domingo, 31 de outubro de 2021

História da Psicologia e suas Bases Filosóficas

 

Há milhares de anos atrás, desde que o Homem se percebeu como um ser pensante, inserido em um complexo que chamou de Natureza, ele vem buscando respostas para suas dúvidas e fatos que comprovem e expliquem a origem, as causas e as transformações do mundo. 

Com o passar do tempo, o interesse pela conduta e pelo comportamento humano, foi aumentando e teve o desenvolvimento humano e social como pauta desde a origem. 

Mitos 

As verdades sobre a natureza humana eram narradas através dos mitos. Registros sobre os mitos devem existir ao menos desde as antigas civilizações mesopotâmicas e as primeiras dinastias egípcias - Mas considerando que em sua origem, os mitos devem ter sido transmitidos oralmente, talvez eles sejam muito mais antigos do que a escrita que foi desenvolvida por volta de 3500 a.C (em meados do 4º milênio antes de Cristo). 

Obviamente os conjuntos de mitos, conhecidos como mitologias, não eram chamados assim nas épocas em que foram utilizados e propagados nas civilizações. Estes conjuntos de contos eram essencialmente sistemas religiosos que continham divindades / seres espirituais e suas respectivas inter relações. Na maioria das mitologias, os deuses foram os criadores do mundo e/ou do universo e mantinham alguma hierarquia entre si. Além disto, as mitologias também continham simbolismos (símbolos e linguagem simbólica), práticas místicas (desde celebrações até rituais) e até alguns fatos históricos geralmente misturados com os elementos tidos como sobrenaturais ou transmitidos por narrativas fabulosas/ espetaculares. 

Nascimento da filosofia (Amizade pelo saber) 

Em busca por respostas para questões sempre crescentes numa sociedade em desenvolvimento, passou-se a adotar cada vez mais o uso da razão, questionando muitos dos antigos mitos. Através da Filosofia grega, que foi instituída no ocidente por volta do século VII a.C (7 antes de Cristo), foi-nos possível conhecer as bases e os princípios fundamentais de conceitos que conhecemos como: razão, racionalidade, ética, política, técnica, arte, física, pedagogia, cirurgia, cronologia e, principalmente o conceito de ciência. 

Entre os filósofos gregos surge a primeira tentativa de sistematizar a psicologia. 

Naturalistas ou Pré socráticos: 

Entre o final do século VII a.C e o século VI a.C (6 antes de Cristo), os filósofos helênicos (gregos) discutem a relação com o mundo através da percepção. Ao menos alguns destes filósofos tiveram contato com a cultura de outras nações: 

Anaxágoras era um filósofo "greco-persa", pois viveu parte de sua vida na Anatólia sob domínio do Império Persa Aquemênida. 

Estima-se que Pitágoras tenha viajado para o Egito e para a babilônia, pouco antes desta última cair sob domínio Persa Aquemênida. Seus ensinamentos possuem clara similaridade com elementos da cultura egípcia. 

Os questionamentos típicos destes filósofos eram: “ O mundo existe porque o homem vê ou o homem vê o mundo que já existe”. 

Socráticos - Séculos IV a.C e III a.C (4 e 3 antes de Cristo): 

O filósofo grego, Sócrates (470 - 399 a.C.), ficou famoso ao ter seus ensinamentos registrados por seu pupilo Platão. Sócrates questionava a mitologia popular grega, principalmente seus contos de violência, paixão incontida e perversidade. Apesar de questionar vários pontos do sistema religioso, Sócrates não negava a religião. 

A principal característica de seus ensinamentos é a razão (o que separa o homem dos animais) e uma busca pelo bem, ou por um bem maior, como um Deus único, não muito diferente do conceito de Nous, a mente cósmica, popularizada por Anaxágoras. 

Usando um método próprio, chamado de maiêutica (Trazer à Luz - fazer parir), que partia de perguntas feitas às pessoas, ele fazia com que elas "parissem as suas próprias ideias" sobre as coisas. Comparava a sua técnica filosófica, a qual acreditava que ajudava a existência humana à aperfeiçoar seu espírito. Para Sócrates as etapas do saber são quatro: 

Ignorar a sua própria ignorância; 

conhecer a sua Ignorância; 

Ignorar o seu saber; 

conhecer o seu saber. 

