O famoso filósofo do século 18, Immanuel Kant, afirmou: (1989, p. 33), “a psicologia nunca pode ser mais que uma doutrina histórica da natureza do sentido interno e, como tal, tão sistemática quanto possível, ou seja, uma descrição natural da alma, mas nem sequer uma doutrina psicológica experimental”.
Há cerca de um século, a fenomenologia questionou os pressupostos da ciência empírica, ou seja, os pressupostos filosóficos naturalistas/ "visões de mundo" materialistas e monistas. Este questionamento mostrou que já é um mero viés por si só, considerar verdadeiro ou digno de estudo somente o que se percebe com algum dos 5 sentidos e o que pode ser reproduzido de maneira controlada pelo observador (cientista). Isto não invalida a epistemologia dominante da ciência como um todo: A ciência baseada em tais pressupostos (naturalistas/ materialistas) e centrada no método empírico foi é ainda é proveitosa à humanidade, mas é preciso entender que tais estudos objetivos são mais precisos quando aplicados aos fenômenos e objetos diretamente perceptíveis pelos 5 sentidos humanos.
Estudar o comportamento humano requer levar em consideração os processos internos, como os pensamentos e sentimentos, que não podem ser percebidos diretamente pelo "observador". Este simples fato já indica a importância de outros métodos de estudo que não sejam empíricos.
Além disto estes processos internos do "objeto" não podem (e nem devem) ser controlados pelo estudioso em questão (não há reprodutibilidade na prática psicoterapêutica). Tais processos são o que compõem o aparelho psíquico na frente psicanalítica de estudos ou a essência do ser humano na fenomenologia.Com este breve resumo destaco a importância da fenomenologia não só na psicologia, mas também como um conjunto pressuposto-método (uma epistemologia) de construção de conhecimento. Por sua vez, a epistemologia mais objetiva, resumidamente tida como o método científico em si, ao lidar com o ser humano analisa as expressões do objeto: Suas emoções e sua comunicação, seja verbal ou de outra maneira. Ela pode não exercer um controle direto ou absoluto sobre o objeto, mas pode induzí-lo. Se tratando de saúde mental, logicamente esta indução deve buscar e priorizar o bem-estar do objeto (paciente).
Tal importância da fenomenologia mostra também que é possível buscar conhecimento, seja sobre soluções para a existência humana, ou a busca pela(s) verdade(s), de maneira mais plural, indo além do monismo e do materialismo, dando abertura a outras formas de entender a existência (a cosmovisão, os pressupostos) e outros métodos de estudo (reflexões, comparações etc). Isto é importante também porque é preciso respeitar as áreas do saber, sejam elas científicas, filosóficas ou espirituais/ religiosas.
A
fenomenologia apresenta um método (a eidética) e uma base filosófica aberta,
sem pressupostos pré-determinados, ou seja, sem determinar um modelo ontológico particular. A
questão que se faz então é a seguinte: Apresentando um método coeso, capaz de
resolver questões da existência humana, ela é uma ciência? Se sim, o método
científico já não se limita mais ao método empírico alicerçado no monismo
materialista (ou monismos similares ao materialista) - teria que levar em conta
estudos dualistas, espiritualistas etc, não os relegando à filosofia. Se não for
ciência, ela é filosofia? Se for este último, não é urgente o desenvolvimento e
a divulgação de tais estudos? A filosofia então abrangeria diversas áreas do
saber humano, tidas até então como "ciências" humanas: Sociologia,
geografia, história, antropologia, psicologia, contabilidade, economia, direito
etc.
As áreas de estudo que pesquisam assuntos como os efeitos psicossomáticos no corpo humano e as possíveis psicopatias ("transtornos e doenças mentais") estariam então mais próximas das ciências biológicas como a neurologia, a psiquiatria, a psicopatologia e a psicofarmacologia, fazendo uma possível conexão com a psicologia.
Sobre investigações mais Plurais, certamente é importante estabelecer um parâmetro: O que se busca com tais estudos? Tais questões já foram feitas ao longo da história da civilização humana então não se trata de um segredo inalcançável. Ao ressaltar que o materialismo, apesar de sua utilidade, não fornece todos os meios de se alcançar o progresso, muito menos fornece soluções para todos os problemas da humanidade, nos resta a retomar alguns temas já discutidos por filósofos da antiguidade clássica: Toda busca pelo conhecimento e pela verdade, deve ser feita levando em consideração a busca pelo bem. Apesar de parecer abstrato ou até mesmo utópico e inalcançável, esta busca pelo bem, se trata sim, de uma busca pelo bem maior, no sentido amplo, ou seja, coletivo, e no sentido profundo, ou seja, mais individual. Esta amplitude e profundidade, apesar de diferentes, não são contrárias em si, pois fazem parte da busca pela coexistência pacífica dos indivíduos desde os primórdios da humanidade.
Ademais já tratei da importância destes objetivos unificados à ciência em alguns textos meus:
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/02/a-ciencia-e-o-bem.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/03/o-desenvolvimento-do-ser-humano-sob.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/01/os-fundamentos-do-saber.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/12/espiritualidade-e-progresso.html