quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Moda - Uma "verdade" fabricada há milênios?


Moda é algo que vem e vai. Embora definida como um comportamento, ou um costume, de um determinado grupo de pessoas durante um período, a moda não pode ser apenas isto. Primeiramente, nem todo comportamento é moda. E moda também não pode ser definida simplesmente como costume, já que o costume pode perdurar inúmeras gerações como certas tradições em alguns locais do mundo…

 Também ouve-se o termo moda como sinônimo de tendência, mas isto é algo subjetivo e pouco explicativo, pois a moda requer um artigo (item) de moda, que por sua vez, é idealizado e/ou produzido por alguém. Por parte dos indivíduos que consomem ou utilizam o artigo de moda, podemos descrever o seu comportamento como “querer parecer com os outros”, ou “querer estar atualizado”. Já por parte de quem produz os artigos de moda, pode-se definir que se trata de uma imposição de opinião disputada pelos idealizadores ou produtores dos artigos em questão. Não se trata só de roupa, qualquer bem de consumo pode “se tornar” moda ou “deixar de ser” moda. 

 Talvez a maioria dos sociólogos liguem o fenômeno da moda com a era-pós moderna que começou a surgir em meados dos anos 60 e se consolidou em meados dos anos 80. Uma época de valorização da apresentação das coisas e de desvalorização dos fatos. Tanto a moda como a valorização da apresentação ante os fatos foram fenômenos que se apoiaram no desenvolvimento/ crescimento das mídias que tanto serviram o setor de propaganda e publicidade: O rádio, a televisão e todos os impressos como cartazes, outdoors, jornais, revistas etc. 

 Mas a moda parece ir além dessas mídias: Tudo ou quase tudo parece passível de ser apropriado pela moda, até mesmo coisas imateriais como a ciência e a religião. A verdadeira ciência não deveria ser afetada pela moda, assim como a fé também não deveria, mas como são temas respectivamente ligados ao raciocínio/ conhecimento e ao sentimento/ intuição, eles acabam sendo afetados também. Como exemplos imaginem as seguintes situações (baseadas em fatos reais, mas com pouca precisão): 

 Um arqueólogo após estudar as pirâmides de Gizé no Egito fotografa um ou mais símbolos no interior de um dos monumentos e chega a conclusão que tais símbolos representam o faraó Khufu que viveu por volta de dois mil e seiscentos anos antes de Cristo (2600 aC) no Egito. Anos depois, um grupo de arqueólogos estudam as mesmas pirâmides com meios (ou tecnologias) mais avançados para a leitura e identificação de pinturas e/ou de esculturas nas superfícies do local. Este grupo identifica que o símbolo encontrado pelo 1º arqueólogo foi pintado na época em que o mesmo estava a estudar as pirâmides, ou seja, não foi pintado pelo faraó nem por ninguém que viveu na época do faraó (2600 aC). A comunidade científica se dividiu, e embora eu não saiba o fim do desfecho, o fato é que se os apoiadores do 1º arqueólogo não conseguirem provar sua visão de maneira científica, ela não é verdadeiramente científica... É uma moda ou mera opinião transvestida de ciência. O mesmo pode valer para o grupo posterior de arqueólogos, caso seu método esteja errado. 

 Origens da Astrologia (e da Astronomia) 

Saindo dos campos racionais e entrando nos mais intuitivos, como no meio religioso e esotérico, também é possível encontrar modas: Tarot, astrologia e até a segmentação da religião, tudo parece passível de “se tornar moda”. 