Sócrates dividia a mente (chamada de alma) em dois "níveis" e um estado intermediário: 

A mente inferior responsável pelos impulsos mais grosseiros do ser humano, como a voracidade, a violência, o desejo sexual, a incontinência... Tais características são nítidas em animais que vivem pelos impulsos básicos por exemplo: sempre buscam alimentos, disputam por parceiros sexuais para reprodução da espécie etc; 

O estágio intermediário surge quando o ser humano satisfaz seus desejos rudimentares. É um estado mais tranquilo, de repouso, onde a mente inferior eleva-se encontrando alguma paz. Porém para a mente superior este é um estado inferior, de pouco interesse, de tédio e inércia. 

A mente superior é a que está buscando o conhecimento, as belezas mais puras e as verdades, como o Bem. Também é a mente (ou porção desta) que tem o objetivo de controlar os impulsos selvagens e as atitudes nocivas, para o bem da pessoa. 

Sócrates descreveu a alma como a essência imortal, pois o que mais poderia se aproximar de destruir a mente era o vício, mas mesmo este não a destruía por completo. Sendo imortal, a alma existia em um ciclo de renascimentos, como a transmigração das almas ou a reencarnação. O objetivo então seria a alma aprender cada vez mais, eis a importância do conhecimento, da filosofia e da razão em seus ensinamentos. 

Outros temas importantes abordados por Sócrates foram as críticas aos sofistas e os estados da mente sobre determinados assuntos: A ignorância é quando a pessoa não conhece algum tema ou alguns assuntos e por qualquer motivo, não busca aprender nem entender. É a condição mais baixa da mente, pois é a que menos realizou progresso e a menos capaz de explicar fenômenos em geral; A opinião é quando a pessoa não conhece, ou tem apenas uma vaga ideia, sobre determinados temas, mas quer expressar suas interpretações. Aqui é preciso o cuidado de não expressar tal interpretação, caso isto vá prejudicar o que é bom, o que é verdadeiro e belo, pois a opinião não substituí o verdadeiro saber - o conhecimento. Os ensinamentos de Sócrates sobre a opinião fazem a ponte com suas críticas aos sofistas, pois estes pensadores eram especialistas em narrativas que se apoiavam na relativização, geralmente priorizando seu próprio bem, sem se importar com as consequências para os outros; O conhecimento é quando a pessoa estudou determinado tema, seja por experiência ou por observação, comparação e reflexão, dominando tal assunto. O verdadeiro conhecimento serve o que lhe é submisso, pois Sócrates explicava que, assim como a mente deve reger o corpo (e não o contrário), as artes e as ciências devem reger seus objetos de estudo, objetivando o bem destes, e de seus usuários. Esta é a natureza de todas as coisas, de acordo com Sócrates: O maior forte governa em prol do mais fraco, o superior rege em favor do inferior... 

Pós Sócrates, temos alguns filósofos cujas ideias são de extrema importância para que a Psicologia se destacasse. Por exemplo, Platão, Aristóteles e outros filósofos gregos preocupavam-se com muitos dos problemas que hoje cabe aos Psicólogos tentarem explicar: a memória, a aprendizagem, a percepção, a motivação, os sonhos e principalmente o comportamento anormal. 

Platão, de maneira fiel à Sócrates, punha a essência do homem na alma. A função do homem é a atividade da sua alma, que segue ou implica um princípio racional, daí sua famosa afirmação: "O homem é um ser racional". Embora Platão alegasse tudo começa no "mundo das idéias", este filósofo fazia uma explicação dualista da mente, pois a considerava de certo modo, independente e separável do corpo. 

Aristóteles argumenta que é a razão que controla os nossos atos e nela há o raciocínio a partir dos dados dos sentidos; contudo, para ele a relação sujeito-objeto era direta. 

