segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A Mente e a Amplitude das Relações Biopsicossociais


Alguns estudiosos já tentaram entender e até localizar a alma (no corpo e talvez no cosmos) diversas vezes ao longo da história. Aqui serão citadas brevemente apenas quatro tentativas de descrever os conceitos de alma e/ou espírito: 

 

1. A Mente após o Iluminismo 

 Após o desenvolvimento das ciências e da psiquiatria no século 18, parece que a ideia de alma começou a ser rejeitada. Com o surgimento da psicologia e da psicanálise no século 19, isto foi deixado mais de lado ainda. Sigsmund Freud revolucionou a psiquiatria (que parecia bem deficiente até então) e a psicologia que ainda era muito incipiente. Alguns dos principais elementos de sua teoria é a divisão da mente em três níveis: 

Id.: Parte mais inconsciente e instintiva da mente. Onde surgem os desejos primitivos, como de reprodução (libido, pulsão sexual) e a pulsão de morte. Este último está ligado ao desejo de eliminar um rival ou obstáculo de maneira mais rudimentar possível, ou seja, através da violência, matança etc. 

Ego: O “eu”. Constituído das relações, ou de uma média, das pulsões do Id com o Super Ego; 

Super Ego: A parte mais externa da mente seria um tipo de camada empenhada em proteger , ou até mesmo reprimir, a mente? Seria a parte da mente onde surgem a moral, os tabus adquiridos no convívio familiar e/ou social, as normas sociais etc. 

 

                                                                    Fotografia de Freud, criador da Psicanálise

 2. A Alma na Filosofia Socrática

 No século 4 aC, o filósofo Sócrates dividiu a mente (a qual chamava de alma) em mente inferior e mente superior. A inferior é constituída pelo desejo material, carnal. É constituída pela voracidade, paixão sexual, incontinência, fúria etc. A superior é formada pela busca da ciência, da verdade, e pela busca pelo Bem, por algo maior, imutável, como Deus. Sócrates ainda cogita um possível meio campo, entre as mentes. Um estado de repouso da mente, onde alguém tomado pelos sentimentos da mente inferior encontra alívio ao saciar alguma necessidade ou desejo. Porém se este alguém não busca por conhecimento, ou pela verdadeira beleza, que está relacionada ao bem e a Deus, ele tende a cair novamente no sofrimento tipicamente gerado pelos desejos da mente inferior. Por outro lado um cientista ou filósofo que se deixasse cair no estado intermediário de repouso, seja por ter seus estudos rejeitados, ou por ser impedido de estudar ou compartilhar seus estudos, poderia cair no estado intermediário de repouso. Deste estado ele talvez ficasse vulnerável aos desejos ardentes da mente inferior. Também é interessante notar que a busca pelo Bem através das ciências citada por Platão e atribuída à Sócrates, também incluia a busca pela relação entre as ciências (no caso Astronomia ainda vinculada com a astrologia, a Matemática, a Geometria e a Música). 

 

Platão e Aristóteles no centro da pintura "A escola de Atenas" de Rafael

3. A Alma Asteca 

Os astecas (provavelmente sacerdotes, antes da invasão espanhola das Américas) separavam a alma em três partes vinculadas ao corpo: Fígado, coração e cabeça (possivelmente o topo da cabeça de acordo com um texto asteca). As partes inferiores talvez tenham sido concebidas por causa da percepção de efeitos psicossomáticos: O nervosismo intenso pode gerar dores de estômago, uma grande frustração sentimental ou decepção amorosa (correspondência afetiva) causa dores no peito etc. A parte superior era chamada de tonali e parecia estar ligada ao conceito de mediunidade. Era onde se conseguia o verdadeiro livre arbítrio, mas onde se ficava vulnerável aos espíritos maus e bons. 

 

4. A Alma conforme o Espiritismo 

Em meados do século 19, Allan Kardec fez a pergunta a um espírito (para os céticos, as respostas fôram dadas pela adolescente) "É certo dizer que os Espíritos são imateriais?” e obteve a seguinte resposta: 

— Como podemos definir uma coisa, quando não dispomos dos termos de comparação e usamos uma linguagem insuficiente? Um cego de nascença pode definir a luz? Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato; pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada, para a qual não dispondes de analogias, e tão eterizada que não pode ser percebida pelos vossos sentidos." 