Vejamos a astrologia: Historiadores e/ou arqueólogos dizem que é uma prática muito antiga. É possível que a astrologia tenha surgido com a necessidade que o ser humano teve de observar os céus para entender fenômenos climáticos ou até astronômicos. Esta necessidade se intensificou por volta de 5000 aC na transição da idade da pedra (em sua última fase, o neolítico) para a 1ª idade dos metais (o calcolítico ou a era do bronze), porque o ser humano passou a praticar a agricultura em algumas regiões da Terra. Alguns séculos depois (por volta de 3500 aC), o ser humano passou a utilizar navios (uma evolução das embarcações mais simples como jangadas e/ou canoas) para comercializar entre civilizações, precisando mais uma vez, desenvolver conhecimentos a partir da observação do céu e de seus fenômenos e características como ventos, nuvens, posições das estrelas etc. A astrologia se desenvolve em períodos como estes juntamente com a astronomia, pois o ser humano não fazia distinção entre estes dois campos como se faz hoje. A distinção só foi iniciada a partir da Europa em meados do século XVII, ou seja, muitos séculos depois. Alguém poderia perguntar como o ser humano não fez esta distinção antes? São coisas muito diferentes entre si! Eles eram idiotas? 

A resposta mais comum diz que os seres humanos da antiguidade eram muito supersticiosos ou até mesmo religiosos, que sempre buscavam respostas ligadas ao espiritual por não entenderem todos fenômenos da natureza. A mais realista destas afirmações é a última: Os fenômenos da natureza são descobertos pouco a pouco, através de séculos de estudo. Mas todas estas afirmações são meras opiniões, pois não existem registros históricos suficientes sobre o período do surgimento da astrologia. Na verdade mal existem registros de tal época, porque a história ainda é baseada em escritos de cada época e os escritos mais antigos conhecidos até agora pertencem a Suméria (atual Iraque), datando entre 3600 aC e 3500 aC. Ou seja, a astrologia é considerada pré-histórica, pois surgiu antes dos primeiros escritos conhecidos pela humanidade… Ao menos, antes dos antigos escritos encontrados até agora. 

Outro fato curioso é que se a astrologia surgiu junto com a astronomia, ela era um conhecimento (ou crença) de pessoas que estudavam e não de trabalhadores braçais nem de artesãos. A história nos mostra que algumas das mais antigas civilizações conhecidas eram lideradas por religiosos: Os patesis na antiga Mesopotâmia e os faraós no Egito. Entende-se que estes líderes religiosos eram pessoas com conhecimento e todo conhecimento pode ser usado como uma ferramenta de poder. Os indivíduos que dominavam a astronomia/ astrologia sabiam os “segredos” dos ciclos das estações dos anos (inverno, primavera etc) tão importantes para as plantações que alimentam um enorme número de pessoas. Eles também sabiam e possivelmente monopolizavam os conhecimentos úteis para as navegações, que ainda que fossem essencialmente “costeiras”, eram um meio de adquirir grandes riquezas e produtos diferenciados de terras distantes. 

Com todo este poder em mãos, finalmente chegamos a resposta: Os indivíduos que detinham o conhecimento da astronomia/ astrologia não eram idiotas! Mas porque eles acreditariam que as constelações e/ou os planetas interferiam na vida das pessoas? Porque tais astros determinariam até traços de personalidade das pessoas? Ninguém tem a resposta, ou se tem, é muito bem guardada e escondida. 

Tentemos traçar o trajeto da astrologia: A astrologia, juntamente com a astronomia, era conhecimento das elites da antiguidade, e esta elite era geralmente composta de religiosos: Patesis, faraós e sacerdotes detinham estes conhecimentos e ditavam as regras não só cerimoniais / religiosas como ditavam as regras sociais também. Este domínio de religiosos nas aristocracias dos maiores impérios só diminui (não cessa) com a queda do Egito e do Império (Neo) Babilônico diante o Império Persa Aquemênida. Não explicarei o que é religião aqui, mesmo porque já abordei um pouco deste assunto nesta postagem: https://nea-ekklesia.blogspot.com/search?updated-max=2020-06-05T17:18:00-03:00&max-results=7. 

