quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Ética, profissionais de ética, e sociedade


A imagem acima mostra duas provas da disciplina de Ética e Responsabilidade Profissional, do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec-SP. As letras das alternativas escolhidas como resposta por mim estão à esquerda, as letras das alternativas "corretas", segundo a professora, estão à direita. "Poxa Lucas, você foi mal hein?"

Verdade, mas há um fator importante aí, essas provas são idênticas, fui reprovado da primeira vez que cursei a disciplina e quando fiz pela segunda vez, a professora aplicou a mesma prova. "Piorou! Você deveria ter ido bem melhor na segunda vez!" Poderia afirmar um incauto. E eu seria forçado a responder: Você deixou passar algo. Se as provas são as mesmas, como o gabarito pode ser diferente?

Não vou nem discutir aqui a metodologia de avaliação baseada em um maldito caderninho que deveria ser acrescido, aula após aula, de resumos de parágrafos e mais parágrafos da Constituição Federal, Código Civil, etc. O tal do caderninho é baseado no que é ensinado por um professor falecido chamado Pierluigi Piazzi, figura um tanto peculiar que afirma que Vigotsky, Piaget e Paulo Freire não produziam ciência de verdade, mas sim achismo. Se você duvida do que eu escrevi, trechos deste vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=z2xX0HkAfII aos 53 minutos) se proliferam pela internet, graças aos esforços de direitistas malucos. Não vou desqualificar o trabalho do tal professor, mesmo que ele desqualifique o dos outros, mas quero reforçar a postura autoritária, reacionária (no sentido daquele velho pensamento: "antigamente era muito melhor", o que pode ter razão parcial, claro, mas no caso das escolas antigas que são exaltadas no vídeo, quantas pessoas tinham acesso?) e megalomaníaca deste senhor.

Por quê quis ressaltar a postura deste senhor? Porque se assemelha à postura da professora da disciplina citada. De maneira muito mais branda, é verdade. Há certa temperança em seu comportamento no geral. Durante o semestre ela faz suas aulas expositivas e tira as dúvidas, após a correção das provas, ela muda a nota se um erro de correção é apresentado, enfim, age aparentemente dentro do comportamento esperado. O comportamento é ainda mais esperado quando se trata de uma professora de ética.

Porém, como já foi apontado, o gabarito é fruto do caos. Mais: quando fiz a prova substitutiva, sem entregar o caderno, a correção da prova foi abismal. Havia tantos erros na correção, que comecei a citá-los e ela começou a negar um a um, alegando que eu estava errado. Ela ainda indagou "Você não entregou o caderninho?". Deixando claro que ela reprovava de qualquer maneira quem não o entregasse (com uma metodologia, mal explicada para algumas turmas, em que a entrega do caderno somava dois pontos na média e a não-entrega SUBTRAÍA dois pontos na média, restava conseguir 8 na média das provas para passar com 6 na média. Algo que, com gabarito aleatório e correções enviezadas e apressadas, fica perto do impossível). Era aí que o viés autoritário aparecia, incompatível com qualquer ética.

A p1 era dividida em duas partes, alternativa e dissertativa. Era um show encenado. A parte de alternativas parecia uma prova de concurso de direito, exigindo uma 'decoreba' em nível épico, algo que não era passado em aula e que nunca havia sido dito que seria cobrado. A parte dissertativa era corrigida de forma mais branda, quando entregava as notas baixas da sala, ela dizia que a p2 seria totalmente dissertativa porque a turma foi melhor neste trecho. Mas a correção da p2 era mais bruta, sua nota era 'canibalizada' em cada questão pelo menor detalhe que "faltasse", para forçar a necessidade dos dois pontos oriundos do caderno.

Todo esse comportamento apontava que o gabarito inexistia. Não importava, porque ninguém saberia a resposta correta das alternativas se não mergulhasse a fundo nos diversos códigos recheados de 'juridiquês', toda essa encenação era irrelevante, bastava entregar o maldito caderninho e conseguir uma média 4. Lembra toda a encenação que certo juiz perpetrou recentemente devastando o meio político brasileiro e por consequência, a economia.