 

Retrato de Hippolyte Léon D. Rivail (Allan Kardec)

5. Opiniões sobre a Extensão Mental 

Baseando-se nestas teorias da mente (ou alma, a diferença parece apenas de nomenclatura) e nas descrições sobre alma e espírito anotadas por Allan Kardec, eu tendo a crer numa estrutura superficial mais próxima das três últimas. Porém os estudos de Freud baseados em tudo o que ele conseguiu observar e/ou sentir, também foram fundamentais. 

No texto Mal Estar da Civilização, Freud tenta entender o sentimento oceânico descrito por seu amigo religioso. Porém extremamente racional e cético, Freud apenas consegue se aproximar em parte do que é tal sentimento. Seu amigo descreve que é como se sentir parte de algo muito maior, de um todo. Tal descrição se aproxima um pouco da mente superior de Sócrates, e pelo teor religioso, pode se considerar que também se aproxima (nem que seja sutilmente) do conceito de tonali da religião asteca. Freud aparentemente acerta ao constatar que o sentimento de pertencer a alguém além de si mesmo está presente no bebê recém-nascido. Ele observa que o bebê só vai aprendendo o conceito de indivíduo (Eu) com mais idade, entre os 2 e 3 anos. Freud traça uma relação da Psicose com a falta de ver/ perceber os outros indivíduos, oriunda de uma retenção significante do "ego primitivo" ou do sentimento oceânico... De acordo com o psicanalista, reter estes "sentimentos" resultariam na ausência de limites e da ligação com o todo. Esta retenção incluiria um tipo de cisão onde parte do ego desenvolve-se e outra parte (de impulsos instintivos) permanece sem "limites", vendo outros como parte de si. Porém a seguir, Freud dá exemplos destes conceitos em animais: Considerando os répteis como formas de vida mais primitivas do que os mamíferos, ele afirma que os primeiros seres têm mais a ausência de limites (do eu), enquanto os mamíferos, por fatores claros seriam mais parecidos com os seres humanos ("normais", com ego mais desenvolvido ou "não psicopatas"). A semelhança entre o sentimento oceânico e a religiosidade (que significa religar-se com algo além, ou algo superior, ou com o todo etc) é perceptível como descrito nos textos. Porém há uma contradição no desenvolvimento de Freud: Os répteis de fato parecem ter pouco discernimento de outros seres se comparados com os mamíferos (ser humano incluso, é claro). Os répteis não trocam carícias, não brincam quando filhotes e seus progenitores nem sequer cuidam dos filhotes, como os mamíferos fazem. Esta falta de percepção do próximo é como a falta de empatia: Nem os répteis nem os psicopatas sentem pelos outros. Eles não percebem os outros (ou tudo) como parte de si, mas sim como objetos, ou talvez como seres inferiores, a serem utilizados ou descartados / ignorados. Portanto a ausência de limites é distinta ao sentimento oceânico e ao "religar-se" da religiosidade. No caso dos seres humanos a frustração em excesso ou a falta de correspondência (de um relacionamento) talvez possa gerar uma ausência de limites formada por rancor, desejo reprimido, vingança, mas não é o sentir tudo como parte de si, nem sentir o próximo como parte de si. Portanto minha constatação é que a psicopatia de fato, parece presente nos répteis, mas não nos bebês e crianças até os 2 anos de idade. A psicopatia torna a percepção do “outro” turva, mas não como parte do “Eu”. A percepção do psicopata é que o outro é pouco ou nada significante, talvez até um objeto, enquanto o sentimento oceânico de pertencer ao todo, ou a algo maior, está mais para o sentimento do bebê de ver a mãe como parte de si e para o religioso que vê todos como parte de si e talvez como parte de Deus também. 

Outro ponto digno de nota é que nos textos do psicanalista (Freud), a Cultura surge como regras de relacionamento entre pessoas, portanto delimitando o "eu" (Ego de cada indivíduo). Isto pode ser considerado próximo do estado de repouso da alma, ou o estado intermediário da mente, de acordo com Sócrates. As regras sociais servem para reprimir ou controlar tanto as pulsões de vida como as pulsões de morte. Controla o desejo de sexo/ reprodução e o desejo de eliminar (matar ou ferir de modo incapacitante) um competidor ou inimigo. 

 

 6. A Importância da Boa Relação com o Exterior 

Mesmo na natureza há exemplos de elementos internos de um determinado sistema relacionando-se com os elementos de um outro sistema: isto pode ser visto não apenas nos biomas do planeta Terra, mas até mesmo na “estrutura” que compõe toda “matéria”: Os átomos. 

