quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Espiritualidade e Progresso

 

Sobre a Fobia à Alma 

Como mencionei em algum texto meu, a psicologia é uma área de estudo bastante dividida. Isto possivelmente é uma herança do conflito entre materialistas e idealistas/ mentalistas da virada do século 18 ao 19. Tal conflito repeliu as filosofias e bases filosóficas dualistas e pluralistas, e foi praticamente vencido pelos materialistas após a década de 20 do século 20. Por coincidência ou não, a época do fordismo e o período entre guerras mundiais... 

Os questionamentos e críticas mais comuns à psicanálise (fundada por Freud) por parte da fenomenologia da psicologia se referem a sua centralização nas questões sexuais/ biológicas e na reprodução de fenômenos do passado dos pacientes. Resumidamente estas críticas alegam que a psicanálise (e talvez a psicologia analítica, que usa base similar) são naturalistas. 

Porém é comum encontrar psicólogos da frente comportamental e acadêmicos da área de saúde criticando abertamente a estrutura de consciente-inconsciente como se fosse pseudociência. E adivinhem só, a frente comportamental é praticamente alicerçada em um materialismo monista (uma base filosófica) e no método empírico (o qual eu já cansei de explicar neste e em outros textos)… 

Primeiramente, a base teórica sustentada pelo eixo consciente-inconsciente não parece ser monista nem materialista. Esta base aparentemente parte de um pressuposto dualista onde a mente imaterial (sejam informações, alma ou outra coisa ainda não mensurável por métodos materialistas) interage com o corpo material. Independentemente das bases teóricas, filosóficas, ontológicas ou epistemológicas, os estudos que fundaram a psicanálise fazem parte de uma descoberta e não uma vaga hipótese ou ideia “pouco provável”: Pois quando falamos do aparelho psíquico (consciência, memória, sentimentos, pensamentos etc), uma das provas mais óbvias da existência do subconsciente (que é o inconsciente de acordo com a frente psicanalítica) surge quando tentamos negar a realidade enganando a nós mesmos. Pensamentos, lembranças e sentimentos não desaparecem definitivamente, eles apenas deixam de ser a atenção de nossa consciência, podendo voltar a ser alvo desta atenção após algum tempo. Desaparecer definitivamente seria deixar de existir, o que é algo improvável por qualquer método científico. 

Talvez do ponto de vista comportamental, a psicanálise esteja desvinculada do método empírico, mas a partir desta afirmação, temos que nos lembrar que o empirismo não é a ciência em si: é apenas um dos métodos científicos, independentemente se é o mais empregado nos diversos campos do saber, ou não. Quando se trata de sentimentos (emoções não expressas) e pensamentos é óbvio que não se pode esperar evidências percebidas pelos 5 sentidos do ser humano. O aparelho psíquico descrito pelas abordagens da frente psicanalítica não é físico: não é sólido, nem líquido, nem gasoso e provavelmente também não é plasmático. Não está em nenhum dos 4 estados conhecidos da matéria até então. Trata-se talvez, no máximo, de informações relacionadas aos potenciais elétricos ou a sinapses do sistema nervoso, mas mesmo estas não são a causa das escolhas humanas. Isto é centrar os estudos no empirismo, ignorando todos os demais métodos de estudo. Um ato típico do período iluminista, onde acreditava-se que o ser humano era o centro do universo e o que existia de mais evoluído neste. A postura correta da ciência é semelhante à humildade: é assumir que não se sabe sobre o que não foi descoberto nem sobre o que ainda não se estudou o suficiente. 

 Em segundo lugar estas críticas são reinvenções da psicologia empírica ou da "psicologia" fisiológica (século 19). Nesta época a base filosófica dualista de René Descartes era aceita por pouquíssimos intelectuais proeminentes. Um dos poucos apoiadores desta base era o linguista e professor francês, Leon D. Rivail, que passaria a divulgar o espiritismo sob o pseudônimo de Allan Kardec. Talvez, pelo fato de tal filosofia aceitar a espiritualidade baseada nos ensinos de Sócrates, Platão e Jesus Cristo, o espiritismo foi altamente rechaçado por cientistas e filósofos materialistas por toda segunda metade do século 19. Outra curiosidade é que o espiritismo (não os charlatães que se dizem espíritas) propunha explicar todos os temas que eram abordados pelas religiões e por ordens místicas que, de certo modo, monopolizavam o assunto. 

 Na primeira metade do século 20 houve um forte movimento de ataque às teorias que consideravam a existência do inconsciente (Freud e Jung). Entre os atacantes estavam psicólogos da frente comportamental como Skinner até filósofos como Popper. Embora tais estudiosos possam ter colaborado para as ciências em alguns pontos, é importante observar que tais críticas à frente psicanalítica eram meras opiniões transvestidas de lógica científica. Estas opiniões se basearam na inexistência de algo, não apresentando prova alguma contra o inconsciente nem contra a alma, pelo contrário, se apoiando em falta de provas. Daí, estes estudiosos que não aceitavam que a mente fosse imaterial nem transcendental, viram a necessidade de propagar ideias como a "lei da" falseabilidade como base científica, como mencionei neste outro texto https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/11/os-estudos-e-as-abordagens-da-mente.html.

Tais opiniões não atacavam só a frente psicanalítica - serviam como ataques contra toda espiritualidade / religiosidade, independentemente se seus propagadores planejaram isso ou não. Em algumas de suas afirmações, seus defensores eram abertamente anti-religiosos, o que teria seu lado positivo se eles denunciassem a corrupção nas religiões e a utilização dos dogmas e hierarquias religiosas como ferramenta de poder. Porém, como materialistas fanáticos, eles atacaram todo argumento que apresentava uma possibilidade da existência da alma e/ou do espírito. 

