciência e ação. A partir daí, Janet empregou uma metáfora dinâmica de "força e fraqueza psíquica", enfatizando o conceito de um "campo de consciência" e seu estreitamento, como resultado do esgotamento da força psíquica. Dentro desta estrutura de trabalho, Janet analisou a fixação peculiar de um paciente no terapeuta durante o relacionamento em termos de uma distorção da percepção do paciente. Assim, Janet relacionou a sintomatologia histérica ao poder autônomo das "idéias fixas" desligadas da personalidade consciente e submersas no subconsciente. Embora tenha o cuidado de evitar a discussão direta da implicação terapêutica deste trabalho em uma dissertação não médica, Janet lançou as bases para suas próprias abordagens terapêuticas e as de Freud através de sua demonstração das origens da cisão em traumas psíquicos na história passada do paciente. Janet, na revista Archieves du Neurologie, afirma que os trabalhos de Freud e Breuer confirmam suas interpretações sobre desagregação psicológica e dupla personalidade. O neurologista e fundador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), por sua vez, diz que suas visões sobre o psiquismo só podiam ser comparadas com as de Janet, porém a concórdia entre ambos acaba em 1893. Janet concorda com a utilização da relembrança e reminiscência feita por Freud e Breuer, mas discorda do método catártico, pois crê que "a cura" do paciente seja mais complexa. Freud discorda de Janet, ao afirmar que os pacientes apresentavam uma "resistência", ao invés de ineficácia ou enfraquecimento psíquica. 

A partir deste ponto da história, a psicologia começa a se desmembrar em várias abordagens. Muitos autores da psicologia ganharam alguma fama: Freud, Klein, Adler, Jung, Watson, Skinner, Boss, Winnicott, Piaget, Vigotsky, Wallon, Erikson, Perls, Frankl, Rogers, May, Beck, Lacan entre outros. Embora seja pouco ou nada mencionado nas obras e cursos de psicologia, o principal motivo da fragmentação da psicologia é o ponto de partida de cada autor baseado em diferentes pressupostos filosóficos. Tais pressupostos, na verdade, ocultam uma questão da teoria da mente que faz parte de uma cosmovisão (de modo geral, erroneamente mesclada à ontologia desde meados do século 19 e à epistemologia desde o século 18). Para não dizer que cada autor e sua respectiva abordagem tem uma visão de mundo (e de mente), no mínimo, cada frente da psicologia (que totalizam três) se baseia em uma destas visões...

O que é a mente? A mente, chamada de psiquê desde a era clássica da Grécia, foi considerada sinônimo de alma durante séculos, talvez por milênios. Pois a filosofia em sua forma original (na Grécia clássica), era aberta aos variados saberes, não negava questões "religiosas" e nem encontrou uma prova de que a mente estivesse localizada em algum lugar, possibilitando debater temas espirituais. Tal "localização" da mente continua indetectável até este ano de 2023, assim como ainda é improvável que ela seja só o cérebro ou outra parte do corpo. Porém, no ocidente, durante o século 19 e durante alguma extensão do século 20 a qual não aprofundarei aqui, para os materialistas (ideologia comum entre cientistas) e niilistas (ideologia comum entre filósofos desta época) não era mais admissível que a psicologia fosse o estudo da alma. Abordagens psicológicas que se apoiam nestes pressupostos reducionistas (como a frente behaviorista/ comportamental), seja o monismo eliminativo, o monismo materialista ou uma ideologia da finitude, impõem limites (pseudo) filosóficos que não só insinuam que abordagens de frentes diferentes da sua própria não sejam científicas, como também afetam seus próprios estudos, pois não consideram certos aspectos do ser humano, sejam eles mentais e/ ou culturais. Pior que isto, se tais pressupostos forem elevados ao status de "única ciência verdadeira", eles mostram uma relação com as tentativas de reduzir áreas da filosofia, como a ontologia e a epistemologia, apoiando-se em negações (a mente não existe, todos fenômenos espirituais e religiosos são mentiras ou alucinações etc), dificultando estudos transdisciplinares e contrariando "visões de mundo" diferentes das suas. 