Os átomos foram considerados a menor partícula da matéria por algum tempo. Sua estrutura é composta por um núcleo formado por prótons e nêutrons (cargas positivas e neutras) e este núcleo é cercado por uma nuvem de elétrons (cargas negativas). Porém há um vasto espaço vazio entre o núcleo e os elétrons, sendo que estes últimos curiosamente não se movem nem ficam parados. Isto indica que, na verdade, toda matéria é formada por relações (entre as cargas e com seu exterior) e estas relações são classificadas em 3 tipos: 

Relações de mudança;

Relações de repetições / padrões; 

Relações de transcendência (ir além de si mesmo, expandir-se). 

Se não há relacionamento ou se os relacionamentos estão frágeis por algum motivo, as estruturas não se sustentam. Seja uma estrutura biológica, social ou molecular: Isto é verificável nos átomos estudados pela física, nos ecossistemas estudados pela biologia e até mesmo nas relações humanas estudadas pelas ciências sociais como a sociologia e a psicologia. 

 

7. O Não-Relacionamento nas Ciências Sociais 

Como se dá a impotência de um ser humano se relacionar com os demais? Ou como ocorre o impedimento de sua relação com outros seres humanos? 

Podemos analisar casos que ocorrem em nossa sociedade ocidental, ou mais especificamente, (pan)americana, nesta virada da 1ª década para 2ª década do século 21 (XXI). 

De um modo geral, vivemos em uma sociedade centrada no consumo e no dinheiro. Apesar de alguns anos de busca por um bem estar social e vagas tentativas de frear a desigualdade social e a devastação do meio ambiente, há um evidente descontrole das relações comerciais nas nações americanas. A fiscalização das relações comerciais em prática é inexistente: Atividades e até mesmo leis claramente nocivas para a maioria dos seres humanos seguem norteando as relações: Paraísos fiscais que existem claramente para beneficiar grupos que enriqueceram de maneira ilícita, ou seja, criminosa, continuam a existir por décadas a fio e oligopólios e monopólios surgem independentes das divisões políticas do globo, ignorando leis e beneficiando poucos acionistas e empresários bilionários. Este descontrole das relações comerciais está entre os maiores causadores de danos ambientais e sociais. Ele alimenta o orgulho de poucos indivíduos que mantém em seu poder particular recursos suficientes para sustentar milhões de outros seres do planeta Terra. Reter a maioria esmagadora dos recursos nas mãos de poucos é dificultar ou impedir as expressões e as relações expansivas/ externas da maioria. É impedir as relações destes indivíduos empobrecidos com o meio socioambiental e com grupos além de seus próximos. 

 

 8. O Orgulho: Um sentimento obscuro 

O orgulho é tratado de diversas maneiras: Em alguns textos espiritualistas / religiosos ele é notoriamente criticado e explicado como um sentimento nocivo, mas em certos círculos sócio-econômicos ele é tido como algo natural ou até mesmo digno. 

Porém dignidade é uma palavra diferente e refere-se a ser digno de algo. Há um teor de justiça ou de naturalidade quando se fala que algo ou alguém é digno. Praticamente não há interpretação negativa das palavras digno / dignidade. 

Orgulho também é utilizado para designar o estado em que uma pessoa se encontra após realizar um feito que lhe satisfaz ou que lhe traz um destaque que lhe causa grande satisfação. Mas para isto também já existem as palavras satisfeito / satisfação. 

Então qual é o significado do orgulho? Se já existem palavras que designam os sentimentos de dignidade e de satisfação é importante separar o orgulho destes. 

O orgulho é sim algo negativo. O termo orgulhoso em geral é utilizado para designar a pessoa que tem a si mesma como superior em relação a outras. 

Quando vemos as pessoas que tem uma boa posição social numa sociedade em grande parte capitalista, já podemos entender que na verdade trata-se de uma boa posição econômica, ou, na melhor das hipóteses, sócio-econômica, pois ela está ali realizando tarefas pouco ou nada benéficas para a maior parte da sociedade. Naturalmente quanto mais à favor de poucos multimilionários, ou, quanto mais capitalista for a sociedade, os indivíduos em posições de poder ou de prestígio se importarão menos com a maioria pobre, pois ficam mais distantes deste grupo. Como agravante, estas pessoas de boa posição “sócio-econômica” geralmente servem de exemplo para os demais. Independentemente se estas pessoas conquistaram tais posições com trabalho persistente e honesto ou se estão ali porque receberam favores ou se realizaram crimes. 