Aristóteles definiu a diferença entre razão, sensação e percepção e escreveu o Peri Psychês, também conhecido como De Ânima, o primeiro tratado da psicologia. 

Por fim, Aristóteles modifica as explicações de Sócrates e Platão que consideravam "o mundo das ideias" como uma dimensão superior e original (ou anterior) em relação a matéria: Aristóteles considerava que praticamente tudo podia ser explicado a partir da matéria, esboçando as primeiras ideias do que viria a ser o empirismo, séculos mais tarde. 

Império Romano - Séculos IV e V (4 e 5) 

Durante a decadência do império romano, entre os séculos IV e V (354-430 d.C), Aurelius Agostinus Hipponiensis, ou Santo Agostinho, também fazia uma cisão entre corpo e alma, como Platão. A alma (psique) não era só a sede interior da razão mas tinha grande profundidade pois também era a manifestação divina de Deus no ser humano;

Idade Média - do Século VI ao XIII (6 ao 13) 

Na virada do século 10 ao 11, o polímata samânida (persa), Avicena, desenvolve o que é chamado de argumento do Homem Voador na Psicologia da Cura I, como defesa do argumento de que a alma não tem extensão quantitativa, o que tem afinidade com o argumento do cogito de Descartes (ou o que a fenomenologia designa como uma forma de "epoche"). A psicologia de Avicena exige que a conexão entre o corpo e a alma seja forte o suficiente para garantir a individuação da alma, mas fraca o suficiente para permitir sua imortalidade. 

No final do século XII, após os europeus e a igreja católica romana entrarem em contato com a proeminente cultura árabe-muçulmana (ainda que, muitas vezes, de maneira conflituosa), as obras de Aristóteles voltam a ser estudadas, dando origem à Filosofia Natural. O polímata almorávida, Averrois, fez alguns estudos em psicologia a partir da obra de Aristóteles. 

No século XIII, São Tomás de Aquino, foi buscar em Aristóteles a distinção de essência e existência. Considerava que o homem na sua essência busca a perfeição na sua existência. A busca da perfeição e da verdadeira felicidade do homem seria a busca de Deus. 

Renascimento - Século XIV, XV e XVI (14, 15 e 16) 

Chega ao fim, o sistema feudal que era predominante na Europa medieval e tinha o poder centralizado na Nobreza e no Clero, com base nas idéias de Ordem e Verdade absoluta; Com o fortalecimento dos burgueses e das companhias privadas, surge o mercantilismo, ou um "pré capitalismo": Países europeus começam as navegações e a exploração da natureza. 

O período de paz no norte da península itálica (Florença, Veneza...) e os últimos concílios da igreja católica fomentaram o avanço das artes e da filosofia. A filosofia natural vai perdendo espaço para outros movimentos como o neo platonismo e o humanismo. 

O desenvolvimento e a propagação da filosofia começa a sistematização do conhecimento científico. Copérnico, propaga a informação de que a Terra não é o centro do universo: O sol passou a ser o centro (do sistema estelar). Considera-se que a Revolução Científica foi o período entre 1543 com a publicação da "Revolução das Orbes Celestes" de Copérnico e 1687 com a publicação de "Principia" de Isaac Newton.

1620-1650 René Descartes cria o método racionalista, colaborando com a ciência: Postula a separação entre corpo e espírito de modo similar à Agostinho, mas centrou sua teoria no ato de pensar/ na racionalidade. O Corpo desprovido do espírito é apenas uma máquina. O conhecimento passou a ser tido como fruto da razão. 