A frente fenomenológica da psicologia viria a surgir a partir das obras do filósofo e matemático, Edmund Husserl (1858-1939), e abrindo a questão dos pressupostos filosóficos ao questionar a ciência tradicional e seus pressupostos reducionistas propostos como verdades absolutas, tal frente seria dividida entre os indivíduos que deixam a questão da mente em aberto e os que assumem uma postura niilista. Esta postura niilista pouco difere da materialista: Ambas quando elevadas ao status de verdade, distorcem a função original da ontologia que é a de estudar a melhor forma das coisas serem (como mencionado nas obras de Platão, particularmente em Fédon), também encolhendo a cosmovisão à sua própria interpretação da realidade, proibindo visões dualistas, mentalistas e espiritualistas nas ciências e de modo indireto, até mesmo na filosofia. 

Por fim, surgiria a frente psicanalítica dos autores freudianos e daqueles que separaram-se de Freud (Rank, Adler, Jung etc). Esta frente que considera a psicossomática, parece seguir um pressuposto dualista, embora possa ser considerada mentalista pelo simples fato de não localizar a mente necessariamente no cérebro ou no sistema nervoso. 

As múltiplas abordagens destas 3 frentes passam a ser propagadas, demarcando uma nova era da psicologia, onde a questão da relação mente/ corpo (também chamada de mente/ cérebro) na verdade continua sem resposta: Não existe prova que a mente esteja exclusivamente em qualquer ponto do sistema nervoso, muito menos existem provas de que a mente ou a alma não existam, mesmo porque não é função de ciência alguma provar a inexistência de algo. Apesar destas verdades, a questão do que é a mente (a teoria mente/ corpo etc), está por trás das acusações feitas por materialistas contra o mentalismo e o espiritualismo e rixas enrustidas entre estas visões que abalam a construção de conhecimento (o campo filosófico que é a epistemologia) e a ética (outro campo filosófico) da psicologia, tanto em um nível teórico (científico e acadêmico) como a um nível prático (clínico, social etc). 

A prioridade da psicologia desde sua base, ou de seus pressupostos, deveria ser sua finalidade, ou seja, o bem estar e a saúde mental do ser humano a nível individual e social/ coletivo, o que nos indica a relevância da ética não só na psicologia, como nas ciências em geral. A finalidade e a relevância da ciência, bem como de qualquer outro saber, não deve ser baseada em uma cosmovisão recortada, muito menos em uma distorção da ontologia. Tais bases não passam de uma imposição de visão de mundo como verdade - Ato que certos líderes religiosos, fazem no ocidente desde o processo de institucionalização das igrejas iniciado no Império Romano durante o século 4. 

Conclusão: Reducionismo no que se refere à Psicologia 

Como já é possível entender, a ciência tradicional (também chamada de "mainstream", newtoniana etc) baseia-se em pressupostos materialistas e utiliza um método de construção de conhecimento empírico. Esta "visão de mundo" que ignora tudo o que não é perceptível sensorialmente está de acordo com esta epistemologia que lida só com fenômenos sensoriais e suas evidências, porém esta combinação é naturalmente reducionista. Reducionista aqui é empregada no sentido literal - de reduzir o objeto de estudo em partes e de estabelecer limites do conhecimento (onto/ epistemológicos) alegando que certas coisas não existem. Este polêmico pressuposto deve ser válido para estudos especializados de ciências biológicas (medicina e seus vários ramos, química etc), mas cria uma certeza dogmática, praticamente baseada em opinião, resumível pelo seguinte exemplo de frase: "tudo o que não percebo, não existe". Não há nada de errado em pensar assim, porém certamente é errado impor tal visão de mundo sobre os outros, principalmente impor tal visão na psicologia e em outras ciências humanas. 

A propagação do reducionismo explicada anteriormente, durante todo o século 19 até a 1ª metade do século 20, naturalmente explica o porque a psicologia teve grandes dificuldades para avançar mais rumo ao estudo de temas de suma importância como as relações afetivas, culturais, familiares e sociais, e seus impactos nos sentimentos (emoções não exteriorizadas) do indivíduo, em sua subjetividade, ou seja, o que é interiorizado na mente humana. Sentimentos, assim como as emoções e o auto-conhecimento, são uma questão central na vida humana e nenhum ser humano quer uma vida sem sentimentos ou com a dominância de sentimentos negativos - sentimentos positivos, como amor, amizade, esperança (etc) são de suma importância. A mente e estes elementos psíquicos/ afetivos são indivisíveis/ irredutíveis, e não são necessariamente perceptíveis por outrem. 