E qual é o problema disto? Além do óbvio ciclo vicioso de propagação de pobreza e desigualdade social, estes indivíduos em posição de grande prestígio e poder são naturalmente orgulhosos. Se cada um deles têm uma quantia de recursos suficiente para sustentar a vida de centenas, ou de milhares, ou de milhões de pessoas, cientificamente eles são pontos de grande desequilíbrio, não apenas social, mas alguns deles também são os causadores de grandes desequilíbrios biológicos no planeta. Obviamente este desequilíbrio biológico se dá por seus intermediários como empresas (e todo seus respectivos corpos constituintes) que causam desmatamento, pesadas emissões de poluentes etc. Porém estes desequilíbrios, ou danos, são conhecidos desde o século 20 (XX), portanto é útil avaliar eventos mais atuais, do século XXI. 

 

9. A Incitação do Orgulho e seu impacto Psicossocial 

Na última década o desequilíbrio causado pelos poucos indivíduos mais poderosos e pelo sistema que tanto favorece estes mesmos indivíduos, alcançou um novo patamar: O psicológico. Na verdade desde o início do século XX, já ouvíamos sobre o impacto do ritmo de trabalho e da pressão psicológica nas pessoas, gerada pela intensificação das atividades industriais. Porém o domínio das atividades industriais já foi sobreposto pelas atividades digitais e as atividades digitais se tornaram danosas em muitos aspectos: 

Após o uso das redes sociais superarem o uso do e-mail em nível mundial no início de 2009, as empresas da internet (redes sociais como o Facebook, buscadores como Google, canais como Youtube etc) passaram a investir pesadamente para atrair mais usuários e para lucrar sobre seus usuários. 

O conceito de “like” tornou-se central não apenas para jovens usuários que publicavam fotos e textos sobre suas vidas e sobre suas opiniões, mas também para empresários que buscavam mais clientes. Aproveitando-se para lucrar, as redes passaram a comercializar ilegalmente as informações de seus usuários. Alegava-se coletar informações para personalizar anúncios conforme o desejo do usuário, mas na verdade criava-se um ciclo vicioso onde os usuários foram bombardeados com publicidade intrusiva e as empresas lucravam com cliques e com mais anúncios. Esta propagação de conteúdos sem checagem (sobre a utilidade e a veracidade destes) e de anúncios criou as “bolhas sociais” na internet e intensificou o consumismo. Se o consumismo por sua vez alimenta o sistema capitalista e sua minoria de multimilionários, as bolhas sociais criavam grupos de pessoas alienadas orgulhosas de suas escolhas e de suas opiniões. Este processo também intensificou a ideia de pós verdade e ampliou a propagação de fake news (notícias falsas). No meio de toda esta confusão estavam inúmeros indivíduos que já vinham sendo oprimidos por um sistema centrado na produtividade, no consumismo irracional e no acúmulo de riquezas (para poucos, é claro). 

Apesar destes vários indivíduos pertencerem à culturas diferentes, eles tinham poucas coisas reconhecíveis em um mundo tão conflitante e confuso. Uma destas poucas coisas era o “Eu”, que de acordo com a vertente psicanalítica da psicologia, também pode ser chamado de Ego. Assim ficou fácil para as empresas manipularem as massas: No meio de um turbilhão de dados que é a internet, os usuários da internet, em sua maioria uma população leiga, não via nem entendia que os líderes das maiores empresas da internet contratavam designers e psicólogos, para usar seus conhecimentos em busca de mais lucros. Foram usados conceitos e estudos sobre o comportamento humano (Behaviorismo/ Psicologia Comportamental) e sobre o impacto de formas e cores sobre a percepção e a interpretação (Gestalt), tudo voltado para manipulação dos leigos em favorecimento dos mais abastados. Os orgulhosos abastados, que em grande parte não eram pessoas em ascensão social, e sim os que já eram multimilionários, incitaram algumas de suas características no público leigo em geral, sendo a mais nociva, aquela que se disfarça como “Eu”: O orgulho. 