Para completar, a formação dessa professora era de bióloga e advogada. A aula era de Ética, que, tem muito a ver com legislação, mas na verdade era uma aula pura de legislação travestida de ética pelos vídeos de profissionais que abordam ética, que eram passados no fim das aulas. Ou seja, ela dava aula do que sabia, não do que deveria.

Tudo isto foi dito para explicitar o comportamento de uma professora de Ética. Mas não vamos parar por aqui. Os vídeos passados em aula eram sempre de Cortella, Karnal ou Clóvis, membros do atual Big Four de filósofos/acadêmicos popstar (adicione o Pondé à lista - embora eu prefira o Safatle, e sim, fiz uma alusão ao Big Four usado para nomear as supostas maiores bandas de thrash metal do mundo). Eu sempre me divirto vendo os vídeos do Clóvis, afinal, ele fala uma montanha de palavrões e aparenta ser o mais esquerdista de todos. Mas no fundo, no fundo, a mensagem dele é "se não gosta do seu emprego, saia, e ache outro". É algo muito bonito, mas com severas limitações nas sociedades em que vivemos, e se isso é passível de uma longa discussão, toda a ideia de ética que é passada nessas palestras e vídeos também é, porque estão entrelaçadas com todos os conflitos de nossas sociedades.

É claro que os filósofos/acadêmicos citados incitam justamente isso, uma discussão contínua da ética. Porém, as discussões da ética que abundam pelos meios de comunicação, principalmente as que surgem do Big 4 e do meio empresarial, dificilmente chegam em um ponto visceral importantíssimo: a quebra brusca do status quo.

Sim, porque a discussão é quase banal se isso não acontecer. Nossas sociedades bárbaras travestidas de democracias afundam mais um pouco dia após dia. Para quem realmente controla o poder no mundo, Karnal e companhia podem discutir e fomentar discussões nesse nível do raio que o for, pouco importa, as estruturas que os mantém estão lá, qualquer barbarismo necessário para mantê-las irá acontecer sem qualquer remorso. Basta ver a repressão brutal que ocorre hoje mesmo, em boa parte da América do Sul, às manifestações que surgiram, não de forma absolutamente consciente, contra os poderosos.

Karnal é um dos que deixa claro sua postura dissociada desse embate de forças (Pondé eu nem preciso citar, não?), no último vídeo que vi (https://www.youtube.com/watch?v=hPsqmVC1pMU), uma entrevista realizada pelo youtuber Cauê Moura, Karnal se declarou de centro. Isso certamente deve ter deixado mais esclarecido quem havia se abismado com isto:


A foto, que correu as mídias sociais como um meme virulento, foi tirada antes que a Vaza Jato começasse, mas a pergunta paira no plano Astral: Iria Karnal, hoje, tirar e postar essa foto publicamente? Talvez não, mas talvez sim. Veja, mesmo com figuras de centro/direita como Reinaldo de Azevedo batendo de frente com a bizarra Lava-Jato, é possível notar uma gigantesca condescendência da mídia e daqueles com poder de palavra na sociedade, para com Moro e seus asseclas.

Como isso pode ocorrer? É uma discussão para lá de longa. Basta dizer que ao redor de Lula foi construída uma imagem de supervilão fortíssima, baseada em sua suposta (suposta porque, por mais ridículo que possa parecer, ninguém provou nada de verdade) corrupção. Então, Moro, ao combater esse supervilão (por meios que, os referidos preferem usar uma venda nos olhos para não ver, também são corruptos), passa a ser super-herói, e não do tipo mutante, apedrejado, mas do tipo Vingador, aclamado. E a corrupção está ligada a quê? À ética, claro.

A ética é algo importante, afinal, trata-se da melhor maneira possível de convívio entre os membros de uma sociedade. Mas no cenário atual ela serve para quê? Ela serve como um daqueles selos de 'empresa amiga do meio-ambiente', basta que a mesma contrate um popstar da ética para fazer uma palestra e publique seu próprio manual de ética. Se vai pagar salários decentes ou explorar os trabalhadores até o talo, tanto faz.