Além disto, quando um psicólogo ou qualquer outro profissional da saúde mental assume o materialismo e/ ou o niilismo como verdade absoluta, ele está negando todo e qualquer saber religioso e filosófico, pois com tal "pré suposição" estes campos do saber são considerados falsos ou menos importantes do que a ciência. 

O psiquiatra fundador da logoterapia, Viktor Frankl (1905-1997), traça a relação do reducionismo com o niilismo durante o século 20: "O niilismo de ontem ensinava o nada. O reducionismo prega hoje a limitação que caracteriza cada coisa. O homem, dizem os reducionistas, não é nada mais do que um computador, ou então um macaco nu". 

O psicólogo como qualquer estudioso (seja cientista ou filósofo), assim como qualquer paciente/ cliente, tem o direito de ser ateu, cristão, budista, hermetista ou de qualquer outra fé/ espiritualidade. Porém se, em seus estudos ou prática terapêutica, o psicólogo parte de um pressuposto (ou "ontologia") materialista e/ou niilista ele tem tal visão como verdade/ dogma. Desta forma ele tende a observar o próximo, seja cliente, paciente ou qualquer outro indivíduo, conforme sua visão de existência, classificando tudo destas áreas (filosofia e religião) como mentiras ou transtornos/ psicopatologias. 

Isto implica não só na possibilidade do profissional de saúde mental (psiquiatra ou psicólogo) fazer um diagnóstico errado de um paciente, como também implica em um viés de julgar todo e qualquer indivíduo ignorante ou débil por seguir preceitos filosóficos ou religiosos/ espirituais (isto também pode se tornar um atentado à liberdade religiosa/ de culto). O paciente, cliente ou profissional que busca um estilo de vida que busca o progresso de sua alma ou espírito certamente será julgado inadequadamente pelo profissional materialista/ niilista. Tomemos como exemplo, um paciente que busque aplicar preceitos da filosofia socrática e platônica em sua própria vida, como a importância da busca da evolução da alma através do progresso de uma paixão sensual (sensorial, o eros) para a filia (amizades), e se possível, até a ágape (solidariedade, amor incondicional, amor expansivo, pela humanidade etc). Este sentido ou objetivo do paciente não existe para o terapeuta materialista e/ ou niilista - Esta "inexistência" para tal terapeuta trata-se de uma suposta verdade ou fato. Desta forma, quando este terapeuta buscar assumir uma postura "neutra" diante os objetivos de seu paciente/ cliente, estará contradizendo sua própria visão de mundo, que é seu paradigma e sua própria base de estudos - pois estará diante algo que ele e sua abordagem consideram absurdo e/ ou inexistente. 

Desta mesma maneira, um terapeuta com estes pressupostos, também tende a entrar em contradição ao tratar qualquer paciente que priorize o cerne dos ensinamentos cristãos de amor o próximo como a si mesmo e a Deus (os mais conhecidos e coerentes de Jesus Cristo, não me refiro à certas passagens da bíblia que dão margens à interpretações dúbias). 

Esta negação da importância da filosofia e da religião típica da "cosmovisão" materialista/ niilista/ reducionista afeta praticamente todas as espiritualidades e filosofias mentalistas ou espiritualistas (Krya Yoga, Bhakti Yoga, certas vertentes do budismo etc). Cosmovisão esta que tem pouco ou nada de "cosmo", pois é reducionista e nega (ou reduz) uma série de fenômenos. 

Ainda tratando estes problemas de visão do que existe/ "não existe" (supostamente ontológicos, para autores como Apostel) que se estendem à epistemologia, já foi explicado neste texto que rigores como a reprodutibilidade do método predominante na ciência tradicional (empírico) não são aplicáveis em uma análise clínica do paciente (seja sua "mente", chamada de comportamento secreto, cognição, psiquê, psiquismo, aparelho psíquico ou essência). É absurdo querer que um paciente ou cliente passe repetidamente e com precisão por todas suas experiências que o levaram a um quadro de sofrimento psíquico ou de transtorno psíquico. Assim como é impossível realizar um rastreio completo e preciso da multi causalidade de qualquer estado emotivo e/ ou psíquico do paciente em uma sessão de terapia, pois mesmo se houvesse meios para isto, seria uma total invasão de privacidade e intimidade do mesmo. Estes são dois exemplos óbvios da impossibilidade da reprodutibilidade na psicologia e esta impossibilidade deve ser mantida por questões éticas e humanas. Questões de respeito à história do paciente, ao seu ritmo de estabelecer relacionamentos terapêuticos e à sua privacidade. 

