sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Política Brasileira de 2013 à 2020 para (quase) Leigos



1. Bipolarização; Uma invenção de quem influencia o povo.

Desde 2013, após a moda dos “flash mob” seguida pelas manifestações, espalhou-se a ideia de uma suposta (bi)polarização da política. Em grande parte isso não passou de boataria, pois a relação entre poderosos do setor privado e do setor público pouco mudou desde estes eventos. O que ocorreu foi uma digitalização das discussões e uma aceleração da propagação de boatos e difamações que se mesclou às notícias pela internet. A nível de pequenos grupos obviamente aconteceram algumas “bipolarizações”, mas vamos ao histórico político do Brasil:
A candidata Dilma Rousseff do PT ganhou as eleições de 2014 por uma margem apertada sobre Aécio Neves do PSDB; Neste momento a “digitalização” das discussões políticas já havia crescido e talvez boa parte da população brasileira até estivesse aparentemente “bipolarizada”, ou seja, dividida em duas supostas ideologias (a esquerda do suposto socialismo e a direita do liberalismo) ou em dois partidos (PT vs PSDB). A maioria dos eleitores de Aécio (PSDB) se dizia indignada com a corrupção (do PT) ou pedia “alternância” no poder porque o PT estava na presidência do Brasil desde 2002. Porém, quando Dilma se reelegeu, ela não só continuou com seus acordos políticos (com o PMDB, por exemplo), como tentou agradar sua oposição: A direita composta principalmente pelos grandes empresários.
Suas tentativas se mostraram insuficientes para agradar os opositores e políticos do PMDB, por exemplo, exigiam que ela seguisse uma agenda mais liberal (“a Ponte para o Futuro”) ou seja, mais à direita, mais privatizações, menos investimentos sociais nos trabalhadores e aposentados e menos verbas para infraestrutura do país. A velha desculpa que isso resolveria o problema da recessão econômica, incentivando investimentos de grandes empresas… As grandes empresas que mal foram atingidas pela tal recessão econômica, como por exemplo os bancos privados Bradesco e Itaú que atingiam lucros crescentes ano após ano, sem interrupções.
Aécio então diz publicamente que não deixaria Dilma governar, enquanto Romero Jucá, político do PMDB, diz em ligação com o empresário Sérgio Machado da Transpetro, que era preciso um “acordão” para remover Dilma da presidência e parar todas investigações. E assim aconteceu. Dilma sofreu o processo de “impedimento” e foi afastada sendo sucedida pelo vice presidente Michel Temer do PMDB. O processo foi repleto de cenas peculiares como gritos evangélicos fervorosos e até um elogio a um militar torturador condenado…

2. Esconde-se a Crise Política, mas não a Recessão Econômica

Com Temer do PMDB na presidência, começou-se o abandono dos investimentos sociais e de infraestrutura. A educação, saúde e segurança públicas (que foram "criticadas" em manifestações por serem insuficientes) passaram a ser gradativamente deixadas em segundo plano diante benefícios fiscais e privatizações. A recessão econômica que se intensificou sob este governo "PMDBista" gerou o medo do desemprego e da pobreza na população.
Em algumas regiões do Brasil, aumentou-se também o medo da violência e do surto de criminalidade (como as que ocorreram durante as greves das polícias em variados estados etc). E medo é um sentimento bem utilizado por poderosos manipuladores, sejam eles ditadores políticos, religiosos, militares ou grandes empresários lobistas.

3. O Governo do Medo e da Ignorância

Portanto o dualismo partidário caiu por terra em 2018, mostrando a farsa da (bi) polaridade política. Mesmo porque PT e PSDB não são idênticos, mas também não são tão diferentes entre si: Ideologicamente o 1º partido é de centro-esquerda e o 2º, de centro-direita. Foi aí que o discurso anti política se intensificou.
O brasileiro nunca confiou muito em seus representantes, afinal sempre escutou-se que o Brasil é um país de corruptos. Então o candidato Jair Bolsonaro se aproveitou da onda anti-política e dos medos da população, apresentando-se como candidato, mas com a imagem de “capitão”, cargo que ele deixara em 1988. A verdade é que Bolsonaro tinha entrado na política em 1989 e de 1991 a 2018 ocupou o cargo político de deputado no Rio de Janeiro. Como a propaganda, as notícias e toda boataria em torno da política já se propagava em grande parte pelas redes sociais da internet, o candidato apoiado por discursos agressivos e falsas acusações sobre seus adversários, ganhou as eleições de 2018. Foi fácil associar o medo da criminalidade com os tabus sociais, principalmente de setores conservadores e de setores religiosos da sociedade. Foi assim que teorias sem fundamento como “conspiração comunista”, “ditadura gayzista” e “direitos humanos serve para proteger bandido” ganharam apoio de significante parte destes setores da população.
Assim é possível concluir que as eleições de 2018 já não tinham mais a tal bipolaridade anterior: Era uma disputa dos conscientes contra os inconscientes. O discurso do vencedor não teve conteúdo: Foi uma série de acusações paranóicas, discursos de segregação/ ódio e ignorância sócio-histórica. Seus eleitores são pessoas fascinadas por personagens “durões”, racistas, homofóbicos ou, em grande parte, são simplesmente pessoas que não sabem da história nem das condições de seu próprio país como um todo.
Portanto, a maior parte da idéia de bipolaridade foi apoiada em notícias enviesadas a favor do enriquecimentos de grandes empresas ou em mero sensacionalismo. A maioria da população do Brasil não tem conhecimento nem discernimento para escolher duas ideologias contrárias entre si. Na verdade nem sabem que tais ideologias (já antigas) tiveram suas origens durante o iluminismo / a Revolução Francesa na Europa do século 18.