Serve para construir heróis nacionais e manipular massas. Serve para desqualificar a violência, mesmo que essa seja oriunda daquele que não tem mais recurso algum para utilizar. Serve para se ganhar muito dinheiro e fama, e do alto de sua cadeira, enxergar de maneira 'naturalista' aqueles que rastejam por migalhas. Serve para defender um tal de estado democrático de direito, quando ele mal existe e nunca irá existir plenamente sem a ruptura do status quo. Serve para 'demonizar' a polarização e exaltar o centrismo travestido de ponderância, afirmando que a sociedade ideal deve ser construída pouco a pouco sem romper as estruturas de poder. Diga-me, você vê isso acontecendo no futuro? Vê uma alternativa pacífica de redistribuição de poder mundial? Eu gostaria muito que existisse, quem em sã consciência deseja guerra e derramamento de sangue? Mas a verdade é que é quase impossível, e digo quase apenas para ser otimista.

Karnal disse ter problemas com pessoas que matam, no vídeo citado. É compreensível, eu também tenho, é um dos atos mais relevantes sob o viés da ética, porque encerra a vida de outro e elimina totalmente a discussão do convívio. Ele diz isso, porém, ao se referir a Che Guevara.

Che Guevara para mim, até meus 39 anos de idade, era uma figura completamente desconhecida. Só o via em camisetas (muitas delas, vestidas pelos playboys 'revolucionários' da faculdade em que eu estudava, os quais incitavam em mim forte aversão). Talvez eu nem soubesse que era argentino e pensasse que era cubano, não me lembro. Isso mudou durante minha visita a Cuba, onde fui 'forçado' a 'conhecê-lo'.

Retornei de lá com a lendária nota de 3 pesos que portava o monumento a Che na frente e uma cena da tomada do trem blindado no verso. Ao mostrar para um amigo, o mesmo disse, "bem legal, por mim eu só tirava o Che. Estuprador f&*(#@#!"
Aquilo me deixou curioso, seria Che Guevara estuprador? Vasculhei a internet e além da opinião de direitistas malucos, encontrei uma matéria da Veja (uma matéria de direitistas malucos).


Graças à essa matéria, descobri que o autor do livro que foi usado como base, repudiou a revista, dizendo algo como: "Eu escrevi este livro justamente para contrapor as visões heróicas ou vilanescas que existem de Che."

Era o que eu queria, neutralidade pura não existe, e é fácil de notar os julgamentos que esse mesmo autor faz sobre Che durante sua escrita. Mas não era um fanático esquerdista ou direitista escrevendo.
Li então 'Che Guevara - Uma biografia', do estadunidense, Jon Lee Anderson (já adianto que não achei nada sobre estupro).


É baseado nessa leitura que agora surge a dúvida: Karnal tem problemas com Che, mas qual Che? Afinal, somos pessoas diferentes, parecidas, mas diferentes, durante o decorrer de toda nossa vida, porque mudamos. Gosto de pensar que existiram vários Lucas antes de mim, e espero que existam vários outros à frente.

Não pode estar relacionado aos Ches que foram racistas, homofóbicos ou machistas no decorrer de sua vida (se nos dias de hoje, é raro encontrar alguém que nunca o foi, imagine naquela época). Não, Karnal foi específico, ele tem problemas com o Che 'asesino' (como Che teve que ouvir muitas vezes em sua vida). Seria o Che asesino que matou durante a revolução cubana? Seria o Che asesino de espiões e traidores? Seria o Che asesino do paredón (ou malecón?)?

Em todas as situações, Che se comportava seguindo uma lógica de preto e branco que era respaldada pelo tempo-espaço em que estava. Uma revolução derruba um sistema, portanto as leis inexistem, são construídas durante a revolução. Em dado momento, Fidel teve que definir o que era punível de morte em seu exército. Fidel aliás, era muito mais brando do que Che.