A Divisão das Religiões 

Em determinados momentos da história das civilizações a religião se dividiu entre uma vertente popular, mais adequada às massas de camponeses e/ou trabalhadores sem estudo e uma vertente elitizada, muitas vezes mística / esotérica. Ainda sem tratar os possíveis motivos, vamos a alguns exemplos: É aceito que a antiga China pré imperial foi constituída de duas ou três famílias / linhagens reais (dinastias): 

Dinastia Xia (semi histórica, ou seja, os escritos sobre esta dinastia foram feitos em uma época posterior e por isso ela é aceita apenas por parte dos historiadores); 

Dinastia Shang: A 1ª dinastia com um número considerável de registros históricos; 

Dinastia Zhou: Dominada pela fragmentação do poder que gerou feudos na região. Após este período “feudal” o estado de Chin (também pronunciado Qin) foi tomando o poder até fundar a breve dinastia Chin que centralizou o poder na família real (em 221 aC), marcando o início da China imperial. 

Os personagens mais antigos do que a 1ª dinastia (Xia, de 2070 aC a 1600 aC) são predominantemente “mitológicos” e tradicionalmente um deles foi considerado não só o criador do taoísmo, como também é tido como o criador da astrologia chinesa. O registro mais antigo do Taoísmo data por volta de 350 aC, mas tradicionalmente ele é atribuído ao mítico Imperador Amarelo (que teria vivido na pré-história chinesa: de 2697 aC a 2597 aC), ou seja, mais antigo do que a 1ª dinastia semi histórica, Xia. Embora não se possa provar materialmente, isso não é impossível, pois muitas religiões foram mantidas na tradição oral (ensinada apenas por conversação) por milênios, como as que serão abordadas a seguir: 

Os principais poemas da mitologia helênica (grega) se dividem na religião órfica e na popular. Importante notar que a “mitologia” está diretamente ligada a estas religiões e possivelmente foi um termo cunhado após o declínio da civilização helênica para criticar e/ou desqualificar uma ou mais religiões politeístas. 


 Historiadores dividem a cultura helênica em 4 períodos, após a queda das civilizações minóica e micênica: 

 1100 aC - 800 aC Idade das Trevas Grega; 

 800 aC - 510 aC Idade Grega Arcaica; 

 509 aC - 323 aC Idade Grega Clássica;

 322 aC - 146 aC Período Helenístico

Diferente da religião popular grega, a religião órfica, também chamada de orfismo, traz idéias de transmigração das almas similar às idéias de Platão, aos conceitos do hinduísmo (da idade do bronze) e do Espiritismo que viria a surgir no século XIX. A religião órfica foi supostamente fundada pelo rapsodo (bardo) mitológico Orfeu, talvez na era do bronze. Orfeu era considerado próximo de um outro poeta chamado Musaios (traduzido para o português como Museu), posteriormente tido como Moisés, pelo historiador do cristianismo primitivo, Eusébio de Cesaréia que viveu no Império Romano por volta do século IV. 

Já os textos da religião popular grega foram escritos pelos poetas Homero (por volta de 850 aC) e por Hesíodo (por volta de 650 aC). Porém este período é chamado de Idade das Trevas grega pela falta de registros históricos devido a civilização local estar se recuperando de uma série de conflitos / guerras que teriam acabado com a civilização Micênica por volta de 1100 aC. 

Poucos anos depois de Hesíodo, a Idade das Trevas Gregas chega ao seu fim e começam a surgir os filósofos naturalistas (pré-socráticos, como Anaxágoras e Pitágoras) e os influenciados por Sócrates. Alguns autores afirmam que Pitágoras era iniciado nos cultos órficos, enquanto Anaxágoras (500 aC - 428 aC), de origem greco-persa, explicava os corpos celestes de maneira bastante racional para sua época, e portanto, se aproximando do conhecimento científico. Este último erudito, assim como Ermótimos (Hermótimo), também trouxe à tona o conceito de Nous: a mente cósmica. Nous foi a explicação de como os elementos da natureza foram distribuídos e organizados através do cosmo. Possivelmente esta foi uma explicação típica da Grécia Clássica, pois não era aceito (e até hoje, para muitos, ainda não é aceito) que o acaso tenha criado os corpos celestes, a natureza etc. Anaxágoras foi acusado de impiedade na Grécia e teve que fugir, passando os anos finais de sua vida em exílio numa colônia na Ásia Menor (atual Turquia). 