 1ª Revolução Industrial e Iluminismo - Séculos XVII e XVIII (17 e 18) 

1679-1777 1ª fase da industrialização/ Revolução Industrial - Criação e uso dos motores à vapor;

Entre 1690 e 1757, filósofos britânicos como John Locke, incentivam avanço científico juntamente com o liberalismo econômico e o processo de industrialização (criação e uso de motores à vapor). Com uma proposta divergente da epistemologia de Descartes, é feita a consolidação do método empírico na ciência (filosofia natural na época); Questionando o dualismo de René Descartes, o monismo vai ganhando força como pressuposto filosófico das ciências. fomentando uma disputa entre materialismo e idealismo/mentalismo. Formula-se métodos de estudo, teorias e novos padrões de conhecimento;

1776-1789 O movimento intelectual e filosófico do iluminismo questiona o poder das aristocracias e das igrejas. Ocorrem a Independência dos EUA ante a Inglaterra e a Revolução Francesa; 

Avanço da anatomia e da fisiologia (o corpo não é mais um “objeto sagrado”); 

Começa a psiquiatria, uma especialização da medicina, com os primeiros estudos sobre "doentes mentais". 

Immanuel Kant escreve crítica à razão pura em 1781. Surge o Idealismo Transcendental, fazendo um tipo de conciliação entre o racionalismo de Descartes (mais mentalista) e o empirismo de Locke (mais materialista). De certo modo delineou a diferença entre filosofia natural e metafísica

Era Moderna - Século XIV (19) e início do Século XX (20)

O filósofo idealista, Hegel (1770-1831), demonstra a importância da história para compreensão do homem; O monismo mentalista/espiritualista ganha força "opondo-se" ao monismo materialista.

1816-1857 Augusto Conte fomenta o positivismo, buscando um suposto aumento do rigor científico; A ciência vai se tornando um sustentáculo da nova ordem econômica e social e aumenta o atrito entre conhecimento e fé. A partir daí, prega-se o aval da verdade só com ciência com questões como: "foi comprovado cientificamente?" Em 1834, o termo filósofo naturalista é substituído por cientista, inicialmente no Trinity College. Por consequência, a filosofia natural passa a ser entendida como ciência;

Bernard Bolzano cria as obras de paradoxo do infinito (1847) e doutrina da ciência (1837) trazendo uma nova compreensão da lógica aristotélica; Bolzano viria a inspirar Husserl; 

1858-1859 Darwin e Wallace apresentam a tese evolucionista "Sobre a tendência das espécies de formar variedades; e sobre a perpetuação das variedades e espécies através de meios naturais de seleção". Um ano depois, Darwin abala o antropocentrismo com a obra "Origem das Espécies" - possivelmente o materialismo reganhou uma força contra o idealismo: Esta disputa entre o monismo materialista e o idealista viria a ser criticada nas obras de Allan Kardec; 

1817-1860 Os temas da psicologia passam a ser investigados pela Fisiologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia. Surgimento da máquina como referência para o funcionamento humano; São feitos os estudos sobre funcionamento do olho e percepção (psicologia) das cores - Descoberta da neuroanatomia dos reflexos. É desenvolvida a Lei de Fechner /Weber ("a resposta ao estímulo é proporcional ao logaritmo da intensidade do estímulo"). Gustav Feschner foi o fundador da psicofísica e é considerado "pai da psicometria". Delimita-se o campo de estudo, diferenciando-se da Filosofia e da Fisiologia, passando a definir objeto de estudo (o comportamento, a vida, a consciência); 

1858-1869 Allan Kardec cria a Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos. O espiritismo, que abrangia desde estudos sobre fenômenos psicofísicos tidos como sobrenaturais, até a filosofia cristã com sutil influência socrática/ platônica, foi altamente rechaçado nos anos seguintes na Europa e na América do Norte, devido a sua base filosófica dualista (ou pluralista) e devido aos charlatães que alegavam ser espíritas;

1855-1917 Começam os estudos da psicologia científica. Primeiro Laboratório experimental (estimulação sensorial) de Wilhelm Wundt; Apesar de defender uma psicologia individual (mais fisiológica) e uma völkspsycolgie (coletiva, cultural), Wundt foi considerado introspeccionista por psicólogos posteriores.