O que fazer com inimigos capturados quando não há prisões? Soltá-los e correr o risco de que sua posição seja descoberta e você seja morto? Fidel fez isso várias vezes. Você já se imaginou nessa situação? Eu gosto de pensar que eu sempre optaria por prisões, mas é ingenuidade acreditar que seria possível.

Será que Karnal defenderia manter a ditadura de Batista? Manter Cuba como um capacho dos E.U.A.? Como o paraíso de criminosos? Não é impossível, visto que na entrevista ele brinca sobre preferir a monarquia à revolução francesa. Então ele não escolheria ativamente talvez, mas passivamente. É o que faz quando afirma que a grande maioria da população é centrista, que não se preocupa com o que não a afeta no cotidiano.

Bem, o nosso cotidiano é afetado o tempo todo pelas estruturas de poder. Pode não ser claramente perceptível essa escravidão moderna, e é totalmente admissível para quem não possui acesso à instrução ser centrista. Mas eu não consigo mais admirar essa intelectualidade 'isentona', não consigo ver como admissível você adquirir níveis cavalares de conhecimento e discursar de maneira velada a favor do status quo.

A ética para ser real tem que passar pela redistribuição de poder dos homens. Não é admissível se defender ética em regimes controlados pelo poder (isso inclui o stalinismo), pois ela é vazia. Para defender a ética verdadeira é preciso defender uma quebra total do status quo e sugerir novos meios de se produzir e viver em sociedade. Desse ponto de vista, Jacque Fresco tinha muito mais cacife para falar de ética do que Leandro Karnal.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Religião: Parte da Evolução ou Ferramenta de Poder?

Decidi escrever este texto após longos estudos sobre história e comparações entre religiões ainda existentes e religiões extintas (grande parte destas, consideradas mitologias). Embora religiões tenham se tornado ferramentas de poder ao longo da história, encontrei aspectos interessantes nelas, que passam relativamente longe das características que considero perigosas, ou praticamente negativas, como o dogma e a hierarquia.

O que é religião?

Após comparar diversas religiões (incluindo histórias religiosas e "mitos"), é possível notar semelhanças não só em suas características, como também em suas motivações, objetivos, questões etc.
As religiões não surgem apenas da necessidade de explicar a origem da humanidade, do mundo ou do universo nem de explicar seus destinos. Religiões também surgiram do contato com o inexplicável, muitas vezes, o contato com algo surpreendente por estar muito além da compreensão do ser humano.
Estar diante do que está muito além da compreensão pode significar vulnerabilidade ou fraqueza e isto exige alguma proteção e/ou evolução.
As proteções, que de um modo geral tomaram a forma de orações, objetos e/ou rituais, serviram (e para alguns indivíduos ainda serve) para os seres humanos se defenderem de seres hostis dos mais variados tipos, de eventos perigosos pouco ou nada compreendidos etc.
Além da proteção, existe a possibilidade de que doutrinas, filosofias e rituais foram desenvolvidos dentro de religiões com o objetivo de se alcançar o inexplicável ou o que está muito além da compreensão humana (algo como evoluir), daí desenvolveu-se processos de entrar em transe, seja com música, com ervas, com meditação etc.

Filosofia de Vida e de uma possível extensão da existência além da matéria

De fato muitas religiões abordam o tema da morte e a possibilidade da existência antes e depois da vida (material), afinal ainda hoje no século 21 não há provas de que a mente esteja situada no cérebro ou em alguma parte do sistema nervoso. Pensamentos, sentimentos e memórias só são acessíveis por quem os têm e se tais elementos mentais (psíquicos) continuam existindo ou deixam de existir durante a inconsciência ou na morte, ainda é impossível de se verificar.
Isto pode tornar a significância da vida material igual ou até mesmo inferior ao (conceito de) pós vida / pré vida, muitas vezes chamado de existência espiritual, imaterial ou de outros nomes similares...
Mas nem tudo que está focado em se alcançar um "desejável" destino na existência além da matéria é inútil para a vida nas sociedades humanas. Na verdade algumas filosofias possuem preceitos notoriamente úteis e benéficos à maioria dos seres humanos:

As Semelhanças entre religiões

Embora as inúmeras características das religiões que surgiram pelo mundo as façam únicas e distintas entre si, muitas delas têm diversas características e elementos em comum. São algumas delas:

7 conceitos (entidades) do Zoroastrismo:
O zoroastrismo, ou masdaismo, foi uma religião monoteísta ou dualista (não há um consenso), que surgiu na antiga Pérsia (atual Irã) e foi perdendo sua força com a invasão árabe entre os século 6 e 9, que o substituiu pelo islamismo. Zoroastro dizia que existiam 6 ou 7 emanações de Aura Mazda (O Deus, ou o Deus do bem):
A(h)ura Mazda: (Lorde ou Espírito) da Sabedoria.
[Vohu] Manah, aproximadamente "[Bom] Propósito"
As(h)a [Vahishta], "[Melhor] Verdade / Justiça"
[Spenta] Armaiti, "devoção [sagrada]"
Xsathra [Vairya], "Domínio [Desejável]"
Ameretat, "imortalidade"
Haurvatat, "Totalidade"


(7 Tronos da) Umbanda Sagrada:
A umbanda surgiu separando-se do espiritismo no início do século 20, buscando resgatar elementos da espiritualidade yourubá, de culturas do oeste da África.
Oxalá / Logunan: Fé
Oxum / Oxumaré: Amor;
Oxossi / Obá: Conhecimento;
Xangô / Egunitá: Justiça;
Ogum / Iansã: Lei;
Obaluaê / Nanã: Evolução;
Yemanjá / Omolu: Geração.


Sefirots (ou zéfiras) do Judaísmo:
Estima-se que o judaísmo, a primeira religião monoteísta, tenha surgido na região do Levante (entre os atuais Líbano, Jordânia e Israel) por volta do século 18 antes de Cristo, mas alguns rabis e teólogos judeus citam que ele se iniciou nas tribos antecessoras dos hebraicos, entre 4000 aC e 3500 aC. Em algum momento da história surgiu a vertente mística do judaísmo (a data varia muito: entre o século 3 antes de Cristo até 14 depois de Cristo). Esta(s) vertente(s) dizem que Deus (incompreensível, que não tem forma humana) criou o universo através de 10 emanações que são 10 virtudes que o ser humano deve buscar desenvolver:
Kether - coroa (divindade, transcendente, eterna)...
Chokmah - sabedoria
Binah - entendimento/compreensão
Chesed - piedade
Geburah - julgamento/força
Tiphareth - beleza/harmonia
Netzach - superação/vitória
Hod - esplendor
Yesod - fundação
Malkuth - reino ou diversidade


7 Chakras de religiões hindus:
O hinduísmo é uma religião muito antiga - estima-se que tenha surgido na Índia, 3500 a.C ou antes. Muitas vertentes e seitas do hinduísmo surgiram ao longo da história, onde aparecem os conceitos de chakras, que todo ser humano tem e pode desenvolver para evoluir espiritualmente e moralmente:
Sahasrara - consciência cósmica (transcendência?)
Ajna - mente/conhecimento (entendimento e sabedoria)
Vishuddha - comunicação/verdade (julgamento e piedade)
Anahata - amor (harmonia)
Manipura - poder (vitória e esplendor?)
Swadhisthana - relações/sexualidade
Muladhara - estabilidade/vitalidade


Aqui farei uma comparação entre os elementos das diferentes religiões citadas:

O (Vohu) Mana (Bom propósito) do zoroastrismo pode ser interpretado como o pensamento e o objetivo de manter-se pronto para ajudar o próximo, perdoar etc... Isto pode ser comparado com o trono de Oxum / Oxumaré: Amor ou talvez, por se tratar da mente, com Oxossi / Obá do trono do conhecimento.  Este amor religioso e/ou espiritualizado não se trata de paixão ou desejo de possuir, trata-se de estar disposto a aliar-se e ceder à alguém. Um sentimento / comportamento mais próximo do conceito de ágape. Ambos podem ser comparados com o sefirot Tiphareth - harmonia / beleza. A beleza de Tiphareth não refere-se a mera beleza física e sim a uma beleza maior como o equilíbrio entre forças ou sentimentos / comportamentos distintos. Por fim Tipharet também representa um ponto de harmonia / equilíbrio entre o universo material e o imaterial / espiritual. Finalizando esta sessão há o chakra de Anahata que refere-se ao amor (harmonia) citado anteriormente; Todos estes conceitos de bom propósito, amor e harmonia foram, são e serão de grande importância na humanidade, para que exista o respeito mútuo, colaboração, paz, reciprocidade entre os indivíduos etc.

O As(h)a (Vahista) do zoroastrismo refere-se aos conceitos de Verdade / Justiça. Conceitos muito importantes na organização de sociedades desde a criação de regras até a aplicação de medidas corretivas ou punitivas. Na umbanda o trono da justiça é de Xangô / Egunitá, no judaísmo esotérico / cabala o sefirot é Geburah: a necessidade de julgamento e/ou severidade; Na filosofia / religião hindu o Vishuddha está relacionado à comunicação, ressaltando a importância da verdade e clareza nesta na busca por evolução e/ou pureza.

Xsathra (Vairya) Domínio (desejável) refere-se não ao "poder pelo poder" ou à mera conquista. O domínio (desejável) possivelmente refere-se à lei para organizar a relação entre as pessoas e talvez também à lei sobrenatural / espiritual. Esta última não seria muito diferente de leis naturais pois indica que os pensamentos e intenções de um indivíduo determinam seu destino. Na umbanda sagrada o trono da lei é de Ogum / Iansã. No judaísmo, embora possa parecer que a lei / domínio seja representado pelo Geburah, é possível que na verdade, Netzach represente tais conceitos. Netzach não é apenas a simples vitória, é a superação das dificuldades, ou o desejável domínio de uma situação ou domínio sobre possíveis males. Nas filosofias/ religiões hindus estes aspectos são representados pelo chakra Manipura (Poder). Enfim estes conceitos não estão relacionados à lei  burocrática, mas a lei que dá força ao ser humano para superar dificuldades e dominar situações.

(Spenta) Armati ou (Sagrada) Devoção refere-se ao empenho no bem e possivelmente à criatividade para viver (na Terra) o caminho do aperfeiçoamento e da benevolência (harmonia). Este conceito é mais difícil de atrelar a um sefirot do judaísmo, trono da umbanda e chakra do hinduismo. Poderia ser representado por  Anahata- amor (harmonia) ou por Ajna - mente/ conhecimento (entendimento e sabedoria), mas talvez esteja submisso ao chakra do poder, Manipura. Na umbanda sagrada um dos tronos com característica similar à sagrada devoção é o da Fé (Oxalá / Logunan), embora o trono do amor seja de Oxum / Oxumarê. No judaísmo, seu sefirot deve ser Hod, o Esplendor que está ligado à oração e submissão em contra parte à vitória / domínio de Netzach.  Isto faz sentido tendo em vista que o judaísmo valoriza os "2 lados" diferentes de uma moeda (Netzach, a Vitória/ conquista e Hod, o Esplendor/ submissão) enquanto o zoroastrismo abraça apenas a devoção sagrada (oração / esplendor), rejeitando ou menosprezando a conquista / o domínio que representa seus rivais, os (semi) lendários povos Tar de suas histórias sacras.

O Haurvatat que significa Totalidade também pode ser difícil de se comparar aos conceitos de outras religiões. Embora o termo totalidade pudesse se referir à ideia de transcendência ou onipresença, estes representados pelo sefirot do Kether no judaísmo e pelo chakra de Sahasrara no "hinduísmo", os persas relacionavam Haurvatat à saúde e prosperidade. Estes 2 conceitos muito ligados à vida (material, é claro), significa que nas demais religiões Haurvatat pode ser equivalente ao Malkuth (Reino, mundo material, vida) no judaísmo e ao Muladhara nas filosofias/ religiões hindus. Mais difícil ainda deve ser comparar este conceito da totalidade do zoroastrismo com os tronos da umbanda sagrada. Talvez tenha algo em comum com o trono da evolução de Obaluaê / Nanã, já que é comum das religiões esperar uma evolução do ser humano para que este alcance um estado de harmonia entre corpo/ mente/ espírito e/ou transcendência...