Sócrates teve seus ensinamentos registrados por Platão. Estes filósofos não negavam por completo as divindades, mas explicavam a natureza, consequentemente despersonificando os deuses e causando a ira de muitos indivíduos de seu tempo. Platão possivelmente pertenceu à família do importante legislador e poeta, Sólon, do início da Idade Grega Antiga. De acordo com Platão, Sólon teria aprendido a história da Atlântida no Egito e a genealogia dos deuses contada por estes estudiosos diferia das populares contadas por Homero e Hesíodo. 

Durante os anos finais de Aristóteles, aluno de Platão e tutor de Alexandre, o Grande, o hermeneuta (intérprete de obras) e escritor grego, Evêmero (330 aC - 280 aC), alegava que os deuses eram invenções ou distorções exageradas baseadas em reis da antiguidade que viveram entre a península grega, o Egito, o levante (oriente médio) e a península arábica. O lexicógrafo, mitógrafo e historiador greco-romano, Filo de Biblos (64 - 141 dC), seguia a mesma linha de Evêmero e citando outra fonte (o semi-lendário Sanconíaton que teria vivido antes da Guerra de Tróia), fez a ligação destes personagens da mitologia grega com a história sacra e real da Fenícia. Nestes escritos preservados por Eusébio de Cesaréia, eles alegam que uma geração de sacerdotes fenícios começou a espalhar os mitos posteriormente propagados por Homero, misturando a história de reis com eventos da natureza (astronômicos, climáticos etc) para encobrir a história real, detendo para seu seleto grupo o monopólio de conhecimentos como a história, a geografia, a astronomia/ astrologia etc. Por fim, o historiador e compilador, Diodoro Sículo, cita uma genealogia destes supostos reis divinizados numa disposição semelhante à proposta por Filo de Biblos. É possível notar as diferenças e semelhanças entre as duas genealogias propostas. Obviamente até mesmo a genealogia dos personagens da “mitologia grega” apresentadas pelo(s) “everismo” / “platonismo” deve ter suas inconsistências ou contradições, pois tentam remontar vários séculos de história perdida (das civilizações minóica, micênica, fenícia…) Porém a versão “popular” da mitologia grega de Homero (e possivelmente de Hesíodo também) é notoriamente cheia de exageros, pois mostra “deuses” cheios de poderes fantásticos (e não reis), com comportamentos humanos e muitas vezes violentos. 

 Mas onde entra a astrologia na civilização grega? Bom, de acordo com a versão popular, Ouranos (Urano) ou Aeon trouxe o círculo do zodíaco ao mundo ou para humanidade. Urano, “deus” dos céus, deu origem ao nome do 7º planeta do Sistema Solar e foi o pai de 12 titãs. Podem ser que existam vínculos destes 12 personagens com os 12 signos do zodíaco, mas tudo que consegui até hoje são apenas especulações. Por exemplo, o titã Hyperion é o pai de Hélios, deus do Sol. Oceanus era representado com membros/ pinças de um caranguejo na testa, o que poderia sugerir algum vínculo com a constelação de Câncer… Porém nada muito além disto. 

 

No que se refere aos registros deixados nesta época, a primeira carta astrológica conhecida da Babilônia, como satrapia (província) do Império Aquemênida, data de provavelmente 29 de abril de 410 a.C. O registro indica signos zodiacais, mas sem graus. Nesta época, filósofos gregos travavam contato com os babilônios; Pitágoras e Platão são alguns dos exemplos. O confronto cultural entre o pensamento helênico, que queria saber o porquê das coisas, e a tradição intelectual da região mesopotâmica, que se importava mais no como as coisas são feitas, alavancou a criação de uma explicação filosófica e matemática sobre o universo, o mundo natural. A filosofia estóica de Zeno, somada à teoria dos 4 elementos de Empédocles e mais tarde à teoria dos Humores de Hipócrates forneceu as bases da astrologia alexandrina. 