Isto não é comum apenas entre as "elites intelectuais" (de cientistas e filósofos), mas também é comum em ativistas políticos fervorosos, sejam assumidos ou não. Importante ressaltar que ativistas políticos fervorosos são principalmente compostos pelos extremos do espectro político, mas também podem ser os materialistas de ideais políticos moderados. 

O Materialismo na Política 

Pois bem, muita gente já sabe que existem mentirosos na religião e na política. Mas poucos sabem que as grandes empresas, sejam do setor de comunicações, de finanças ou de qualquer outro, geralmente são dirigidas/ geridas pelo mesmo tipo de mentirosos. Isto ocorre porque todas estas instituições religiosas, políticas e empresariais servem como ferramenta de poder. 

Porém, como poucos sabem ou entendem como funciona o mercado nos regimes mais abertamente capitalistas (liberalismo e neoliberalismo), a direita que apoia os empresários mais ricos tem larga vantagem sobre a esquerda em maior parte do ocidente. 

O problema se agrava, quando uma porção significante das pessoas que estudam política e áreas mais relacionadas à política, tornam-se materialistas. E isto ocorre pelo simples fato que a ferramenta de poder mais obsoleta das 3 mencionadas aqui, é a religião institucionalizada, ou seja as igrejas, principalmente as "cristãs" nos países do ocidente. Seu controle sobre o povo é baseado em imposição de medo, em narrativas simplistas e acusações contra quem está fora de sua religião. A religião se apropriou da espiritualidade, no mínimo desde o século 5, após o cristianismo se tornar a religião do império romano no ano de 380: Pois 4 anos depois, os "cristãos" já estavam perseguindo quem praticasse uma espiritualidade diferente da sua. 

Levando-se em conta que no ocidente a esquerda esteve em desvantagem maior parte do tempo, desde o fim da 2ª guerra mundial, adivinha quem fracassa ao atacar toda e qualquer forma de espiritualidade? A esquerda, é claro. 

A direita serve primariamente aos empresários mais multimilionários - uma classe de pessoas que não precisa dar as caras e consegue comprar qualquer um e qualquer coisa. A direita se dá o luxo de se unir ou se separar da religião quando bem entender, ela não luta pela maioria, o que facilita muito o trabalho desta turma convencer as massas. 

A esquerda honesta em seus objetivos nada tem a ver com grandes líderes socialistas conhecidos na história da humanidade. Tais líderes viveram em sociedades muito diferentes de países ocidentais como o Brasil: Um estado constantemente manipulado por ricaços, que deveria gerir uma área gigantesca, repleto de pessoas empobrecidas e completamente desunidas. 

Os movimentos de esquerda que querem lutar por um país digno e progressista não podem se dar o luxo de generalizar. Não podem confundir quem são seus opressores. Seus opressores não são a espiritualidade, não são meros símbolos nem mitos ou ideias pueris. É possível crer em Deus e ser cientista ou ser a favor do progresso. É possível considerar que a mente (ou alma) exista além do corpo físico e não ficar espalhando obscurantismo e mentiras. Os verdadeiros opositores dos progressistas e da esquerda então são os poucos endinherados (principalmente os multimilionários) que andam em helicópteros e iates, bem guardados por propagadores de ódio e de sensacionalismo em diversas mídias e por indivíduos fardados sonhando com uma classe militar posando de guardiã da nação. 

Aqueles que querem lutar por dignidade e progresso, têm o mesmo objetivo dos que lutam pelo bem do próximo. Pouco difere dos ideais dos verdadeiros cristianismo e espiritismo. 

 Quando Jesus criticou os ricos (em mais de uma passagem da Bíblia), ele não o fez por birra: Não se adora grandes quantidades de riqueza material e à Deus ao mesmo tempo. Se o Deus é onipresente e ama todos seus filhos que fazem parte de sua criação (esqueçam as bizarrices do velho testamento), como alguém pode viver com uma quantia de bens suficientes para sustentar dezenas, centenas ou milhares de famílias e alegar ser cristão? Não é preciso ser religioso, nem espiritualista para ver o erro nisto, é só usar lógica. 

Quando o espiritismo diz que quem está sofrendo na Terra, está pagando por erros de outras existências, ele NÃO defende dar as costas para estes penados: Deve-se ajudar o próximo SEMPRE que possível e mais: O espiritismo também afirma que as grandes fortunas SÓ se justificam se utilizadas para o progresso da humanidade. Aqui está uma explicação resumida que não há NADA nos argumentos da direita que possa ser utilizado em prol da humanidade. O cristianismo e o espiritismo não pregam uma utopia na Terra, como faz a ideologia comunista, mas é claramente diferente dos argumentos da direita, ao rechaçar todo o acúmulo de riquezas materiais que não é usado para o bem da maioria da humanidade. 

Os ensinamentos espiritualizados, sejam de Sócrates, Platão ou de Jesus ou as informações juntadas por Kardec e seus companheiros, não são separáveis da ideia de progresso. Não existe progresso enquanto se prega rivalidade, nem quando se pratica a indiferença. Se você não consegue amar o próximo, se disponha a ouvir, respeitar e permitir o progresso para todos seres humanos. Se você já tem bens que sustentaria mais de uma família, comece a repensar sua existência conivente com a miséria alheia.