Tais fatos indicam que a ciência precisa abandonar o tradicionalismo, buscando aceitar e por em prática não só as teorias da relatividade e quântica (que são obviamente voltadas à física), mas também teorias não reducionistas, ou seja, mais transdisciplinares, como a teoria geral dos sistemas. Caso contrário todas as abordagens (terapias) psicológicas não poderão ser científicas, pois nenhuma delas permite a reprodutibilidade empírica/ "científica". Além disto, seria muita ignorância chamar qualquer abordagem psicológica de pseudociência por causa de sua falta de reprodutibilidade ou por assumir uma cosmovisão mais abrangente do que a materialista, uma vez que todas as abordagens permitem, no mínimo, uma melhora do paciente e a eficácia delas são todas parciais, com poucas diferenças neste quesito entre uma e outra. 

Se a academia/ meio científico quer se fechar em seus pressupostos e métodos tradicionais (o que não me parece producente nem razoável), então todas as frentes e abordagens da psicologia poderiam e deveriam ser consideradas partes de uma filosofia com aplicação prática, pois tal tradicionalismo contradiz a diversidade e a prática destas áreas que envolvem desde estudos teóricos até o cuidado com a saúde mental. 

Também se mostra urgente aplicar à ciência, conceitos do campo filosófico da ética. Diversos foram os estudiosos ao longo da história que viram a importância da ética na própria construção do conhecimento: Descartes, Berkeley, Whewell e Ludwing von Bertalanffy são apenas alguns exemplos. 

O materialismo e/ ou o niilismo (juntos ou separados, tanto faz) foram transformados em dogmas que contrariaram a noção de mente, de alma e de espírito. Ao aplicar tais reducionismos na psicologia e na psiquiatria, é óbvio que isto gera consequências nocivas, como por exemplo, categorizar toda e qualquer experiência espiritual ou religiosa como algo patológico. Neste ponto as explicações do psiquiatra húngaro-estadunidense, Thomas Szass (1920-2012), mostram as contradições e perigos de tais conceitos em suas afirmações: 

"Doença mental" é uma expressão, uma metáfora que descreve uma conduta, ação ou padrão de comportamento ofensivo, perturbador, chocante ou irritante, tal como embalado sob o termo abrangente esquizofrenia, como uma "doença" ou "doença" . (...) "Se você fala com Deus, você está orando; se Deus fala com você, você tem esquizofrenia. Se os mortos falam com você, você é um espiritualista; se você fala com os mortos, você é esquizofrênico.

"Visto que a teocracia é o governo de Deus ou dos seus sacerdotes, e a democracia o governo do povo ou da maioria, a farmácia é, portanto, o governo da medicina ou dos médicos." 

Tentando refutar Szaas, o historiador da medicina estadunidense, Edward L. Shorter, apoia-se em uma visão de mundo monista materialista como se fosse um dogma da ciência, ignorando todo aspecto mental (interno) sem marcador biológico (pensamentos, sofrimentos psíquicos multi causais, emoções não expressas como sentimentos etc): "A crítica de Szasz baseia-se implicitamente numa concepção de mente extraída da psiquiatria do início de meados do século XX – nomeadamente a psiquiatria psicanalítica – e Szasz não actualizou a sua crítica à luz dos desenvolvimentos posteriores na psiquiatria. O referente da crítica de Szasz – a mente de Freud – só pode ser encontrado no registro histórico e em algumas ilhas isoladas da prática psicanalítica. Nesta medida, a crítica de Szasz não aborda a psiquiatria contemporânea de orientação biológica e é irrelevante.

A concepção de mente psicanálitica considera a subjetividade individual, como Wundt, Viktor Frankl, Carl Gustav Jung (entre outros) faziam. É uma concepção mais aberta ou abrangente, que possibilita entender a mente como algo não meramente biológico/ material, podendo ser dualista (mente-corpo) ou mentalista, depende de cada autor. Assim, fica nítida que a alegação final de Shorter confirma sua interpretação totalmente biológica da mente. Este pressuposto exclusivamente materialista elevado à dogma, invade a área da psicologia com uma visão que só serve à especialização da medicina como ciência do corpo, reduzindo a mente humana ao restrito ponto de vista exclusivamente biológico. Tal redução notoriamente enviesada leva a tratamentos cada vez mais "psico"farmacológicos e menos psicoterapêuticos, favorecendo a indústria farmacêutica e sua respectiva lucratividade. 