Enfim, é possível que estas cisões que ocorreram nas antigas religiões chinesa e grega tenham sido causadas para distrair a população (leiga) em geral, fazendo com que as elites religiosas mantivessem o monopólio das informações. Importante notar que a astrologia continuava vinculada à astronomia, mesmo com a cisões entre religiões... 

Astrologia: Conhecimento, Crença Religiosa ou Prática Divinatória? 

Enfim, os filósofos gregos estudaram a astrologia juntamente com a astronomia e embora refutassem/ questionassem alguns aspectos da mitologia (a religião popular politeísta), não negavam por completo o conceito de divindade tão central nas religiões. Após a gradual queda do império helênico macedônico, alguns vínculos entre a religião politeísta e a astrologia ficam nítidos no Império Romano: No panteão romano, muitos dos deuses recebem nomes de astros/ planetas e são tratados como equivalentes de alguns deuses gregos: Hélios é Sol Invictus, Hermes é Mercúrio, Afrodite (ou Astarte) é Vênus, Gaia é Terra, Selene é Luna (Lua), Ares é Marte, Zeus (Adodus de acordo com Filo de Biblos) é Júpiter e Kronos é Saturno. Os seguintes planetas não podem ser vistos a olho nu e provavelmente não eram conhecidos: Urano, Netuno e Plutão. Entende-se que estes planetas foram “descobertos” com o gradual desenvolvimento das ciências entre os séculos 18 e 20, então a comparação destes astros com  deuses (respectivamente Caelus, Poseidon e Hades) deve ter sido desenvolvida neste período "bem menos antigo". 

De acordo com Platão, Sócrates, em diálogo com Adimanto, afirma que o Sol pode ser considerado o filho do Bem e que o astro está para a vida como o Bem está para as coisas cognoscíveis (se referindo aos aspectos mentais, como o conhecimento etc) Talvez esta exaltação do Sol pelos filósofos socráticos tenha alguma relação com o mitraísmo que adentra o Império Romano 4 ou 5 séculos depois. Uma época em que Sol Invictus (Hélios) viria a substituir Júpiter (Zeus) como “deus” principal do panteão. Conforme descrito nos Anais do historiador e senador romano Tácito, em Roma a astrologia era consultada pelo povo e por reis e rainhas, inclusive o Imperador Augusto cunhou moedas com o seu signo. E Tibério estudava o mapa astrológico dos seus rivais. Cláudio, porém, expulsou os astrólogos da península itálica. 

Porém, com o colapso do Império Romano do Ocidente devido às disputas internas e às invasões de diversas tribos “bárbaras”, a astrologia foi perdendo força. A doutrina cristã do priscilianismo, que surgiu na península ibérica cerca de um século antes da queda do Império Romano (do Ocidente), aceitava a astrologia, mas acabou suprimida pela igreja católica por volta do ano 563 dC, após o Concílio de Braga. A igreja católica continuou a crescer em opulência e poder na Europa e só começou a dar abertura ao estudo e às práticas da astrologia/ astronomia por volta de 1200 dC. Durante estes quase 700 anos de domínio católico na Europa, a astrologia teria sobrevivido nos reinos árabes, portanto entende-se que a igreja católica, e consequentemente os países europeus, romperam com a astrologia durante este longo período… 

A Astrologia Ocidental após a Era Medieval 

Na renascença os astrônomos ainda não descartaram astrologia que já não estava mais vinculada à religião. Cerca de 2 séculos depois, após a revolução científica da Europa (por volta de 1620 dC), a astrologia estava predominantemente desacreditada e começava a se formar o movimento Iluminista que se consolidava no século seguinte (XVIII). Considera-se que a separação entre astronomia e astrologia ocorreu em Paris, em 1666 quando Jean-Baptiste Colbert, ministro do rei Luís XIV, criou a Academia de Ciências e deixou a astrologia de fora. Outros países católicos acabaram aderindo ao descrédito. Apesar das primeiras revistas começarem a ser produzidas na Europa neste mesmo século, a astrologia só viria a se tornar popular novamente séculos depois, no século XX. Por volta de 1950, podemos encontrar algumas obras que tratam do assunto com o linguajar voltado à vida pessoal dos típicos cidadãos das “classes médias” da América. Nesta época a indústria cultural estava em desenvolvimento já avançado e logo surgiram os horóscopos em revistas e programas televisivos de fofocas nos anos 80. Fãs de astrologia “clichê” (talvez um termo mais adequado seja “fãs superficiais”?) pareciam esperar descobrir maravilhas através da astrologia: Um grande amor ou até mesmo maneiras de enriquecer. 