Famosos como atores de cinema/ televisão, atletas, músicos e apresentadores já incitavam o público a imitar algumas de suas atitudes ou comportamentos no século anterior, o problema é que as mídias sociais espalharam um “novo sentimento” negativo, um orgulho consideravelmente narcísico. Nesta nova onda de incitação de orgulho, incita-se o egoísmo (ou seja, um “Ego” - “Centrismo”), pois as pessoas se agrupam mais por ódio ao diferente ou por rivalidade aos que discordam de si, do que por similaridades entre indivíduos de seu grupo. A partir disto vale tudo para se autoafirmar: Esta autoafirmação do “eu” como algo melhor que os demais, ou mais belo, ou mais certo, utiliza-se da valorização de narrativas ignorando fatos (pós verdade): Apoiar movimentos anti vacina, terraplanismo, patriarcado, antipolítica, negacionismo etc. O indivíduo nega a realidade, ou partes desta, em nome do orgulho, deixando de relacionar-se com outros ou até mesmo buscando eliminar os que parecem tão diferentes de si. Esta negação das relações é nociva para todos, pois é uma negação da natureza e da verdadeira ciência em si, pois as relações existem em níveis astronômicos, ecológicos, sociais e até em níveis atômicos. 

Obviamente quando o sentimento de orgulho se espalha como sendo de grande importância, há uma grande chance de causar conflitos, como foi possível ver nos atos racistas e violentos de alguns policiais que geraram uma onda de protestos e mais violência. Mas além disto, as redes sociais em sua busca nociva por lucros, gerou um aumento no número de casos de problemas psicológicos individuais (ansiedade, depressão...) como mostrado no documentário “The Social Dilema”. Ao induzir pessoas de uma sociedade a substituírem interações presenciais por digitais, ocorre um aumento do isolamento real diante um aumento de interações superficiais. Quanto menos se vê e/ ou menos se ouve os interlocutores em uma interação/ processo de comunicação, mais difícil torna-se expressar os sentimentos que nos define como seres humanos e nos difere das máquinas. Textos e emojis jamais substituirão expressões faciais, corporais, tom de voz etc. Afinal é simples demais não se expressar ou até mesmo utilizar uma “carinha de feliz” nas redes sociais quando se está triste ou nervoso com alguém. Os sentimentos fazem parte das necessidades humanas e apesar dos sentimentos negativos fazerem parte de nossa existência, os positivos são de suma importância numa sociedade onde alterna-se em suprimir sentimentos e priorizar os sentimentos negativos (orgulho de suas opiniões ou posses, ódio ao diferente, desespero diante situações sociais e econômicas). Nesta situação onde prioriza-se e propaga-se sentimentos ruins, os sentimentos positivos são criticados de diferentes maneiras, sendo alguns exemplos: A humildade é confundida por idiotice, o amor é tido como ridículo ou farsa e a esperança é considerada um devaneio ou ingenuidade. Negar os bons sentimentos aos indivíduos é negar-lhes a saúde mental e espalhar esta negação a um nível social é gerar crises e conflitos, enfim, é causar processos nocivos para a maioria. Como é possível notar, o sistema defasado não é só injusto por privilegiar poucos, privando a maioria de suas necessidades básicas, mas por causa deste desequilíbrio nas relações, ele também facilita a supressão dos bons sentimentos e de suas expressões. Ele esconde as verdades com fake news e movimentos negacionistas ou reducionistas, substitui amizades por bolhas sociais e rivalidades, e por fim, nega esperança, atacando programas sociais e pessoas (físicas ou jurídicas) que realizam ajuda aos grupos mais necessitados e/ou vulneráveis. 

 

10. Observações Finais 

Este texto não trata exatamente de atacar o defasado sistema econômico que nos rege, mas sim de invocar a importância das relações em todos os campos de estudos/ em todas ciências. Se trata de mostrar a importância do conhecimento e dos sentimentos. Se trata de mostrar a necessidade de uma mudança para melhor tanto no sistema econômico, como no meio científico, que ao submeter-se a lógica do decadente sistema capitalista, acabou sendo apunhalado com o surgimento de movimentos negacionistas e reacionários. 

Este texto não inventa um sistema social nem um método científico: Ele faz a ponte entre teorias científicas já existentes com o decrépito sistema que faz tantos estragos nos âmbitos ecológicos, sócio-econômicos e psicossociais. A teoria científica é a Teoria Geral dos Sistemas, que tem algumas características em comum com outras teorias também científicas, como a Hipótese Biogeoquímica (Hipótese de Gaia). 

O que é exatamente a Teoria Geral dos Sistemas? 

Use um buscador de internet para encontrar tais informações...