Ameretat, a Imortalidade do zoroastrismo estaria conectado ao trono da Geração (de Yemanjá/ Omolu), ao Yesod do judaísmo e ao Swadhisthana das filosofias/ religiões hindus; Embora Ameretat represente a imortalidade, esta entidade está bastante vinculada às plantas e ao conceito de bebida divina / sagrada como o haoma. Como não existem seres humanos imortais (ou se existem, a maioria da humanidade não sabe de tal fato), seu elo com os conceitos do trono da geração (Yemanjá/ Omolu) e com o chakra Swadhisthana da sexualidade / reprodução, é facilmente percebido. O judaísmo praticamente não aborda estes temas da geração / sexualidade / imortalidade, ou aborda de maneira muito sutil, pois seu sefirot, Yesod, representa a "fundação" que permite o movimento de uma coisa, ou condição, à outra e o poder de conexão.

A(h)ura Mazda, o lorde da sabedoria / inteligência é o mais alto espírito do Zoroastrismo. Pelo seu posto superior ele pode ser comparado com o sefirot  Kether e com o chakra Sahasrara. O Kether é o mais alto sefirot, também significando coroa real ou regencial. Ele situa-se acima dos sefirots da sabedoria e do entendimento/ conhecimento. O Sahasrara (1000 pétalas) é o mais alto chakra, ou o chakra da coroa relacionado a um estado de "pura consciência".

Embora pareça fácil conectar Ahura Mazda do zoroastrismo com o Keter do judaísmo e com Sahasrara "do hinduísmo", é mais difícil estabelecer tal conexão com a Umbanda sagrada. O nome de Aura Mazda (que significa lorde do conhecimento) invoca uma semelhança com Oxossi / Obá, do trono do conhecimento. Também vale lembrar que o chakra do conhecimento e da mente, na verdade é A(j)na, que está abaixo de Sahasrara nas filosofias / religiões hindus.



Imagem meramente ilustrativa listando os 7 conceitos, as 10 zéfiras, os 7 chakras e os 7 tronos (notem que as 10 zéfiras, excluindo o Daat que é um espaço, estão distribuídas verticalmente em 7 níveis)


Apesar das diferenças é possível notar diversos conceitos semelhantes entre estas religiões. Estas semelhanças não são obras do acaso, pois estão relacionadas a conceitos importantes nas sociedades humanas ao longo da história: Sobrevivência (fertilidade sexual, saúde, plenitude e perpetuação da espécie), clareza nas relações e comunicação (verdade), força (domínio sobre adversidades, superação de problemas), justiça (distribuição dos direitos, deveres, busca por equidade), lei (organização social, defesa da maior parte da comunidade), harmonia (respeito mútuo, lazer, paz entre comunidades) e conhecimento (busca por aprendizado e entendimento das forças da natureza e do universo).

Mesmo com todas estas características notoriamente benéficas as religiões, em algum nível, foram corrompidas por pessoas interesseiras e egoístas, em vários momentos da história da humanidade e ainda o são. As religiões citadas neste texto, assim como outras religiões, buscaram solucionar diversos problemas, bem como a economia e suas regras tentaram resolver problemas relacionados às trocas, às atividades produtivas, aos bens, serviços e seus respectivos valores e a política tentou resolver problemas sociais, de representividade numa nação ou estado, direitos e deveres dos seres humanos etc. Porém tudo é passível de corrupção: religião, economia, política, militarismo, comunicação etc. Cabe a cada um de nós escolher evoluir e tentar entender cada vez mais dos seres humanos, suas sociedades, o mundo onde vivem, o universo... Ou não.

Os que escolhem não evoluir podem levar uma vida insignificante ou incomodar e prejudicar o maior número possível de pessoas no mundo...