1880-1886 O fisiologista Josef Breuer desenvolve a "cura pela fala" ou "cura catártica" em sua paciente "Anna O." Breuer influenciou Freud que viria a criar a psicanálise; 

Em 1890, William James publicou o livro Princípios de Psicologia, uma obra pioneira que combinava elementos de filosofia, fisiologia e psicologia, abordando temas diversos como o fluxo de consciência, a vontade e as emoções. Embora inclua diferentes abordagens e métodos, James (influenciado por contemporâneos como Wilhelm Wundt e Gustav T. Fechner) declarou que Princípios de Psicologia é uma obra derivada do método da introspecção. Assim, o autor funda o funcionalismo

Edmund Husserl escreve Filosofia da Aritmética (1891) e Sobre Conceito de Número (1887); Em suas obras, passa a criticar a psicologia experimental que era objetiva: Sujeitos são mutáveis diante suas condições particulares; Critica a fragilidade do empirismo que estuda sujeito passivo; só descreve o que vê externamente; Critica o positivismo que nega a subjetividade, valorizando só a verdade do conhecimento objetivo; Formula-se uma nova metodologia/ base filosófica - a Fenomenologia;

Com o desenvolvimento dos primeiros motores movidos à combustível, com as descobertas sobre eletromagnetismo, a propagação do uso da eletricidade e com a produção em massa de veículos, entre a última década do séc. 19 e as duas primeiras do séc 20, o capitalismo se intensifica com uma nova fase industrial: Prioriza-se o aumento da produção e dos lucros de empresários (Fordismo, Taylorismo etc) e o setor privado passa a incitar desejos nas pessoas (provoca "necessidades" através de propagandas), criando o hábito de consumir mais do que o costume e mais do que o básico necessário; 

Neste momento da história (na última década do século 19 até a 1ª metade do século 20), a psicologia está, de certa forma, se dividindo em várias frentes e abordagens cujo criadores (Watson, Freud, Jung entre outros) discordam entre si, sejam contemporâneos um do outro, ou não. Não se trata de uma divisão voltada para as diferentes áreas de atuação, mesmo porque esta divisão também existe na psicologia - Se trata de uma diferença de bases filosóficas, ontológicas, de bases teóricas e de abordagens em relação aos pacientes/ clientes. Entende-se que existem 3 grandes frentes da Psicologia, cada uma com variadas abordagens... E tais frentes e suas respectivas abordagens requerem um outro texto para explicá-las; 

Bases Filosóficas (das Ciências...)

A seguir, são citadas algumas pressupostos filosóficos que podem (ou não?) sustentar métodos de estudos científicos. Essas bases são "visões de mundo" relacionadas à teoria da mente, ou paradigmas, que se aproximam das áreas ontológicas (de estudo do ser) e epistemológicas (de estudo do conhecimento, ou simplesmente da "filosofia da ciência" que oferece pressupostos): 

Dualismo paralelista 

Alma e corpo representam duas espécies de realidade totalmente distintas e autônomas, independentes e ininfluenciáveis entre si. 

Uma e outra coexistem e transcorrem paralelamente, sem interações recíprocas. Sua fragilidade transparece no fato de inúmeros fenômenos clínicos e experimentais revelarem íntima relação entre fenômenos mentais e ocorrências cerebrais (posição defendida, p. ex., por Leibniz e possivelmente por Wundt). 

Dualismo epifenomenista 

O cérebro produziria ou causaria os fenômenos mentais que, por sua vez, seriam epifenômenos do cérebro, mas que não retroagiriam sobre ele. Tese defendida por Hobbes, T. H. Huxley e A. J. Ayer. A objeção a ela baseia-se na necessidade de se crer em uma mente ou espírito que se desprenderia do cérebro, passando a ter “vida” autônoma (tese espiritualista). Além disso, muitos fenômenos mentais produzem alterações funcionais e mesmo estruturais do cérebro. 

Dualismo interacionista 

Esta tese postula a possibilidade de ação recíproca e de influência mútua entre mente e processos cerebrais. É também chamada de dualismo psicofísico. Embora a alma e o corpo sejam duas realidades distintas, com certa autonomia, uma influencia a outra intimamente, havendo interação constante. Tal posição foi defendida, por exemplo, por Descartes, Herbart e possivelmente Oswald Külpe. Platão já fôra classificado como um monista espiritualista devido ao seu teor religioso e a importância dada ao "mundo das ideias", porém este autor da antiguidade clássica, assim como Allan Kardec durante a modernidade, esteve mais para um dualista interacionista. Outro detalhe, é que estes estudiosos que levam a espiritualidade/ religião em conta, podem ser considerados pluralistas. 