Enfim, talvez este não seja um trabalho digno de um mestrado com suas respectivas exigências, mas tudo apresentado até o parágrafo anterior (e os 2 textos anteriores) foi o que eu consegui reunir de "dados científicos" - registros na história humana, particularmente a história da filosofia e da psicologia, mas que inevitavelmente toca outras áreas de estudo em alguns momentos como vocês leitores puderam notar: Neurologia, ética, biologia, sociologia etc. Não me aprofundei na psicologia predominante do século 20 em diante, mas cabe dizer que ela segue em algum nível aleijada e auto-destrutiva: Visões reducionistas como o materialismo ainda persistem nesta área, fora os ataques de alguns "profissionais" das vertentes supostamente "mais científicas" feitas às outras abordagens psicoterapêuticas. Resumidamente, o problema trata-se de rivalidade, vaidade e orgulho. Elevar seu próprio segmento de estudo à verdade absoluta e atacar outros - isto que está acontecendo na ciência, há tempos ocorre nas religiões, e, ouvi dizer, que ocorre até na filosofia desde o final da 1ª metade do século 20, por volta da década de 40 ou 30. 

Os saberes, sejam eles científico, filosófico ou religioso, são construídos ao longo do tempo, com relações de troca de conhecimento, onde se testam hipóteses SEM PREFERÊNCIAS e SEM INTERESSES PARTICULARES - neutralidade não existe, mas é preciso um esforço ético para manter-se uma postura de distanciamento sem deixar de ser humano, sem deixar de respeitar indivíduos ou grupos, sem proibir investigações que visam construção de conhecimento ou tratamentos terapêuticos de variadas cosmovisões tão benéficos quanto os tratamentos de base materialista. Quer combater o charlatanismo? Ótimo, mas antes saiba que o praticante de charlatanismo visa o benefício próprio, PREJUDICANDO outrem - não se combate charlatanismo, ou qualquer crime, com discursos deterministas que alegam "o que existe" e "o que não existe".

Enquanto o ser humano continuar com sua mentalidade (ou visão de mundo) de seita, ele permanecerá fútil, apegado a mesquinharias, seja buscando mero status, fama, ou riqueza material. Permanecerá anti científico, anti filosófico e anti religioso... Por isso há anos atrás, eu afirmei em um (ou mais) texto(s) que a ciência (assim como a filosofia e a religião/ espiritualidade) não existe sem o bem. E não me venham com sofismos, relativismos, retórica e outras falácias, indagando "o que é o bem". Indiquei exemplos e parâmetros em outros textos, e neste século 21, após tantas lutas e dificuldades pelas quais a humanidade passou, qualquer um que estude história deveria saber o que é o bem...

Fontes:

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Lewis, Christopher (2007). "Chapter 5: Energy and Entropy: The Birth of Thermodynamics". Heat and Thermodynamics: A Historical Perspective. United States of America: Greenwood Press. p. 95.

One or more of the preceding sentences incorporates text from a publication now in the public domainChisholm, Hugh, ed. (1911). "Whewell, William". Encyclopædia Britannica. Vol. 28 (11th ed.). Cambridge University Press. p. 587

Cooper, Caren (20 December 2016). Citizen Science: How Ordinary People are Changing the Face of Discovery. pp. 3–8. ISBN 9781468314144.

Mariotti, H. O Homem e a Sociedade numa Nova Civilização

Williams, Raymond. 2000. darwinismo social. Na avaliação crítica de Herbert Spencer. John Oferta. (Ed). pp. 186-199

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The notion of a "mind's eye" goes back at least to Cicero's mentis oculi.Cicero, De Oratore, Liber III: XLI: 163; Watson, J.S. (trans. and ed.), Cicero on Oratory and Orators, Harper & Brothers, (New York), 1875: Book III, C.XLI, p. 239

Frankl, Viktor - Um Sentido Para a Vida: Psicoterapia e Humanismo p 59;

Szasz, Thomas Stephen (1973). The second sin. Anchor Press. ISBN 978-0385045131.

T. Szasz, Ceremonial Chemistry, 1974

https://www.youtube.com/watch?v=jZSE9SsRh6M&t=210s, acessado em 11/10/2023