Na década de 10 do século seguinte (XXI) a astrologia começa virar moda mais uma vez. E muitos dos interessados não parecem diferentes daqueles fãs “astrólogos”, sejam os mais comuns/ superficiais ou os mais “místicos”. A astrologia parece ser mantida separada da maioria dos sistemas religiosos, exceto por alguns grupos restritos como os “herméticos”… Mas porque isto ocorre? 

Bom, ao menos desde o Império Macedônico-Helenista de Alexandre, o Grande, a astrologia é usada para “descobrir” (talvez o termo mais correto seja deduzir) o futuro… De pessoas específicas. Alguns registros indicam que essas práticas começaram nos reinos mesopotâmicos (oriente médio), como a Babilônia, séculos antes. Apesar de elementos nítidos da astrologia serem vinculados a um conceito de unidade superior ou de divindade, como indicam as religiões/ sistemas sincréticos como o hermetismo / o judaísmo místico, parece que muita gente não se importa com isso. Todos esses temas chamados de místicos, todos os sistemas astrológicos e até mesmo os sistemas religiosos sincréticos, parecem atrair gente querendo resolver seus próprios problemas, ou esperando obter grandes vantagens em vida… Assim como existem aqueles que, vêem no Espiritismo um meio de adivinhação e imaginam que os Espíritos existem para predizer a sorte de cada um. É claro existem pessoas humildes, empáticas ou até mesmo com consciência social, que se interessam nestes temas. Porém o 1º grupo de pessoas (de gente mais ambiciosa, vaidosa e/ou egoísta) parece ignorar ou até mesmo contradizer os conceitos de unidade na astrologia. 

A astrologia afirma que todos os signos têm características boas e ruins. Nenhuma das características boas se refere ao enriquecer ou tirar vantagens sobre o próximo… E mesmo assim os interesseiros, os deslumbrados e até os egoístas “espiritualizados ou místicos” parecem delirar com seus conceitos. Como dito no começo do texto, a moda parece com um costume, mas geralmente trata um “artigo vendido” e um bando de indivíduos deslumbrados por este artigo… 

 Conclusão... Ou mais perguntas.

O texto foi centrado na astrologia, não só por esta voltar a “se tornar moda” recentemente, mas também porque a astrologia passou pelas religiões antigas e até mesmo pelas ciências (astronomia) através dos séculos. Embora o texto não se aprofunde nos temas religião e ciências, pode-se ver que a produção de “verdades” para enganar e deslumbrar pessoas existiu e existe em todos esses campos, possivelmente desde antes da própria história da humanidade. Estas “verdades” inventadas deslumbraram e manipularam inúmeras pessoas por determinados períodos, indo e voltando com roupagens diferentes ao longo da história, muitas vezes determinando não só crenças, como também costumes e comportamentos… Enfim, a proposta aqui não é fazer críticas destrutivas à astrologia, à religião ou à ciência… É mais uma crítica à moda e uma pergunta se esta não é uma mera invenção para beneficiar um pequeno número de pessoas que manipula um grande número de pessoas… Poderia uma pessoa ingênua e/ou sem conhecimento produzir uma verdade para as massas? A invenção de uns poucos iletrados também seria capaz de virar um artigo de moda? E se virasse um destes artigos… Não surgiria alguém mais esperto ou mais influente para usar isto em seu favor? 

Isto pode ser assunto para outro texto.