sábado, 18 de abril de 2020

A Corrosão Social persiste através das Eras?



Estive estudando o conceito da Pós Modernidade e após ver a nova “crise” social e econômica que está acontecendo durante esta pandemia, decidi escrever este texto…

Modernidade e Pós Modernidade são conceitos da sociologia. Pode-se dizer que são movimentos culturais e classificações de comportamentos gerais das sociedades. É uma idéia um tanto ocidental, é claro, tendo em vista que a modernidade surgiu gradualmente após os movimentos humanistas e iluministas da Europa de séculos atrás.
A modernidade ganhou força e forma com o surgimento de repúblicas (França e EUA por exemplo) e com a revolução industrial: Foi um período marcado por uma suposta propagação da racionalidade e pela idéia que o homem era o “centro do universo”. Portanto considerava-se que o ser humano tinha alcançado o ápice da evolução (racional, moral e cultural) ou, ao menos, que o ser humano estava próximo de construir uma utopia. Estas idéias sofrem seus primeiros abalos com o desenvolvimento das ciências biológicas e psicológicas (Darwin e Freud causaram algum impacto) e os últimos abalos com as crises econômicas e sociais: a 1ª Guerra Mundial, as crises entre as guerras, e por fim, a devastadora 2ª Guerra Mundial. Genocídios, países arruinados e armamentos de destruição em massa acabaram com boa parte do orgulho e dos sonhos de muitos seres humanos.

Mas o período seguinte, a Pós Modernidade, não se iniciou imediatamente após 1945. Autores parecem divididos em propor um início para este período: Alguns acham que a Pós Modernidade surge durante os anos 60, quando ocorreram movimentos estudantis e sociais questionando as guerras, as potências imperialistas etc. Outros afirmam que ela só ganha força e forma entre os meados dos anos 80 e o início dos anos 90: Uma época em que um aparente clamor por liberdade (diretas já no Brasil, colapso do socialismo europeu e asiático etc) daria cria às sociedades mais efêmeras. Tudo isto tem suas controvérsias, mas o que há de comum nos períodos propostos para o surgimento da Pós Modernidade é a perda da segurança por uma vaga aquisição de liberdade.
Por que vaga? Simples: Grande parte da pós modernidade é tomada pelo aumento do consumismo e da desigualdade social seja em escala menor ou maior. Será que o consumismo é um movimento da natureza, como o vento, as chuvas, os terremotos…? Será que a desigualdade marcada por cada vez menos pessoas com mais bens e mais pessoas caindo na miséria é uma consequência de forças da natureza?

Não, claro que não. Pessoas sem empatia, fascinadas pela riqueza alheia ou egoístas enriquecidos ainda podem não atribuir estes problemas à natureza e sim a uma suposta consequência “justa” de relações comerciais e de trabalho (à sociedade e/ou à economia). Só que se tratando de sociologia, estamos falando dos comportamentos e gostos das massas, não de poucos indivíduos repletos de poder (seja econômico, político etc). Afirmar que o consumismo foi puramente o desejo das massas é de uma simplicidade ridícula ou de uma malícia repulsiva. O consumismo de fato está pouco se importando com os representantes da população (políticos) de qualquer país: Quem prega esse movimento são empresários, e não são os “pequenos”, são os que mais têm. Os que mais tem dinheiro, mais influência comercial, midiática e até mesmo, mais influência política, seja através de lobbies, de financiamento de campanha eleitoral ou até de propinas.
E quem prega a desigualdade social? Em tempos de mentiras pandêmicas, há quem diga que simplesmente são os vagabundos que ficam pobres e os trabalhadores que ficam ricos. A verdade é que a mesma turma que promove o consumismo, promove a desigualdade, independentemente se isto faz sentido ou não. E desigualdade social é algo muito distante de liberdade. Na verdade é praticamente o contrário: Quem tem mais quer mais e vai cobrar de quem tem menos. Simples assim. Mas a Pós Modernidade é só isso?

Bom… outras características da Pós Modernidade são: relacionamentos rápidos e mais superficiais (“amor líquido” citado por Bauman por exemplo) e narrativas mais importantes do que os fatos. Ninguém seria capaz de propor estas ideias às sociedades? Seriam todas de iniciativa da maioria?
Provavelmente não: A valorização da narrativa e desvalorização dos fatos parece coisa atual, da “era da internet”, mas começou com as mídias “de massa” como jornais, rádio e principalmente com a televisão. E programas televisivos não só foram sensacionalistas muitas vezes, como também venderam (ou propuseram) padrões de comportamento, estilos muitas vezes baseados em consumismo, elitismo, racismo e sexismo/ machismo. Alguém poderia perguntar porque eles fariam isso? Não seria uma crítica exagerada à televisão, a indústria cinematográfica e aos comerciais feitos em qualquer mídia?

Não é exagero algum, é lógica: Se existem classes mais dominantes e classes menos dominantes, é óbvio que aquelas no topo da “cadeia socioeconômica” possuem mais recursos para influenciar os demais: Possuem mais dinheiro, portanto precisam trabalhar menos (ou nada) tendo mais tempo para influenciar outros setores da sociedade e às vezes também possuem mais poder político, influência religiosa ou até mesmo militar. São essas classes dominantes que venderam por ao menos 50 anos, até o acesso à internet crescer significativamente em meados dos anos 2000, ideais de consumo, grande parte dos modelos de atitude, comportamento etc.
Neste período dos anos 60 do século XX até pouco antes da década de 10 do século XXI, tivemos sim a aparição da diversidade e até uma vaga liberdade. Mas não é porque a diversidade e a liberdade (ainda que muito tímida e vaga) sejam apreciáveis que precisamos fingir que não existem sérios problemas em nossa sociedade.

Hoje em dia, após a expansão da internet vivemos a intensificação da “pós verdade” (o tal desprezo pelos fatos), propagação de mentiras (fake news), favorecimento de quem paga mais por anúncios e espaços e perda de direitos e de infraestrutura…
Porém um dos mais novos perigos é o vírus Covid-19, que por causa de suas características, desencadeou uma pandemia, forçando vários governos pelo mundo a tomar atitudes como a quarentena visando redução do contato social e diminuição ou controle do contágio. Só que os governos pós modernos (ou talvez pós pós modernos) em sua maioria estão fragilizados. São meros intermediários entre as classes dominantes de acionistas/ mega empresários multimilionários, muitas vezes não tendo recursos nem estrutura para combater a pandemia. E sendo intermediários dos setores empresariais mais abastados, os governos nada fazem diante demissões em massa, condições cada vez mais precárias de trabalho e aumento da desigualdade social... Na verdade, independente em que era estamos, o perigo continua à espreita, pois classes dominantes se reinventam, seja com ou sem alternância, elas continuam a existir e seria mais tranquilizador, se seus representantes desenvolvessem mais sensibilidade, afinal evoluir não é só usar a mente (seja na forma de racionalidade ou de apelos às crenças e sentimentos superficiais dos outros) para enriquecer, evoluir é buscar entender o todo (seja a sociedade, o mundo ou o universo) e confiar em alguém além de si mesmo. Isto aparece na biologia quando os répteis deixam de ser a classe filogenética dominante na Terra no final do Período Cretáceo, dando espaço aos animais que cuidavam de seus filhotes, e que muitas vezes vivem em grupos, os tais dos mamíferos.