 Monismo materialista 

Trata-se de concepção materialista radical e absoluta. Só a matéria e o movimento são reais e eternos (filósofos do iluminismo, enciclopedistas, materialistas e positivistas do século XIX). Nada existe fora da natureza, a imaterialidade da alma é um mito. Os estados mentais são, na verdade, estados físicos. Sua fase mais marcante foi o final do século XIX (naturalismo monista): tudo se reduz à matéria, que obedece a leis naturais. A alma é puramente uma atividade fisiológica do cérebro. Uma forma de monismo materialista mais sofisticado, que também difundiu-se no século XIX, foi a chamada “teoria do duplo aspecto”. Nela se afirma que o organismo é unitário, revelando, porém, dois aspectos: um físico e outro mental, um não se reduzindo ao outro, nem sendo mais válido que o outro. Não há duas realidades, mas dois aspectos de uma só realidade (que, em última análise, é material). Alguns de seus representantes são La Mettrie, Montesquieu, Haeckel. 

Monismo eliminativo 

Nesta concepção, nada genuinamente verdadeiro pode ser chamado de “mental” ou “espiritual”. Nega-se, inclusive, a existência fatual dos fenômenos mentais. É a posição do behaviorismo radical de Skinner e Turing. Entretanto, Bunge (1989) afirma que “não nos livramos do problema da natureza da mente declarando que ela não existe, ou que não é possível estudá-la cientificamente”. 

Monismo idealista ou espiritualista 

É o oposto do monismo materialista. Trata-se de uma forma de idealismo subjetivista que indica que só a mente e/ou só o espírito é real. O essencial da realidade é a experiência interna imediata. Tudo se reduziria à experiência subjetiva ou mental do indivíduo (mentalismo). A tese acaba desembocando em um espiritualismo radical que nega a importância da matéria, o que é difícil de sustentar em estudos objetivos. Alguns de seus representantes foram Berkeley, Fichte, Hegel,Teilhard De Chardin. 

E Como a Psicologia Explica a Mente?

Depende da "frente" da psicologia, que são três: A frente comportamental (com exceção da Terapia Cognitivo Comportamental) desenvolveu-se a partir do monismo ("só a matéria existe") e do método empírico, portanto apoia-se na possibilidade de experimentar usando os 5 sentidos humanos e na possibilidade de reproduzir as experiências estudadas. A frente psicanalítica apoia-se no racionalismo, no naturalismo e em algumas teorias que serviram de base para a fenomenologia (como as de Brentano etc) e parece utilizar uma base dualista. Por fim, a frente fenomenológica é estruturada pelo método fenomenológico e por filosofias do século 19 e 20, ignorando pressupostos e deixando a questão da estrutura da mente (ontologia) aparentemente em aberto. Além disto, cada uma destas 3 frentes da psicologia tem diversas abordagens com diferenças entre si. O termo abordagem significa aproximação, trazer à bordo ou chegar na borda (do outro), portanto na psicologia o termo deveria se referir apenas à prática profissional onde, por exemplo, o terapeuta e paciente se aproximam. A abordagem não deveria necessariamente se referir à base teórica. 

Espero que este texto tenha esclarecido um pouco da relação da ciência com a filosofia... Ou que ao menos tenha explicado a proximidade da psicologia com a filosofia. 

Bibliografia (incompleta) 

ANDERY, Maria Amalia. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica . 4. ed., rev. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2014. 435 p. ISBN 8528300978 (broch.). 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed.São Paulo, Moderna, 1993. 

BOCK, Ana M.B.; Furtado, O. e Teixeira, M.L. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva. 

KLEIN, Simone. «What is objective idealism?». Philosophy Questions. Philosophos. Cópia arquivada em 16 de julho de 2011

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Artmed, 2008.